sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Professor, a Moral e a Ética Profissional.




Como professor da área de humanas, tenho respondido pelas aulas de Filosofia do Programa Travessia, na Escola Professor Antônio Farias. Dentre alguns temas das tele aulas do projeto, vivenciamos dois que causaram uma saturar discussão, onde todos nós saímos renovados. Tratamos da questão da Ética e da Moral.

A principio os alunos ficaram confusos em entender o conceito de cada uma, embora tenham conhecimento das palavras e as usem de forma cotidiana. À medida que formos norteando separadamente os conceitos de cada uma e exemplificamos atitudes que clareiam as idéias, Ética e Moral foram largamente debatidas.

Para facilitar o entendimento e para que eu avaliasse com mais precisão os conhecimentos que cada um construiu sobre estes temas, solicitei que eles dessem exemplos próximos e conhecidos de atitudes de pessoas que fugiam da Moral e da Ética.

E para minha surpresa, a maioria dos exemplos era dada com base na postura de políticos e de professores. Vale considerar que a classe de políticos anda, entre o senso comum, de mal a pior, sem Moral e sem Ética. Mas, a minha classe, que é formadora de opinião, que se propõe a mudar o mundo através do conhecimento e da educação, não deveria está na lista dos profissionais que se estigmatizados como não éticos e amorais.

Fiquei pensando nos exemplos dados pelos meus alunos... Fui pra casa e continuei pensando... O que é Ética e o que é Moral, meu Deus? Eu estou sendo exemplo de Ética e de Moral para meus alunos, para meus colegas e para meus familiares? O que é ser ético? O que é ser um ser de moral?

Eu aprendi, junto com eles que a Moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural. Aprendemos também que a Ética é um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos, cujo objetivo é balizar as ações humanas.

Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

A ética ilumina a consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social. É um produto histórico-cultural e, como tal, define o que é virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada cultura e sociedade.


Refletindo sobre tais conceitos, eu descobri que os meus alunos não estavam enganados, não estavam exagerando, não estavam sendo injustos ao citar tantos professores como exemplos de profissionais sem ética e sem moral. E isto porque não estavam todos os alunos presentes no dia deste debate.


Todos nós sabemos que a "Declaração Universal dos Direitos Humanos", pela ONU (1948), é uma demonstração de o quanto a ética é necessária e importante. Mas a ética não basta como teoria, nem como princípios gerais acordados pelas nações, povos, religiões, classes ou grupos.

É preciso que cada cidadão e cidadã incorporem esses princípios como uma atitude prática diante da vida cotidiana, de modo a pautar por eles seu comportamento. Isso traz uma conseqüência inevitável: freqüentemente o exercício pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente, que, aliás, está sujeita a constantes degenerações.


Eu tive que admitir para mim mesmo que os exemplos dados pelos alunos são pautados em fatos que geram desigualdades crescentes, geram injustiças, rompem laços de solidariedade, reduzem ou extinguem direitos, lançam populações inteiras a condições de vida cada vez mais indignas, onde os primeiros atingidos somos nós mesmos.

Fica claro que não podemos falar de ética sem falar de convivências humanas. Eu não tenho certeza de quantos somos que temos consciência de que o princípio fundamental que constitui a ética é: o outro é um sujeito de direitos e sua vida deve ser digna tanto quanto a minha deve ser.

As profissões (médicos, advogados, biólogos, engenheiros, professores, dentre outras) seguem uma espécie de caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos, os quais reconhecem os direitos e deveres nas convivências humanas e profissionais. No entanto, mesmo com este rigor legal, ainda sofremos com profissionais que insistem em colocar a sua conduta imoral acima da ética profissional.

E na minha profissão ainda há colegas que não absorveram a ética como instrumento que ilumina a consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social. E quando se trata de Educação, essa consciência deveria ser muito mais apurada entre os professores, porque lidamos com vidas em formação, porque lidamos com seres humanos dependentes de nós, do nosso trabalho, porque proporcionamos a construção cidadã em cada aluno.

E a cidadania é um processo que começou nos primórdios da humanidade, não é algo pronto, acabado. A cidadania se efetiva num processo de conhecimento e conquista dos direitos humanos, independente de cor, raça, credo, opção sexual ou nacionalidade.

É preciso que nós, professores, tenhamos claro que Ética, enquanto filosofia e consciência moral, é essencial à vida em todos os seus aspectos, seja pessoais, familiares, sociais ou profissionais, para que a sua prática pedagógica não amplie as fileiras da hipocrisia que vemos mais explicitamente nos partidos políticos.

Eu sou a favor de uma lei, a nível nacional, que regulamentasse um código de Ética e Moral entre os profissionais da Educação, fossem eles Serventes, Merendeiros, Professores, Gestores, Coordenadores, Supervisores e, principalmente, Adjuntos e Secretários de Educação.

Não obstante os deveres de um profissional da Educação, os quais são obrigatórios, devem ser levadas em conta às qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão.

No meio dos nossos debates em sala de aula, uma aluna me questionou:

- Professor, porque “fulano” que fala errado, que é mal caráter, que não tem ética nem moral pra exercer a função, consegue se manter no cargo, enquanto o senhor, que pra mim é um excelente profissional, fica aqui sem ser reconhecido?

Eu poderia respondê-la de diversas formas, com centenas de exemplos bem próximos. Mas preferi não polemizar, contrariando um instinto pessoal. Apenas disse que infelizmente, vivemos num país onde o “QI” não significa “Quociente de Inteligência”. O mar de lama que vive mergulhado o mundo democrático nos permite viver essas coisas.

E as conseqüências na Educação, principalmente, todos nós sabemos. Desrespeito aos direitos de cada cidadão, de cada profissional! Despreparo da maioria dos profissionais que se vendem! Fraude em todos os setores públicos!

O consultor dinamarquês Clauss MOLLER fez uma associação entre as virtudes lealdade, responsabilidade e iniciativa como fundamentais para a formação de recursos humanos.

Segundo Clauss Moller o futuro de uma carreira depende dessas virtudes:

“O senso de responsabilidade é o elemento fundamental da empregabilidade. Sem responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade, nem espírito de iniciativa [...]. Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses da equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização [...]. A consciência de que se possui uma influência real constitui uma experiência pessoal muito importante”.

Moller ainda afirma que:

“É algo que fortalece a auto-estima de cada pessoa. Só pessoas que tenham auto-estima e um sentimento de poder próprio são capazes de assumir responsabilidade. Elas sentem um sentido na vida, alcançando metas sobre as quais concordam previamente e pelas quais assumiram responsabilidade real, de maneira consciente. As pessoas que optam por não assumir responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em suas vidas. Seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de outras pessoas - chefes e pares [...]. Pessoas desse tipo jamais serão boas integrantes de equipes”.

Infelizmente percebo que entre as três virtudes defendidas por Clauss Moller, uma delas está cada vez mais distante da realidade profissional dos Educadores. Sem medo de está generalizando, eu percebo que a Lealdade no sentido coletivo está longe de ser uma qualidade presente na vida dos professores.

Muitas acreditam que ser Leal é ser puxa saco do ilustre fulano. Lealdade não quer dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou organização à qual você quer ser fiel quer que você faça. Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas as manter dentro do âmbito da organização. Significa agir com a convicção de que seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você acha que poderá prejudicar a organização, a equipe de funcionários.

No Reino Unido, por exemplo, essa idéia é expressa pelo termo "Oposição Leal a Sua Majestade". Em outras palavras, é perfeitamente possível ser leal a Sua Majestade - e, mesmo assim, fazer parte da oposição. Do mesmo modo, é possível ser leal a uma organização ou a uma equipe mesmo que você discorde dos métodos usados para se alcançar determinados objetivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente.

Sendo um tanto ousado, gostaria de acrescentar mais algumas virtudes, qualidades que consideramos importantes no exercício de minha profissão, especialmente. São muitas as qualidades de um bom profissional de qualquer área. Mas, sem quaisquer comentários, cito as seguintes: Honestidade – Sigilo – Competência – Prudência – Coragem – Perseverança – Compreensão – Humildade – Imparcialidade e o Otimismo.

Muitos são os deveres que um profissional possui em relação aos seus colegas. Dentre todos, um dos que mais se torna importante, para o fortalecimento de uma comunidade, encontra-se aquele dever ético da ajuda. O ajudar envolve um complexo de atitudes. Exclui, apenas, a conivência no vicio, no erro, na fraude.

Isto não significa, todavia, que se deva abandonar ou condenar definitivamente um colega porque ele cometeu enganos. Todos podemos cometer erros e é natural que os cometamos em situações de inexperiência, falta de orientação, educação insuficiente, más companhias, circunstâncias adversas, fortes desilusões, depressões mentais, problemas de saúde, em suma muitos fatores adversos podem conduzir ao rompimento com a virtude.

Ninguém deve auto julgar-se absolutamente perfeito e todos estamos sujeitos a enganos maiores ou menores. A ajuda, portanto, inclui essa especial assistência nossa ao colega para que possa reconduzir-se ao caminho do bem, para que possa retornar a virtude ou até absorver exemplos que em verdade não tinha ainda sido despertado para eles.

Tem ser tornado normal que o ser humano possa ser vítima, e de fato o é, da inveja, da calúnia, da perseguição pertinaz, da traição, em suma de vícios de terceiros que nos atingem e que para combatê-los outros venham a ser praticados, como o de igualar-se ao malfeitor.

Partindo do principio que o semelhante com o semelhante se cura (como é o caso de injetar-se no corpo o veneno de ofídios, ou seja, as vacinas, quando a pessoa é por eles atingida) muitos outros erros se acumulam quando se revida com a prática do mau.

O referido princípio que tão bem se aplica ao corpo deixa de aplicar-se aos domínios da ética, no caso enfocado, pois, ninguém se ajuda sem ajudar o seu semelhante. E me parece que eu tenho, de modo pessoal, viver ao lado de tantas pessoas que tendem a de defender, em primeiro lugar, seus interesses próprios, que infelizmente são interesses de natureza pouco recomendável.

Tais pessoas possuem um valor ético do esforço humano é variável em função de seu alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda ou status, em geral, tem seu valor restrito.


Por outro lado, eu ainda acredito que temos muitos profissionais que realizam seus serviços com amor, visando o benefício da coletividade, da classe e até de terceiros, dentro de um vasto raio de ação, com consciência do bem comum, passa a existir a expressão social do mesmo.

Tais professores sabem que a ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a natureza e o fim de todo ser humano, por isso, "o agir" da pessoa humana está condicionado a duas premissas consideradas básicas pela Ética: "o que é" o homem e "para que vive" o homem.

Quando descobrimos o que nós realmente somos, porque e para que vivemos neste mundo da Educação, logo perceberemos que estamos em conexão com todos os princípios morais e éticos essenciais para a prática social, educativa e política, além de vislumbramos uma filosofia transcendente que nos leva a entender para onde nós vamos quando escolhemos a Ética e a Moral como regentes de nossas vidas.

Professores, Caros colegas:

Sejamos éticos em tudo o que fizermos.
Sejamos Moralmente reconhecidos por tudo que acreditamos.

5 comentários:

Oi!
Gostei. Convivo num lugar onde a ética é de extrema necessidade, vai além da moral que aprendemos como pessoa. E bem sei que existe gente sem nenhuma noção de ética e moral, principalmente, profissionalmente.
Beijos
Lua

Parabéns pela abordagem, sem preconceitos e sem a discriminação tão comum nos debates que são mantidos. Cumpramos com nossa missão e tranformemos este mundo pelo que temos em nossas mãos, mentes e coração.

Muito bom.. Foi um otimo site para meu trabalho..aprendi muito e sei que através dele vou ensinar muitas pessoas!!! @@

Anjos; E.C; Elaine

È um tema extremamente importante,e q/ precisa ser desenvolvido ao
longo da vida acadêmica dos alunos.

Parabéns!!

Ética, dignidade, moral...hoje, são conceitos que estão se perdendo, mas pessoas como você, como eu, como muitas outras que são dessa nossa bela profissão, que ainda acreditam na Educação não podem deixar que isso aconteça...

Estou divulgando teu blog, porque acredito que ele pode transformar muitas mentes!!

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