segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

“O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, MAS O SILÊNCIO DOS BONS”


Jornalista Reinaldo Azevedo, revista VEJA

Atribui-se a Martin Luther King uma frase de valor inquestionável: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. É exata! É sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados. Um texto do pastor Niemöller, que cometeu o equívoco de ser simpatizante do nazismo no começo do movimento — e veio a se tornar seu adversário radical, tanto que foi parar num campo de concentração —, expressa esse mesmo valor. É muito citado, mas, com certa freqüência, atribui-se a autoria a Maiakovski ou a Brecht.

“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”

Quando os bons se calam, os maus triunfam. Está em curso, vocês já devem ter reparado, uma operação coordenada para destruir a imagem de José Serra. Admire-se ou não o político — sim, estou entre os admiradores e jamais omiti isso —, o fato é que se trata de um dos homens públicos mais preparados do Brasil. Buscam atingi-lo em sua honra pessoal — e a campanha eleitoral demonstrou até que ponto eles podem chegar — e política. Os movimentos podem até ser distintos, mas se conjugam.

Há os que se espojam na lama dos chiqueiros, e, sobre estes, não há o que dizer, entendo, a não ser acionar a Justiça. Não tentem citar o nome dessa canalha aqui. Não há diálogo com porcos. Mas há profissionais cuja trajetória é respeitada por seus pares ao menos — não expresso o meu ponto de vista pessoal — e que podem igualmente perniciosos. A questão é saber com que propósito.

Na Folha de hoje, lê-se o seguinte:


A biografia autorizada da presidente Dilma Rousseff vincula a campanha do ex-adversário José Serra (PSDB) ao envio de e-mails apócrifos com ataques à petista na reta final das eleições de 2010. “A Vida Quer É Coragem”, que chega às livrarias dia 15, liga a artilharia anônima contra a petista aos serviços de Ravi Singh, o “guru indiano” contratado pelo PSDB. Segundo o livro, ele usou o site de Serra para montar um “gigantesco banco de e-mails”, que estaria por trás das mensagens ligando Dilma à defesa do aborto e a ações armadas na ditadura. “Foi pela rede de computadores que os adversários disseminaram os ataques mais baixos e os boatos mais incríveis a respeito de Dilma”, afirma a biografia. “A ferramenta mais primitiva da internet foi a que melhor serviu para disseminar o que havia de mais atrasado politicamente na campanha.” A obra registra que o tucano também recebeu ataques anônimos, mas sustenta que Dilma foi mais prejudicada.


Voltei


Vivemos dias, de fato, do mais absoluto surrealismo político. O livro foi escrito por Ricardo Amaral, que foi assessor de Dilma na Casa Civil e atuou na campanha eleitoral da candidata do PT. Assim, o que se tem acima é uma notícia surgida de uma acusação, SEM PROVAS, feita pela ex-candidata, agora presidente, e redigida por alguém que atuava na campanha. Acima, meus caros, há duas ordens de mentiras: há a mentira factual propriamente, e há uma mais sofisticada, que é o embuste político.


Mentira factual

Todos os jornalistas que cobriram a eleição SABEM — SABEM, MAS VÃO FICAR CALADOS — que as mensagens ligando Dilma à defesa do aborto ANTECEDERAM EM MUITO A CHEGADA DO TAL INDIANO e não tinham nenhuma vinculação com a campanha de Serra. Nasceram de grupos religiosos católicos e evangélicos preocupados —  E COM JUSTEZA QUANDO SE É CRISTÃO — com as opiniões que tinha Dilma sobre o aborto. Ela era franca e abertamente favorável à LEGALIZAÇÃO. Qual é o problema? FHC expressou opinião parecida na sabatina da Folha. Eu, por exemplo, que combatia a opinião dela, também combati a dele.

Todos os jornalistas que cobriram a eleição sabem que, ao contrário do que afirma o assessor de Dilma — ELE É NEUTRO? —, a campanha de Serra procurava era guardar distância daquele movimento, isto sim! Eu, pessoalmente, achei um erro. Estou sendo muito claro! Eu acho que temas de comportamento devem, sim, fazer parte de campanhas. Movimentos antiaborto combatiam a candidata — e faziam muito bem, ora essa! Falo do ponto de vista de quem é contra — como fazem, no mundo inteiro, seus congêneres em períodos eleitorais. Se a eleição tendia a se polarizar entre Serra e Dilma, o natural é que o escolhessem.

Todos os jornalistas que cobriram a eleição sabem que essa história do indiano é uma mentira vergonhosa. Ao contrário: esse sujeito deu alguns pitacos da área de Internet e, segundo testemunharam os repórteres, mais atrapalhou do que ajudou.  Qual é a acusação de Dilma e Amaral? Eles queriam que Serra tivesse colaborado com a campanha da petiosta? Aí diz o “isento biógrafo autorizado”: o tucano também foi alvo, mas foi menos prejudicado. Como ele sabe? Qual é o dado objetivo de que dispõe?


O embuste político

Consta que há esta frase no livro: “A ferramenta mais primitiva da internet foi a que melhor serviu para disseminar o que havia de mais atrasado politicamente na campanha.” Entendo! Avançado, na política, é mentir sobre o “Minha Casa, Minha Vida”, sobre as UPAs, sobre o PAC, sobre a Copa… E o que o senhor Amaral chama de “atrasado”? LÁ VOU EU CONFRONTAR ALGUMAS PESSOAS COM OS FATOS, O QUE COSTUMA DEIXÁ-LAS NERVOSAS.

Em outubro de 2007, Dilma participou de uma sabatina da Folha e defendeu o aborto. O vídeo, vejam vocês, foi retirado do Youtube. Em abril de 2009, deu a mesma opinião numa entrevista à revista Marie Claire, a saber:

MC Uma das bandeiras da Marie Claire é defender a legalização do aborto. Fizemos uma pesquisa com leitoras e 60% delas se posicionaram favoravelmente, mesmo o aborto não sendo uma escolha fácil. O que a senhora pensa sobre isso?

DR -  Abortar não é fácil pra mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização. O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morre porque tenta abortar em condições precárias. Se a gente tratar o assunto de forma séria e respeitosa, evitará toda sorte de preconceitos. Essa é uma questão grave que causa muitos mal-entendidos.

Quanto à luta armada, dizer o quê? Que se saiba, ela não cuidava de fazer omeletes no Colina e na VAR-Palmares. Não que os camaradas mão merecessem…  Ainda que Amaral estivesse dizendo a verdade e que tudo tivesse partido da campanha de Serra, o que ele classfica de “politicamente atrasado”? A VERDADE??? Ou politicamente atrasados são os indivíduos contrários ao aborto, que estariam proibidos de se manifestar?


Que tempos! E a censura


Que tempos estes, não? Estamos proibidos de confrontar os ditos “progressistas” com suas próprias verdades, não é mesmo? Isso é de tal sorte escandaloso que, se vocês se lembrarem, pela primeira vez desde o fim da ditadura, A POLÍCIA SAIU ÀS RUAS PARA PRENDER PESSOAS POR DELITO DE OPINIÃO! E com o aplaudo de amplos setores da imprensa! Pessoas que distribuíam ou portavam aquele panfleto de um setor da Igreja Católica foram PRESAS!!! O texto recomendava que os eleitores não votassem em políticos que defendiam a legalização do aborto. MUITOS “PROGRESSISTAS” DAS REDAÇÕES ACHARAM QUE A APREENSÃO ESTAVA CERTA. AFINAL, AQUELA ERA A OPINIÃO ERRADA, E ELES SÓ DEFENDEM LIBERDADE DE EXPRESSÃO PARA AS PESSOAS QUE TÊM A OPINIÃO… CERTA!


Caminhando para o encerramento

Há um esforço conjugado de duas faces do oficialismo para destruir um político. Por que será que ele incomoda tanto? Nem com mandato está. Numa frente, a do chiqueiro, os porcões se espojam na lama, ESCANCARADAMENTE FINANCIADOS POR ESTATAIS. O dinheiro público está sendo usado para atingir um adversário do governo. É ataque a soldo mesmo, coisa de quadrilha. Putin, na Rússia, precisa descobrir essa tecnologia.

Na outra frente, essa mais higienizada, há coisas como a desse livro. Reitero: trata-se de uma mentira factual. O movimento na Internet — e sei porque, com milhares de leitores, os ecos começaram a chegar aqui bem cedo, via comentários; os próprios petistas o identificaram — criticando Dilma por causa de suas opiniões sobre o aborto nasceu praticamente junto com a sua candidatura. E os jornalistas que cobrem a eleição sabem disso. O tal indiano, que mal teve tempo de dar opiniões e foi logo dispensado, nunca teve nada a ver com isso. Tampouco a campanha de Serra na Intenet. ISSO, DE RESTO, DISTORCE UM FATO OBJETIVO: os católicos e evangélicos de mobilizaram contra a legalização do aborto. Não podem? Essa seria uma opinião errada?

A canalha petralha, esses porcos prestadores de serviço, e uma parte do jornalismo que tem sobre si mesma uma opinião generosa dão Serra como carta fora do baralho. Muito bem. Se é assim, por que essa sanha para destruí-lo? Qual foi o mal mesmo que ele fez ao Brasil?

É inacreditável! Vamos nos lembrar: um bunker, chefiado pelo “consultor” Fernando Pimentel, foi desbaratado quando montava um dossiê criminoso contra Serra. Como prêmio, o “consultor” e “companheiro de armas” ganhou um ministério. Depois, descobriu-se que outra súcia havia invadido o sigilo fiscal de dirigentes tucanos e de membros da família do candidato. Não obstante, os porcos reiteram no crime, financiados com dinheiro público, e Dilma, numa “biografia autorizada”, redigida por um assessor de campanha, acusa, sem provas e contra os fatos, o adversário de “disseminar o que havia de mais atrasado politicamente na campanha.”

Progressista é montar bunker de criminosos para fazer dossiê.
Progressista é invadir sigilo fiscal.
Progressista, enfim, é mentir.


“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”

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