sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Triste história de um Professor





Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)

Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio.

Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”.  Para rever os conhecidos.

Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos. Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala.

Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula.

Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.

Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.

Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo! Tive que comparecer no dia 13/07/11, na 8ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'.

A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo! Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.

Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.

Fica cristalina a visão de que, neste país:

> NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES                  
> NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO

AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM

Alguns exemplos atuais:
·         Ronaldinho Gaúcho: R$ 1.400.000,00 por mês. Homenageado pela “Academia Brasileira de Letras".
·         Tiririca: R$ 36.000,00 por mês. Membro da “Comissão de Educação e Cultura do Congresso".

TRADUZINDO:
SÓ O SALÁRIO DO PALHAÇO, PAGA 30 PROFESSORES. PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É IMPORTANTE:CONTRATE O TIRIRICA PARA DAR AULAS PARA SEU FILHO.

Um funcionário da empresa Sadia (nada contra) ganha hoje o mesmo salário de um “ACT” ou um professor iniciante, levando em consideração que, para trabalhar na empresa você precisa ter só o fundamental, ou seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado?  Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00…

Moral da história:
Os professores ganham pouco, porque “só servem para nos ensinar coisas inúteis” como: ler, escrever, pensar,formar cidadãos produtivos, etc., etc., etc....

SUGESTÃO:
Mudar a grade curricular das escolas, que passariam a ter as seguintes matérias:
1.   Educação Física: Futebol;
2.   Música: Sertaneja, Pagode, Axé;
3.   História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira; Biografia dos  Heróis do Big Brother; Evolução do Pensamento das "Celebridades";
4.   História da Arte: De Carla Perez  a  Faustão;
5.   Matemática: Multiplicação fraudulenta do dinheiro de campanha;
6.   Cálculo: Percentual de Comissões e Propinas;
7.   Português e Literatura: Para quê?...
8.   Biologia, Física e Química: Excluídas por excesso de complexidade.

Está bom assim?
Eu quero mais!
ESSE É O NOSSO BRASIL

Vejam o absurdo dos salários no Rio de Janeiro (o que não é diferente do resto do Brasil)
> BOPE - R$ 2.260,00....................... para  ........  Arriscar a vida;
> Bombeiro - R$ 960,00.....................para  ........  Salvar vidas;
> Professor - R$ 728,00.....................para  ........  Preparar para a vida;
> Médico - R$ 1.260,00......................para  ........  Manter a vida;

E o Deputado Federal?
R$ 26.700,00 (fora as mordomias, gratificações, viagens internacionais, etc., etc., etc., para FERRAR com a vida de todo mundo, encher o bolso de dinheiro e ainda gratificar os seus “bajuladores” apaniguados naquela manobrinha conhecida do “por fora vazenildo”!).

Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011.

1 comentários:

Trabalho a exatamente 19 anos na educação brasileira. Resolvi ser mãe aos 35 anos quando já estava trabalhando para não ser dependente do pai dos meus filhos, depois de 5 anos com a insistência da minha filha de querer um irmão arrisquei aos 39 anos e 8 meses ter o segundo filho que qaqui a uma semana estará fazendo 15 anos.
Durante esse tempo todo só trabalhei para dar o melhor para eles. Trabalho em dois órgãos um estadual e outro municipal começo a minha jornada as 08h00 e termino as 22:00h. São exatamente 14horas de trabalho sem contar com o tempo de ida e volta. Se falar do meu salário todos vão dizer que sou uma escrava da modernidade mas é isso mesmo que sou. Não dá para pagar uma doméstica, tenho que me virar e fazer o almoço do dia seguinte depois da 23h00min ou as 05:da manhã, isso é vida de professor graduado e pós graduado no Brasil. Comparando com vida de “palhaço” é melhor ser palhaço do que ser professor.
Antonia Araújo.
Belém - PA
faaraujo@globo.com

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