sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algumas Reflexões Sobre o Silêncio


“Eu não tenho espada, faço da minha calma e silêncio espiritual minha espada.” (Tradição oral samurai).


Será que o silencio é apenas a ausência de som? Será que ele deve ser forçado, compulsório, frívolo, corriqueiro, destemido, agressivo, doloroso, tranquilo? Qual a dimensão do silencio? Ele é importante? Ele fala, às vezes, mais que mil palavras? Afinal, o que é e para que serve o silêncio?

Silêncio, do latim silentiu, do dicionário Michaelis: “3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos”. Sileo- silentium, que significa: estar em repouso, tranqüilidade, descanso, ausência de qualquer estorvo. Etimologicamente, a palavra silêncio remete a silentium, silere, cujo significado encontra-se em sileo, cujo sentido é calar, omitir-se.

Seguindo sempre a Ciência e nunca apenas a fé cega da religião, eu acredito que os seres filhos do planeta Terra evoluíram a partir de espécies primatas, passando pelos hominídeos até o homo sapiens sapiens. Estes primeiros seres ancestrais, se bem estudamos, não se utilizavam de linguagem outra que não fosse o silêncio.

Desde aquela época, o silêncio tornou-se uma dimensão indispensável na arte de comunicação entre os seres, chegando, inclusive, a ser ferramenta de sobrevivência num mundo completamente selvagem. Tais necessidades ainda não mudaram. Os ambientes mudaram, mas a selvageria existe de forma humanizada.


Palavra e silêncio não são termos mutuamente excludentes; são, antes, dois aspectos que formam a linguagem humana. O querido Lulu Santos já escreveu: “não existiria som se não houvesse o silêncio. Este é bem mais que a falta de sons e ruídos: é a essência de toda a linguagem humana, porque representa sua fonte originária e seu fim último.

No meio da balbúrdia das nossas vidas, já quase não sabemos o que é o silêncio. De tão desconhecido, acontece mesmo haver quem o tema como se teme um vazio, quem o sinta como um buraco negro em que se para de existir.

Na vida política, por exemplo, a Lei do Silêncio é amplamente difundida. Se eles ganham uma causa, silêncio é esquecido. Se perdem, silêncio é ferramenta indispensável. Se seu adversário sofre derrota, e, logicamente, permanecem em silêncio, há quem arrote ironias do tipo: “o silêncio agora é lei forçada.” O pior (ou melhor) é que tais provocadores irônicos passam por silêncios claustros na vida política e nunca fazem referência aos seus próprios momentos de introspecção aguda.


Mais de vinte mil pessoas estão caladas em Gravatá. Mais de vinte mil pessoas estão em estado de silêncio. Mais da metade de eleitores estão com um nó no pomo de adão que lhes obriga a permanecer em silêncio doloroso. E quantas vezes a humanidade não permaneceu assim?

O que me ajuda a quebrar este silêncio que se instalou não é a “lei que reina forçada” impetrada pela in-justiça. Eu falo através deste blog porque eu sei que o silêncio desse quantitativo de pessoas não se baseia na indiferença, na ironia, na falsidade, na mentira. O “nosso” silêncio se pauta na dor, na tristeza, na decepção, na revolta.

E é em nome de todas as pessoas que sabem usar o silêncio, que eu separei umas pérolas para todos nós, inclusive para quem se esbalda diante da decepção alheia, que compartilho de forma reflexiva e fazendo frente a quem acha que oposição precisa ficar calada.

Ouçam aqueles que têm ouvidos de ouvir:



"O homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio."
Ghandi

"O mais atroz das coisas más das pessoas más é o silêncio das pessoas boas."
Ghandi

“E como podes ver, ainda falo demasiadamente, e isto é sinal de que não sou sábia, porque a virtude se adquire no silêncio.”
Umberto Eco, in: "Baudolino"

"Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado".
Públio Siro

"Há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado".
Sófocles


"O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura."
- Aldous Huxley, in: Contraponto, (1928)


"Uma língua avara de discursos é um tesouro entre os homens. O mais precioso é a medida das palavras que os compõem. Se fores maldizente em breve dirão mal de ti".
Hesíodo


"O exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra".
William James


"Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música".
- Aldous Huxley, in: Music at Night, 1931


"Cada gota de silêncio é a chance para que um fruto venha a amadurecer".
Paul Valéry


"Há pessoas silenciosas que são muito mais interessantes que os melhores oradores".
Benjamin Disraeli


"O silêncio é um espião".
Mário Quintana


"A necessidade cada vez mais aguda de ruído só se explica pela necessidade de sufocar alguma coisa".
K. Lorenz


"O silêncio que aceita o mérito como a coisa mais natural do mundo constitui o mais retumbante aplauso".
Ralph Waldo Emerson


"O silêncio é a virtude dos imbecis".
Francis Bacon


"O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar".
Josh Billings


"O silêncio que ninguém ouviu, foi a primeira coisa que se viu".
Arnaldo Antunes


"O silêncio é tolo quando somos sábios, mas é sábio quando somos tolos".
Charles Caleb Colton


"Fique calado e em segurança; o silêncio nunca o trairá".
O'Reilly


"Arrependo-me muitas vezes de ter falado; nunca de ter silenciado".
Ciro


"Cala-te ou diga coisas que valham mais que o silêncio".
Pitágoras

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