Por: Luiz Felipe Pondé*
Os neandertais contra a publicidade infantil concordariam com uma ideia boba como essa
* Luiz Felipe Pondé (1959) é um filósofo e ensaísta brasileiro. O seu livro “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (2012) é um dos mais vendidos, segundo a lista da Revista Veja.
Os neandertais contra a publicidade infantil concordariam com uma ideia boba como essa
Diante da questão de
Hamlet, "ser ou não ser, eis a questão", a resposta talvez seja
"não ser". Deprimir-se ou resistir?
Dias assim, melhor
dormir. Mas, como a vida continua, insistimos. Um tratado de "Crítica da
Razão Deprimida" deveria começar pela descrença na democracia.
Como crer na
democracia quando sabemos que a popularidade de nossa presidente é alta? Se o
pastor Feliciano não tem o perfil para o cargo, tampouco ela o tem. Lembramos
então do que dizia o líder inglês durante a Segunda Guerra, Winston Churchill:
"Quando falo com os eleitores, duvido da democracia".
Por quê? Como "o
povo" pode continuar crendo na economia quando ela já dá sinais de queda
há algum tempo?
Claro, quem entre
aqueles que vivem graças a bolsas famílias pode entender que uma mentalidade
entre o varguismo e o comunismo (como a da nossa presidente e a do restante do
PT, que continua na sua marcha para transformar o país num país comunista) não
pode fazer nada pela economia do país? E, mais, que, se a economia vai para o
saco, as bolsas também vão?
Claro, o problema é
que na democracia dependemos da maioria, e esta é quase sempre estúpida. Sei
que muitos não concordam com essa ideia e, mais do que isso, entendem que há
algo de "sagrado" na sabedoria do povo.
Mas, sei também que
quem afirma isso, conhecendo um pouco de história, o faz por má-fé, ou
simplesmente, por mais má-fé ainda. Temo que esteja sendo redundante, mas a
redundância é uma vantagem evolutiva em meio às obviedades contemporâneas.
Outra coisa que me
faz suspeitar de que os deprimidos têm razão me ocorre quando ouvimos gente
supostamente inteligente falar coisas como "a comunidade internacional
decidiu X". O que vem a ser isso mesmo? Onde ela se encontra? Na ONU? Esta
estatal internacional mais corrupta do que a república da banana? A ONU é uma
mistura de circo com mensalão. Um cabide de emprego para países de Terceiro
Mundo.
Como crer em quem crê
numa "comunidade internacional"? A "comunidade
internacional" só funciona quando tem interesses comerciais em jogo. E
olhe lá.
Qualquer decisão da
"comunidade internacional" no âmbito moral (como, por exemplo, a
partir de hoje estão proibidas a fome, a tortura, a violência contra os mais
fracos) é tão séria quanto a declaração de que Papai Noel deve existir porque,
do contrário, estamos indo contra o direito à fantasia infantil.
Imagino que os Neandertais
que são contrários à publicidade infantil concordariam com uma ideia boba como
essa.
Mas, é claro, toda
vez que alguém diz acreditar na "comunidade internacional" não o faz
por ingenuidade, mas, sim, porque este alguém ganha algo com isso, mesmo que
seja apenas fama de bonzinho.
E a decisão britânica
de criar um órgão do governo para censurar a mídia? Claro, dirão os mesmos que
acreditam na "comunidade internacional" que a mídia deve ser
"impedida" de circular ideias preconceituosas e ideologicamente
perversas.
O caso britânico
-resultado da baixaria de alguns "funcionários excessivos"
determinados de um jornal específico- não justifica a criação deste órgão
fascista para controlar a mídia.
Deduzir a necessidade
de controle da mídia do fato de alguns jornalistas terem colocado escutas na
vida de cidadãos é como decidir colocar câmeras em todas as salas de aula
porque existe risco de abusos por parte de professores e alunos.
O grande erro
histórico foi não perceber que a vocação fascista não era um traço só de
Mussolini e Hitler, mas sim de todas as propostas de que a política e a
educação sejam irmãs gêmeas, ou, dito de outra forma, de que a "política
deva fazer moral".
Esta ideia é típica
da tradição política contemporânea baseada na premissa de que a política deve
"construir um homem melhor". Neste sentido, a esquerda é
absolutamente fascista e, como ela venceu na cultura, na educação e nas
ciências humanas como um todo, não há esperanças.
É impressionante como
"os bonzinhos" de uns dias para cá foram tomados por um amor meloso
pelas suas empregadas domésticas. Seria isso uma forma de atestar pureza racial
(desculpe, moral) para a burocracia fascista de nossos dias?
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