Impressões e Avaliações.
Caros amigos, professores, camaradas do ideal educacional do município:
Não poderia me omitir de deixar as minhas impressões acerca do que foi
o Fórum Municipal de Educação, assim como fiz uma análise pessoal da COMUDE
2009 - CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. E aqui, assim como no texto escrito
em 2009, não há nenhum traço de “partidarismo” ou “personalismo”, tampouco “crítica
pessoal” contra nenhum sujeito envolvido na articulação do evento. Sinto-me a
vontade de escrever porque busquei estudar, analisar e colaborar com as questões
envolvidas no evento a partir do que entendo sobre educação.
Bom que se diga, também, que a Secretaria Municipal de Educação,
através da professora Francisca Nogueira, articulou um evento que primasse pela
participação democrática de todos os entes interessados e integrados com a
causa da Educação, o que não aconteceu em 2009, quando eu, Professor do Município,
só participei do evento porque foi representando a ONG Gravatá Cidadã.
Na ocasião, defendíamos a premissa da Gestão Democrática garantida por
lei, mas, desrespeitada por todos os políticos e seus cônjuges afiliados. Num
universo de 40 delegados, apenas eu, Professora Sunamita Oliveira, Professor
Ronaldo Assis e o Professor Lenilson Lima usamos o microfone pra defendermos a
ideia da “Eleição Direta para Diretor” para o sistema municipal de ensino.
Não precisa dizer que fomos votos vencidos. Quatro anos se passaram a
questão veio à tona novamente. E assim como na primeira oportunidade, não
passou. E o pior: a questão sequer foi conferida o destaque necessário. Além
desse ponto em comum, entre COMUDE 2009 e o FÓRUM DE EDUCAÇÃO 2013, a famosa
articulação (manobra) de manter Diretores e Supervisores numa sala única,
apartados dos professores e servidores, me parece não ser sinal de uma abertura
verdadeira para a democracia, para a gestão articulada e politicamente imparcial,
o que fere os princípios da Legislação.
Estamos muito longe de vivermos VERDADEIRAMENTE uma Educação baseada
na Democracia. Senão, vejamos:
Segundo estudo feito pela Secretaria de Educação Básica (SEB), apenas 57%
dos municípios fizeram o seu Plano Municipal de Educação (PME). Nesse sentido,
nossa cidade está de parabéns por ter realizado (aos trancos e barrancos) o seu
plano. Porém, outro dado assusta muito mais. Dos 3.204 municípios que construíram
o seu PME, a maioria esmagadora o fez de forma nada democrática, apelando para
consultorias técnicas, ou seja, sem a garantia da ampla participação da
sociedade civil organizada, sem a presença dos trabalhadores da Educação, sem a
participação das Câmaras de Vereadores.
E mais: Um estudo feito pelo MEC, no último dia 4 de setembro, revela
que apenas 553 Secretarias Municipais de Educação declaram ter um PME “aprovado
com respostas válidas”. Os dados demonstram ainda que a existência de um
conselho municipal da área não implica, necessariamente, na construção
democrática de um PME, já que 1.383 municípios afirmaram ter Conselhos
Municipais de Educação “com respostas válidas”.
Onde existe o PME, não existe uma equipe de acompanhamento e
avaliação, ou seja, não há dispositivos que certifiquem o cumprimento do que se
foi sistematizado. Mais grave ainda é quando NÓS, professores, temos essa
chance de garantir esse cumprimento e abrimos mão do mesmo. O que isso quer
dizer? O que isso tem a ver com a gente, professor de Gravatá?
Bem, parece que nada! Isto porque ao contrário do que eu esperava, uma
parte dos meus colegas de sala, estavam apenas preocupados com o horário de ir
embora; outros apenas aproveitavam pra se confraternizar; outros omitiam-se em
questionar; outros falavam bobagens do tipo “resultados do IDEB não deve ser
apresentados para os alunos” e outros, como eu, silenciavam na agonia da
decepção, na angústia de ser voto vencido ou na irritabilidade de ver a
coordenadora da sala parar diversas vezes pra pedir silêncio... Portanto, em
nada esses dados nos tocam!
O que vejo é que os dispositivos facilitadores da gestão democrática
nas escolas do município estão enfraquecidos, como em outros cantos do país,
justamente porque ninguém leva a sério a vida educacional do Brasil, a começar
por nós mesmos. Observem os Projetos Pedagógicos que nós temos nas escolas. São,
na verdade, cópias baseadas em dados e informações externos, feitos por
sujeitos que nada conhecem a realidade escolar. O que para mim é uma
arbitrariedade.
A escolha da direção escolar também acontece de forma arbitrária. Assim
como usei o microfone em 2009, para recordar que estamos falando de Lei
Federal, aqui recordo o texto:
A gestão democrática do ensino público brasileiro é regulamentada por
intermédio da Lei n. 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação,
no art. 3°, inciso VIII. Seu art. 15
também sugere que os sistemas de ensino devem assegurar progressivos graus de
autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira às unidades
escolares públicas de educação básica que os integram. Dessa forma, percebe-se
a valorização da autonomia administrativa das unidades escolares e o estímulo
às vivências de gestão democrática em seu cotidiano.
Mas, para a maioria dos meus colegas, isso não passa de utopia. Mas, não
sabe essa maioria é que quando inferimos que “pode” haver uma relação entre a insuficiência
das instancias facilitadoras da gestão democrática e os últimos resultados do
IDEB (que só culpam o trabalho do professor) em nosso e em outros municípios, o
que permite estabelecer uma lógica entre os elementos da gestão democrática e a
qualidade da educação.
Falamos de leis o tempo todo e não as cumprimos como deveria ser. É a
tal coisa: “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda
em mim”. Democracia refere-se à “forma de governo” ou a “governo da maioria”;
então, torna-se claro, que as relações cotidianas no âmbito escolar, deveriam
explicitar esta linha de ação, porém sabendo-se que toda gestão, pressupõe uma
AÇÃO e a palavra ação é justamente o oposto da inércia, do comodismo, fica mais
fácil deixar como está.
No entanto, o Fórum Municipal de Educação também buscava tratar do Plano
de Ações Articuladas, o famoso PAR, e não vi ninguém questionar o que é o PAR,
qual a importância do mesmo para o município e qual era a relação entre o Plano
Municipal de Educação e o PAR. A Secretária de Educação deu uma pequena
pincelada sobre a relação dos dois documentos, mas, na sua fala demonstrava pressupor
que todos os presentes conhecem os mecanismos políticos e administrativos dos
mesmos, o que não é verdade.
Muitos colegas me perguntaram o que é o PAR, o que é LDO e o que é
PLANO PLURIANUAL. Para alguns, isso não é obrigação do professor saber. Esse é
um grande erro, um erro imperdoável porque nós exigimos bons salários, boas
condições de trabalho, reforma política, mas nos omitimos de construir
documentos que garantam tudo isso. Abrimos mão, muitas vezes, de aprimorar
questões que envolvem o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) por consideramos que nossa
obrigação política como cidadão é apenas de votar. Assim como os políticos não estão
nem aí pra educação, nós também cometemos os mesmos erros, abrindo mão de
colaborar e construir, para depois votar e exigir.
Assim, não entendemos que para os Municípios, este é um momento
particularmente importante, pois será o ano da elaboração do efetivo
planejamento da atual gestão municipal, que deve estar definido no Plano
Plurianual (PPA).
A integração entre o PPA, a LDO e a LOA é um valioso instrumento para
a gestão dos atuais prefeitos, pois difunde as políticas municipais e garante a
informação sobre a origem das receitas e sua destinação, o que será avaliado
pelos Poderes Legislativos locais e pela população em geral.
O PAR, que foi criado em 2007, funciona como um check-up médico da
educação: problemas são identificados e as medidas tomadas. O Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), apresentado pelo Ministério da Educação em
abril de 2007, colocou à disposição dos estados, municípios e Distrito Federal,
instrumentos eficazes de avaliação e de implementação de políticas de melhoria
da qualidade da educação, sobretudo da educação básica pública.
A partir da adesão ao Plano de Metas, os estados, os municípios e o
Distrito Federal passaram à elaboração de seus respectivos Planos de Ações
Articuladas (PAR). A partir de 2011, os entes federados poderão fazer um novo
diagnóstico da situação educacional local e elaborar o planejamento para uma
nova etapa (2011 a 2014), com base no IDEB dos últimos anos (2005, 2007 e
2009).
Como podemos colaborar, ou afirmar que participamos ativamente do
processo de construção de um Plano Municipal de Educação se nós desconhecemos
os documentos básicos, os instrumentos legais e se desconsideramos a importância
dos mesmos? O MEC orienta que a participação do Poder Executivo, do Poder Legislativo,
do Ministério Público e da Sociedade Civil Organizada é indispensável, a
responsabilidade maior é de cada professor, porque somos nós que viveremos por
décadas dentro do espaço escolar.
Nesse sentido, me deixou triste, decepcionado e irritado como
aconteceu o Fórum Municipal de Educação. Não vi nenhum Vereador presente; não
vi nenhum representante do judiciário; não vi nenhuma entidade não
governamental participando ativamente do processo de construção do nosso PME,
obedecendo às orientações articuladas entre PPA e o PAR. Isso não quer dizer
que estas entidades não tenham sido convocadas, claro. Mas, independentes deles
não darem a devida importância ao processo de formação de uma Educação mais
soberana, igualitária, justa e democrática, NÓS professores – repito - temos
(tínhamos) o dever moral de exigir mais de nós mesmos e efetivamente colaborar
na construção de um plano que não seja mais uma cópia ou documento que
engolimos, de cima para baixo, sem sequer avaliarmos.
Talvez eu deva entender que tudo isso é uma marca da nossa cultura de
abrir mão das nossas obrigações e bradar o que nos é de direito. Pronto? Acabou?
Não posso aceitar esse simplismo. Por isso, ao chegar em casa, depois de um dia
inteiro de Fórum, eu escrevi no facebook: “Como eu queria ter inteligência para
passar numa prova da Petrobrás e nunca mais saber de Educação”. Ao contrário do
que se pensa, não estou maldizendo a minha profissão, mas, simplesmente,
expressando a minha revolta diante da indiferença generalizada. Infelizmente,
aceitamos o sutil poder desmobilizador que nos encontramos mergulhados.
Quando a professora Maía informou das divisões de grupos, a minha
esperança foi por água abaixo. Todos os diretores e supervisores juntos para
que seja “garantida” a aprovação de um plano que, na prática, iria ser
construído por todos. Quando chego ao meu grupo, percebo que tudo está perdido
porque poucos ali estavam interessados em prestar atenção nas mudanças que
permeiam a nossa vida.
É claro que há coisas que não entendemos. Por exemplo: Se o tempo de vigência
do PPA não deve coincidir com o tempo de mandato do Poder Executivo, como
garantir que tanto a LDO e como a LOA terão seus planejamentos financeiros
garantidos? Diz a lei que essa não-coincidência entre a vigência do PPA e o
mandato do chefe do Poder Executivo acontece para que não ocorra
descontinuidade de programas governamentais na transição de um governo a outro.
Será?
Um grande passo com relação à Educação e a responsabilidade dos
Poderes Executivos refere-se ao projeto de lei 7420/06, da ex-deputada Raquel
Teixeira, que determina que cada rede e sistema de educação básica do país
obedeçam a critérios definidos de qualidade e que os gestores públicos sejam
responsabilizados. É a famosa Lei de Responsabilidade Educacional, que depende
de uma ampla consulta pública.
Quem sabe as exigências em cima das nossas cabeças diminuam e o Poder
Executivo entenda, definitivamente, que só existirão bons resultados se a
responsabilidade de Educar seja compartilhada entre todos os envolvidos, desde
o faxineiro até o prefeito e não apenas do professor em sala de aula, bem como
a efetiva participação da família na formação do alunado.
Como consequência dessa Lei de Responsabilidade Educacional, também, é
necessário lembrar e torcer para que o sistema público de educação volte a ser
melhor que o sistema privado. É uma vergonha para um país democrático ter
permitir que a concorrência entre estes sistemas seja injusta, incoerente com
aquilo que temos em lei. Infelizmente, no Brasil, acontece assim: o governo
democratiza e consequentemente, abre a concorrência imoral entre o público e o
privado.
Nesse sentido, vale a pena lembrar dois exemplos: França e Coreia do
Sul.
Na França é inadmissível que a escola privada seja melhor que a
pública. Um presidente da república jamais seria eleito se a sua politica de
governo permitisse acontecer o que aconteceu aqui no Brasil. No decorrer do
século XIX, tanto na França como em boa parte dos países europeus, devido às
pressões das massas e a necessidade da modernização tecnológica, instituíram-se
sistemas educacionais que garantiram instrução a todos os cidadãos.
Coreia do Sul é um dos melhores exemplos de um país que mudou sua vida
a partir dos investimentos feitos na Educação. Há 40 anos, todos os indicadores
sociais da Coreia eram inferiores aos do Brasil. Todos. Hoje, tem um dos
melhores índices educacionais do mundo. E aí, entra-se na questão da
administração municipal.
A Constituição de 1988 deu aos municípios prerrogativas importantes. Até
então tudo era centralizado nas decisões em Brasília. A nova carta
descentralizou o poder e criou três entes federativos independentes: a União,
os Estados e os Municípios. O problema é que essa divisão de deveres e direitos
não foi justa, portanto, democracia incompleta.
A União continuou com as maiores arrecadações, com os maiores
benefícios. Enquanto que os outros dois permaneceram com percentuais muito
menores e, consequentemente, com benefícios bem menores. A União não deu aos municípios
condições de se equipararem tecnicamente. Assim, os municípios não conseguem
responder às exigências legais impostas pelo ente maior. Uma destas exigências é
a Educação de qualidade, a ponto de o Senador Cristovam Buarque defender a
federalização das escolas, seguindo modelo do Banco do Brasil.
Resumidamente: a União manda, mas não dá condições de os municípios
executarem. Toda cidade, por exemplo, acima de 20 mil habitantes tem obrigação de
ter o Plano Diretor. Se não tiver, o prefeito pode sofrer sanções. No entanto,
o governo federal não oferece condições técnicas e financeiras para que esse
plano seja realizado na prática e não seja apenas um documento legal de
enfeite, como na maioria dos casos.
Na educação também acontece assim. Muitas leis, muitas diretrizes,
muitas exigências legais, mas, nada de uma efetiva mudança financeira e técnica
na vida dos professores brasileiros, que trabalham nos níveis básico e médio. Nós
estamos no século XXI com serviços públicos do século XIX. Exemplo?
Recentemente o Deputado Federal do PSB, Gonzaga Patriota, declarou ser
a favor do transporte de alunos através dos paus de arara, no município de
Serra Talhada, em uma entrevista numa rádio local. O Deputado condenou a ação
da Polícia Rodoviária Federal que multava os veículos que desobedeciam à
legislação de trânsito que proíbe o transporte de pessoas nesses veículos.
Uma amiga pesquisadora de São Paulo, Professora Doutora em Educação
pela USP, Dora Incontri, contou-nos recentemente que foi convidada a participar
de um evento sobre Educação e Espiritualidade no Senado Federal. Não havia
nenhum político presente. Meia dúzia de professores ligados a entidades
preenchiam o imenso auditório do plenário. Um dos coordenadores do comitê de
educação do Senado teve a coragem de enviar uma carta solidarizando-se com a
causa da educação, via assessor parlamentar.
Nem o exemplo do Deputado do PSB, nem o exemplo do Senado Federal me
surpreendem e me deixam triste. O que me entristece é a inércia que os
trabalhadores da educação estão mergulhados, em todos os níveis. O silêncio é
generalizado. Parece que vivemos num sistema lindo, justo, igualitário, sem
assédios morais, sem problemas graves de violência nas escolas, indisciplina e
enfraquecimento das relações família-escola.
O mundo moderno, com seus novos desafios, coloca a educação como
prioridade para qualquer país, exige uma escola de qualidade para todos. O
mundo se transforma, traz mudanças radicais, revoluções marcantes em vários
setores, e só se pode enfrentá-lo apoiado no conhecimento.
Quando isso irá acontecer?
Bem, se continuarmos colocando nas mãos dos gestores e políticos; enquanto
não nos valorizarmos enquanto pessoa e profissional; enquanto não formos uma
classe com corporativismo necessário; enquanto a democracia estiver sendo
ameaçada por nossa própria inércia; enquanto os salários apenas sejam para
pagar contas e mais contas apenas, podem se preparar porque nenhuma mudança irá
existir, nem por trâmites legais como o CONAE, COMUDE, FÓRUM DE EDUCAÇÃO, etc..
Prefeito Ozano Brito, Abertura do COMUDE, 2009. |
Prof. Ricardo Vieira, ladeado por Kelia Cruz e Vasconcelos. Fórum de Educação, 2013. |
Secretária Francisca Nogueira, Fórum de Educação, Setembro de 2013. |
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