quarta-feira, 18 de março de 2009

MAIS UMA DOR PELO AMOR À EDUCAÇÃO

Quem me conhece sabe que gosto sempre de reacender velhas chamas. Principalmente se as chamas queimam minha consciência e chicoteiam minha limitada visão de cidadão e martelam os ditos “senhores” e “senhoras” da “razão.
Fiquei sabendo recentemente de uma história que aconteceu nos corredores do saudoso CFCH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, que me deixou “irado” ao ponto de querer realmente falar de algo que virou moda “na história desse país”...
Um velho conhecido (que chamarei de Xico) de infância acabou de ser aprovado no vestibular de música da Universidade. Ele me deu essa notícia maravilhosa de forma nada convencional. Seu jeito de gente simples de interior me contou que fora vítima de um sarcástico aluno “veterano” do curso de música.
Xico disse que ao passar nos corredores do CFCH pra visitar um amigo no sexto andar do prédio, o “aluno veterano” lhe olhou dos pés a cabeça e disse: - E então, negão?! Entrou na Universidade pelas cotas para negros, foi? (...).
(...)
Será que é um caso isolado? Será que ele não foi vítima apenas de um “filhinho de papai” racista? Ou será que ele representa uma parcela numerosa de negros que passam sempre por isso nos corredores das Universidades brasileiras? Será também que ele realmente não está sendo discriminado por estes critérios de cotas, como o que ocorre no Rio de Janeiro, desde 2007?
Me vem tantas questões numa hora dessas! Me vem tanta angustia com sabor de injustiça!
Porque no Brasil não existe uma política voltada para a educação de base, capaz de destruir com qualquer tipo de cota? Porque o Brasil não investe massivamente na educação de base a fim de acabar com a deficiência do ensino brasileiro?
Será que ninguém percebe que o sistema de “cotas” está se tornando mais uma forma de descriminação contra os afros descendentes, (que poderão ser taxados de incapazes para o ingresso no ensino superior), como ocorreu com meu amigo Xico?
Mesmo sabendo que nós brasileiros temos uma divida de mais de três séculos, ainda não usamos essa consciência pra tomarmos as rédeas da justiça social, principalmente por parte dos professores brasileiros.
O Brasil concentra a base de sua riqueza e tecnologia em três setores da economia: a administração, a agricultura e a pecuária. Juntas, elas somam valores astronômicos que nenhum outro país possui, não só do ponto de vista de mão-de-obra, mas pelo desenvolvimento de suas tecnologias. O Brasil desenvolveu e aprimorou em séculos de trabalho. Trabalho do Negro!
Os índios eram péssimos administradores de suas próprias terras; não sabiam criar animais do ponto de vista comercial, tampouco sabiam técnicas de plantio de várias espécies comestíveis, entre hortaliças e grãos.
Os portugueses nunca foram bons administradores de suas riquezas. Não eram capazes de criar animais em larga escala, não se aprimoraram na busca de desenvolver a agricultura, por serem historicamente despreparados para atividades com a terra.
Foram os negros que aprimoraram toda a tecnologia destes três setores no nosso país. E eles nunca precisaram de cotas para provar sua capacidade humana de serem bons administradores, excelentes criadores, e perfeitos agricultores.
Como educador, eu percebo que os negros sofrem da mesma angústia que milhares de professores que desejam apenas o “reconhecimento” do seu papel para com o país que eles amam tanto. Inclusão social é fator importante para qualquer cidadão carente. A palavra não é inclusão, embora ela esteja na moda. A palavra de ordem, para mim, é oportunidade.

Outra história similar que tomei conhecimento, que me deixou aborrecido, também aconteceu na UFPE.

Um “certo” departamento da Universidade há um ano se reuniu e propôs aos seus professores a criação de um vestibular especifico para os militantes do MST, onde o movimento faria a organização dos detalhes, dos conteúdos e da aplicação das provas.

Não seria o caso de criar, também, um vestibular para filhos de empresários? Não seria justo criar um vestibular “mais” leve para filhos de funcionários da Universidade, para alunos da zona rural de cidades como Pombos, Primavera, Camutanga, São Vicente Ferrer? Não seria o caso abrir um vestibular para professores leigos do interior do estado, com todos os custos pagos pelo governo federal?
Portanto o sistema de “cotas” não é a solução do problema racial no Brasil, até porque tem todo um arcabouço social, cultural e econômico que envolve o problema de racismo no Brasil. Então por que desde já, não se começa a investir na educação de base, de forma que, todos tenham acesso a ela, (negros, sem terra, brancos, pobres, índios, imigrantes e descendentes)?
Estou fazendo minha parte.
A Universidade está?
A Sociedade está?
E você, está?

1 comentários:

Há um ano, apresentei na faculdade um trabalho sobre cotas raciais. Tenho alguns pontos de vista que divergem dos seus, todavia, concordo plenamente com o déficit que temos em relação aos afro-descendentes. A única coisa que discordo totalmente de você, é quando te referes aos índios brasileiros como totalmente incapazes de administrar suas terras, etc e tal. Esta é uma inversão de valores, que conduziu nossos nativos à beira da extinçao. O problema não estava na administração por parte dos índigenas, tanto é que, mais de 4 milhões deles conviviam em todo território, sem destrui-lo. Talvez o único pecado que tenham cometido foi o de serem puros, ingênuos. A educação indigena é a mais completa que pude conhecer nesses meus 33 anos de vida. Nada se iguala ao respeito que se tem à vida, seja ela qual for. Nossos problemas começaram exatamente com achegada da primeira caravela aqui, e a descida do primeiro branquelo. Não teríamos efeito estufa, aquecimento global, fome, consumismo, armas nucleares, devastação... não temos nada a ensinar aos índios. Precisamos, antes de tudo, aprender com eles!!!

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