sexta-feira, 14 de agosto de 2009

RÉPLICA AO PROFESSOR JORGE

Meu Amigo Jorge

Você mal acessa no portal (como você mesmo constata) e quando tem oportunidade de contribuir, é infeliz na sua empreitada. Primeiro por confundir a Pedagogia de Paulo Freire com trabalho voluntário. Ao que me consta na minha imensa ignorância, Paulo Freire era Marxista e defendia uma Pedagogia que tirasse o homem da condição de vassalo, de oprimido.

Aliás, em Pedagogia do Oprimido, ele defende um tratado político utópico que clama pelo fim da hegemonia do capitalismo e a criação de uma sociedade sem classes. Além disso, A pedagogia do oprimido [é] uma pedagogia que deve ser feita com, e não para, o oprimido (tanto indivíduos ou grupos) numa incessante batalha para recuperar sua humanidade, mas, em momento algum nega ao individuo a possibilidade de crescer e buscar melhorias na sua vida financeira.

Por outro lado, segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos..." Altruísmo e solidariedade são valores morais socialmente constituídos vistos como virtude do indivíduo. Do ponto de vista religioso acredita-se que a prática do bem salva a alma; numa perspectiva social e política, pressupõe-se que a prática de tais valores zelará pela manutenção da ordem social e pelo progresso do homem. A caridade (forte herança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do engajamento.

Nenhuma destas duas linhas de pensamento se encaixam na vida do Professor (seja ele do “Travessia” ou de outro sistema ou método) que reconhece o valor das conquistas do trabalhador no Brasil. Recordo que a origem do direito do trabalho ou direito laboral surgiu como conseqüência da questão social que foi precedida da revolução industrial, no século XIX. De 1888 aos dias atuais foram lutas ferozes que tornaram a vida mais justa para quem trabalha atualmente. Eu não posso negar tais conquistas por trabalhar no “Travessia” e se sujeitar a não receber pela minha força de trabalho.

Outro pensamento alienante é supor que nós “Cristãos” devemos fazer voto de pobreza e jamais reclamar de valores financeiros em nossas vidas. Por quê? Por causa de Paulo de Tarso? Por causa de João Batista? Por causa de Zaquel? Ora, tenha a santa paciência. Dentre estes todos, ainda prefiro o exemplo de Sidarta Gautama, embora tenha consciência da infinita espiritual distância que nos separa.

Quando reivindico por salários em dia não estou escolhendo o dinheiro como mola da minha vida, em detrimento ao “amor” que tenho pela minha profissão com completa 14 anos de labuta. Exigir que o Estado pague ao professor não significa dizer que devo fazer a escolha entre Deus e Mamom. Se os diletos colegas de profissão lerem com atenção a situação citada por mim, perceberão que estamos diante de uma tremenda injustiça com todos nós. E quem defende este tipo de postura, vive de soberba hipocrisia.

O engraçado é que atualmente os ditos “pastores” são as criaturas que mais se sobressaem no joguete da desfaçatez. Eu não sou pastor, tampouco ovelha, e nem quero ser chamado de voluntário. Eu sou um trabalhador da educação, um educador que cumpre com suas obrigações e que, como todo cidadão digno e dedicado as suas funções, merece ser bem remunerado.

Se me permite um conselho, não só a você, como a todos os seus confrades que comungam da mesma “verdade”: deixe o Travessia, deixe a vida de “funcionário” do Estado e parta para uma vida de voluntariado, de uma vida dedicada ao próximo, sem esperar nada em troca (tampouco dinheiro). Há diversas instituições que irão te abraçar com fervor. A Rede Record de Televisão; a Rede Globo; a Pastoral da Criança; o Instituto Ayrton Senna (esse com todo carinho) e tantas outras empresas que aguardam o trabalho voluntariado de pessoas como você, caro Jorge.

Pense nisso.












1 comentários:

Caro Ricardo...
Venho acompanhando suas histórias no A.M.I.G.O.S Travessia. Também sou professora do programa, estou indo para a capacitação do II módulo e quero lhe parabenizar pela ideologia. Tem tantos que gostariam de falar ou questionar sobre as mesmas coisas ou situações, e portanto, não tem coragem ou se omite mediante as pequenices que encontramos em nosso caminho.

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