"O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia."
Albert Camus.
Albert Camus.
SUICÍDIO (do latim sui (próprio) e caedere (matar) é um ato que consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida.
Alguém já disse que “todo suicida acredita na vida após a morte”. Ironia ou não, a questão passa por diversos tipos de leitura interpretativa, onde cada cultura faz referência ao suicídio conforme as suas crenças e religiões. Para uns é ato pecaminoso; para outros seria honroso tirar a própria vida e, para outros, é um erro grave que será corrigido compulsoriamente.
Se é verdade que quem comete suicídio acredita que há uma vida além da vida, entende-se que o autor parte para ação deliberada que o levará a um novo começo, desta vez, sem problemas ou dificuldades de qualquer sorte. Tal idéia é difundida entre os adeptos do seppuku japonês.
Agostinho de Hipona (354-430) assumiu um posicionamento segundo o qual cristãos não podem cometer suicídio (devido à fé, que supera á honra), como escreve, pois compreende que o mandamento ‘Não matarás’ (Êxodo 20.13) proíbe matar a nós mesmos, para um cristão matar-se é matar sua fé e sua verdadeira vida, que é a vida depois da morte, surgida da fé.
O suicídio como a atitude individual, de livre arbítrio, de extinguir a própria vida por ato deliberado, podendo ser causada entre outros fatores por um elevado grau de desespero e sofrimento, geralmente de nível emocional, sentimental, mas também poderá ser causado por motivos econômicos entre outros, como o caso de Getúlio Vargas, político brasileiro, que "deixou a vida para entrar para a História."
Por maiores que sejam as tentativas de interpretação que expliquem esse ato violento, quem para e pensa sobre o caso, sempre se pergunta: Por quê? Quais são as causas que nos levam a tentar o suicídio? Tem o homem o direito de tirar a sua própria vida? Quais as conseqüências deste ato fatal na vida humana?
Até hoje, nenhuma doutrina religiosa explicou e consolou com tanta veemência quanto a Doutrina Espírita, por ser uma religião de tríplice aspecto: ciência, filosofia e religião – no sentido literal da palavra.
Do ponto de vista da Doutrina Espírita, o suicídio é considerado um crime, e pode ser entendido não somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Importa numa transgressão da Lei Divina. É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador. (Equipe da FEB, 1997).
Em O Livro dos Espíritos, nas perguntas 943 a 957, Allan Kardec discute o tema apontando as causas e as conseqüências deste ato sinistro. Diz-nos que o desgosto pela vida é efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente da saciedade. Para aqueles que exercem as suas faculdades com um fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido a vida se escoa mais rapidamente. Os Espíritos nos advertem que quando cometemos o suicídio responderemos como por um criminoso. Acrescenta ainda que "aquele que tira a própria vida para fugir à vergonha de uma ação má, prova que tem mais em conta a estima dos homens que a de Deus, porque vai entrar na vida espiritual carregado de suas iniquidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante a vida. Deus é muitas vezes menos inexorável que os homens: perdoa o arrependimento sincero e leva em conta o nosso esforço de reparação; mas o suicídio nada repara".
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V - Bem-Aventurados os Aflitos, analisa o suicídio juntamente com a loucura, e nos diz que "a calma e a resignação, hauridas na maneira de encarar a vida terrestre, e na fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio". A leitura atenta deste capítulo do Evangelho seria um preservativo para todos os males da humanidade, pois não só nos explica os meios de nos livrarmos da pena como também nos alerta para o bem e o mal sofrer, sobre a melancolia etc.
Em O Céu e o Inferno, no capítulo V, há relatos dos próprios suicidas sobre o seu estado infeliz na erraticidade. Verificando cada um deles, vamos observar que, embora o sofrimento seja temporário, nem por isso deixa de ser difícil, pois o remorso parece não ter fim.
Em Mecanismos da Mediunidade, o Espírito André Luiz, ao discutir sobre a ideoplastia do pensamento, fornece-nos elementos para a nossa reflexão sobre este tema. Se muitos ficam pensando no suicídio, eles criam um campo mental, uma espécie de aura de formas- pensamentos, e se um Espírito menos avisado entrar nessa faixa vibratória, ele poderá ser induzido ao cometer este ato. Por isso, precisamos tomar cuidado com o teor energético do nosso pensamento, pois uma vez emitido ele criará as forças desencadeantes para a ação.
Para quem está vivo, vale algumas reflexões:
1- Um dos grandes embaraços de quem comete o suicídio, pensando que teria dado cabo da vida, é a surpresa de que continua vivo. Nesse sentido, de que vale tirar-nos a vida, se continuamos a existir?
2- Não temos o hábito de relacionar a parte e o todo e podemos cair no erro da absolutização do relativo. É o caso de estigmatizar todos os Espíritos que cometeram suicídio, colocando-os num mesmo grau de sofrimento e punição. Há que se considerar a influência que receberam dos outros, os seus estados mentais etc. Será que nós, com o nosso modo impensado de agir, não os induzimos involuntariamente? Será que a sociedade, pelo seu descaso, não deixou de auxiliá-los, quando podia fazê-lo?
3- A certeza da vida futura lhe dá condições de saber que será menos ou mais feliz de acordo com a resignação com que tiver suportado os sofrimentos aqui na Terra.
4- O relato do Espírito André Luiz, quando estava no umbral - e ouvia chamá-lo de suicida -, é marcante, pois mesmo não o tendo cometido voluntariamente, dissipou desordenadamente as suas energias físicas e mentais. No campo mental, a cólera, a falta de autodomínio e inadvertência no trato com os semelhantes; no campo físico, o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas.
5- Nunca se deve dar tanta atenção a este dispositivo da mente. Há muitos momentos de angústia, de solidão, mas temos que passar por cima como um trator que vai moendo tudo o que lhe vem de encontro. Utilizando-nos da prece e da vigilância, podemos aliviar muitos desses males do pensamento.
Enfrentemos a nossa vida, pois não podemos ter outra. Lembremo-nos de que o problema pode não ser tão grave quanto a nossa imaginação o pinta. Quem sabe se esperarmos um pouco mais, exercitando a paciência e a resignação, a dificuldade não toma outro rumo, a doença não recebe o remédio correto, o desgosto não tem o consolo necessário? Depositemos a nossa confiança inteiramente em Deus. Ele sabe o momento oportuno de nos tirar do embaraço.
0 comentários:
Postar um comentário