Após longas negociações entre os Professores Municipais e o Poder Executivo de Pombos, o Plano de Cargos e Carreiras e Remuneração do Magistério – PCCR – entrou em processo de reformulação, seguindo a legislação vigente.
Foi eleito um grupo de professores para que junto com a secretaria de educação, os pontos a serem reformulados, adaptados, ampliados e consolidados. Tudo corria bem durante os encontros e os pontos menos contraditórios avançavam, até que se chegou à questão de aumentos salariais. A negociação não travava.
Sentindo-se prejudicado com a proposta oferecida pelo Poder Executivo, os professores em parceria com o diretório municipal do Sinpro-PE, resolveram protestar. Eu, a bucha de canhão, na condição de membro da comissão sindical, pus-me a falar com as demais pessoas envolvidas que a questão precisava ser resolvida sem perdas para a classe de professores.
E como diria um amigo meu, o processo “embaçou” e não avançamos. Nem a Secretaria de Educação nos convencia de que o aumento era justo, nem nós conseguíamos unir forças para as nossas negociações, de tal sorte que a Prefeitura saiu ganhando tempo e nós fomos nos desarticulando.
Era noite e eu estava em casa quando recebo o telefonema de uma companheira professora. Informava ela que a Câmara de Vereadores daquele município votaria às pressas o nosso PCCR, junto com outros projetos enviados pelo Poder Executivo no último dia legal para votação de emendas.
Há quem diga que aquela votação de caráter extraordinário fora uma manobra política para que a qualquer custo, os Vereadores votassem, sem nenhuma análise mais ponderada do texto em questão.
Chegamos cedo à Câmara Municipal onde fomos recebidos por um vereador que nos apoiava. Convidamos todos os professores que pudemos para estarem presente na votação. Poucos apareceram. Mesmo sem um número majoritário de professores e sem a presença da direção do Sinpro-PE, fincamos pé dentro da Câmara.
Horas mais tarde fomos chamados para uma sala de negociação. Estavam presentes a comissão de professores, a presidente da casa legislativa, uma representante do judiciário e alguns vereadores.
Um vereador presente, no arroubo de sua ignorância (provada instantes mais tarde) gritou:
- “É uma minoria de professoras que querem perturbar. A maioria dos professores está trabalhando. E o que o meu Prefeito mandar pra eu votar, eu voto. Se tivesse alguma coisa errada na lei, estavam todos os professores aqui reclamando.” (Quero dizer estas não foram palavras textuais, haja vista a formação primária do cidadão em questão).
Até àquele momento eu estava sereno nas minhas palavras e ponderava nas minhas colocações, usando de humildade diante das autoridades a fim de expor os fatos de forma racional e justa. No entanto, quando ouvi estas palavras, eu me virei em direção a quem falava e argüi com voz estridente e agressiva:
- O Senhor conhece Nelson Rodrigues?
- Quem?
- Nelson Rodrigues!
- E eu sei lá quem é esse tal de Nelson!
- Nelson Rodrigues disse, certa vez, que TODA UNÂNIMIDADE É BURRA. Mesmo não estando todos os professores aqui, não significa dizer que estamos exigindo algo impróprio ou injusto.
- Você me respeite rapaz. Não me chame de burro, não! – gaguejou ele enquanto eu deixava a sala.
Conseguimos evitar a votação naquele dia. Os vereadores que votaram pelo adiamento da votação do PCCR nos garantiram que as emendas seriam lidas com atenção. Ledo engano o nosso de imaginar que seria mudado algo no texto que tratava de aumento salarial.
Dias depois ficamos sabendo que o projeto foi aprovado pela maioria da Câmara, em uma outra reunião extraordinária que ninguém ficou sabendo. Foi uma derrota para mim e para as três professoras que estiveram sempre juntas comigo e que não se venderam, não se envergaram e não perderam a dignidade de olhar nos olhos dos demais “colegas”.
o lado escuro e o lado obscuro, feitos um para o outro.
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