Petrolândia, no Sertão de Itaparica, poderia ter avançado muito mais como centro astronômico se o Instituto Xingó, vinculado a Chesf, não tivesse abandonado a contrução de mais dois centros de pesquisas ao lado do Impacton, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Trata-se do Centro de Observatório de Cometas e Asteróides, um dos mais modernos do mundo e um dos poucos do hemisfério Sul do planeta.
O Centro de Observatório atrai para a caatinga os principais astrônomos do País e pesquisadores estrangeiros. Lá, a elite de cientistas passou asteróides, estrelas e mapear o céu. Olhando o céu de Itacuruba, um dos mais belos do mundo, é possível saber qual a chance de um desses corpos celestes se chocar com a Terra. A Prefeitura do Município confiou na palavra do Instituto Xingó, mas há quatro anos as obras dos dois novos Observatórios, que formariam um complexo astronômico, atraindo turistas e estudiosos, pararam.
O Instituto não nos dá satisfação. Já estivemos várias vezes na Chesf, relata o prefeito de Itacuruba, Romero Magalhães (PSB). Mesmo aliado e filiado ao partido do governador Eduardo Campos, Magalhães não consegue o apoio do Estado para retomar o projeto. Resultado: o mato invadiu os dois prédios e vem servindo, nos últimos dias, para abrigo de marginais na região. Segundo o prefeito, com apenas R$ 200 mil o Governo concluiria os dois centros, incluindo as obras físicas e os telescópios.
Há 22 anos, a cidade de Itacuruba, localizada no meio da caatinga pernambucana, a 481 km de Recife, foi inundada pelas águas do rio São Francisco. O Velho Chico foi represado para a construção da barragem de Itaparica. Todos os moradores foram transferidos para a nova Itacuruba, uma espécie de cidade cenográfica construída sob medida, com casinhas coloridas, praças bem cuidadas e jardins floridos.
Com menos de cinco mil habitantes, a cidade pode ser considerada a mega dos astrônomos. Esse ponto da caatinga foi escolhido para receber o projeto Impacton, do Observatório Nacional, por ter algumas características especiais. Dos 365 dias do ano, a cidade tem sol forte em 208. Se chove pouco, significa que há menos nuvens capazes de atrapalhar a visão do céu. Para os astrônomos, Itacuruba é o que se pode chamar de paraíso da observação.
A paisagem cenográfica de Itacuruba ganhou mais elementos com o projeto Impacton. O Centro de Observatório fincou na cidade uma torre, coberta por uma cúpula de fibra de vidro, que protege um potente telescópio. Tudo funciona com bateria solar. O equipamento importado da Alemanha custou R$ 1 milhão. Coisa de espantar os itacurubenses, acostumados com a paisagem bucólica das plantações de feijão, cebola, tomate e melancia, alimentos que plantam para sobreviver. Dentro da torre, foram instalados modernos computadores, que acabaram com aquela forma quase romântica de observar o céu.
Hoje, os astrônomos não pregam mais os olhos na ponta do telescópio e ficam procurando planetas e estrelas como quem procura agulha num palheiro. Eles digitam a posição do céu que querem olhar no teclado do computador. O telescópio é automaticamente informado das coordenadas e aponta na direção pedida. Faz imagens daquele ponto e em pouco tempo o cientista recebe o resultado na tela do computador. Seu trabalho é estudar aquilo que o telescópio enxergou no espaço. Essa nova forma de observação permite, por exemplo, que um astrônomo que esteja no Rio de Janeiro possa enviar seu pedido ao Centro de Observatório de Itacuruba sem estar lá. A ordem vai pelo computador e a resposta também vem por ele. E toda essa produção vira um grande arquivo do céu.
Escrito por Magno Martins, às 17h10
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