Minha vida é pêndulo.
Oscilo entre o bem que desejo e o mal que rechaço.
Sei que minhas sombras não são todas ruins e minhas luzes não são todas boas.
Minha vida é sístole e diástole, fluxo e refluxo.
No vai-e-vem de minhas emoções choro e rio, fico e vou.
Não receio mostrar covardia e hesito nas coragens.
Minha vida é dança na encosta do abismo. Prestes a despencar, no limite do perigo, corro o risco de tornar-me o fiasco do milênio. Mesmo assim, jogo e aposto atrevidamente.
Mesmo sabendo que posso ferir-me, enfrento a corda bamba.
Minha vida é estrada esburacada. Nos solavancos das crateras que se abriram pelo caminho, tento aprumar-me.
Não quero perder a direção. Vou por trilhas menos pavimentadas, mas vez por outra, cansado, prefiro cortar caminho.
Minha vida é simultaneidade de satisfação e fome.
Os desejos cumpridos deixam sobra, um resíduo, de desprazer.
Porém, por mais que as inadequações se mostrem onipresentes, celebro contente a minha sorte.
Minha vida é, ao mesmo tempo, vitrine e caverna.
Convivo com plataformas e microfones. Falo para platéias.
Sou fascinado por silêncios, por alcovas.
Audaz com multidões e tímido com pessoas, opto por poucas palavras. Mas, dou a mão à palmatória, falo pelos cotovelos.
Minha vida é mescla de certeza e imprecisão.
As dúvidas não me abalam, mas as certezas me confundem.
Gosto de questionar e não tenho medo de ficar sem resposta.
Os absolutos me incomodam, os dogmas me inquietam, as exatidões me deixam suspeitoso.
Minha vida é ameaça e bênção.
Consciente dos ódios que já provoquei, vivo inseguro; sempre procurando redenção.
Entusiasmado com a bênção que sou, alço o vôo da águia; sempre ousando novos desafios.
Minha vida é mistura de morbidez e sede de viver.
Aguardo o apagar das luzes, reconheço a iminência do meu fim.
Contudo, procuro desdobrar os minutos em “nano-frações” de felicidade.
Minha vida é preocupação despreocupada. Temo as contingências, mas o insólito me entusiasma. Repito aos quatro ventos que dores e alegrias entram na fabulosa receita desta existência, que o Criador projetou livre.
Não há nada mais deslumbrante que a angústia, e nada mais surpreendente que a felicidade.
Gondim
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