quinta-feira, 25 de junho de 2009

O valor do diploma



Os resultados preliminares do Censo Escolar 2004 derrubam por terra a expectativa do aumento das matrículas no ensino médio, como conseqüência do crescimento do ensino fundamental registrado na década de 90.
Os dados, recém-divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), revelam uma forte queda no ritmo de crescimento, que apenas atingiu a casa do 1%, contra a expansão de 4,1% comemorada em 2003. Especialistas creditam boa parte dessa redução ao fato de que um maior número de jovens está optando pelo ensino técnico, por seu caráter profissionalizante (aumento de 14,5%).
Ou até mesmo pela Educação de Jovens e Adultos, o antigo supletivo (salto de 4,4 milhões para 4,6 milhões de matrículas), que possibilita a formatura em apenas um ano, ao contrário dos três exigidos pelo ensino médio regular.
Os mesmos especialistas concluem que a raiz da opção por cursos mais rápidos está na baixa renda de boa parte dos jovens, em especial os da rede pública, que precisam abandonar os estudos para trabalhar e ajudar na sobrevivência da família. Ou seja, muitos deixam de lado o sonho de entrar para a faculdade, só porque não têm condições de pagar as despesas escolares do ensino médio e dos cursinhos.
A situação dramática de milhares de jovens de 16 a 18 anos é confirmada por uma pesquisa: quatro em cada dez estagiários do CIEE confessam que usam a bolsa-auxílio para pagar os estudos ou ajudar no orçamento familiar.
Esses números ganham maior relevância quando comparados a um outro dado. Dos 84 mil estudantes do ensino médio cadastrados no banco de dados do CIEE/SP, à espera de uma vaga de estágio, 89% pertencem a famílias com renda de até 400 reais .
São jovens, em sua maioria, com idade entre 16 e 18 anos, faixa que concentra o mais alto percentual de desempregados. Além disso, nunca é demais lembrar que, nesse grupo, a escalada da violência, o aliciamento pelo crime organizado, o consumo de drogas e a prática sexual sem os devidos cuidados são problemas que acompanham e agravam a situação dos jovens, principalmente nas periferias das grandes cidades.É esse cenário sombrio, marcado pela falta de perspectiva mas pontilhado pelos expectativas dos jovens ainda capazes de sonhar com um futuro melhor, que estimula o CIEE a insistir na luta para assegurar que se reconheça o direito constitucional do estágio para os alunos do ensino médio.
Essa oportunidade, além de garantir uma remuneração mensal para a conclusão de seu curso regular, ainda é um eficiente passaporte para a conquista do primeiro emprego. Aliás, com uma dupla vantagem: garante ao futuro profissional uma inestimável experiência prática anterior e até um salário melhor. Estudos da Fundação Getúlio Vargas/RJ indicam que cada série completada corresponde a um acréscimo de 16% no salário do trabalhador.
Para se ter uma idéia prática, o estudo lembra que, admitindo uma renda média do trabalho de uma pessoa sem nenhum estudo seja de 38 reais, a de quem concluiu a universidade chegará a 2.200 reais. Diante desses números, não resta dúvida de que o melhor investimento é o estudo, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.
E, nesse cenário, o estágio deve ser valorizado e estimulado pela contribuição que poderá dar para que milhões de jovens tenham uma vida melhor daqui a poucos anos. E que o país venha a conviver, finalmente, com uma distribuição de renda menos vergonhosa.


Luiz Gonzaga Bertelli é presidente-executivo do CIEE, diretor da Fiesp/Ciesp e presidente da Academia Paulista de História.


Fonte: Diário de S.Paulo.

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