Eu estava com pouco mais de oito anos quando subi numa modelo chamada “Monareta” e disparava rua abaixo, em uma geografia pedregulha e íngreme. Foi uma sensação indescritível de liberdade, de felicidade, de êxtase… dar as primeiras pedaladas naquela magrela vermelha, mesmo sem ser minha, foi o maior presente da minha primeira infância.
Minha filha, Carolina, que faz sete anos de vida no próximo dia 12, me fez viajar naqueles dias dos anos iniciais da década 80. Segundo ela, o presente de Papai Noel deste ano, foi o melhor da sua vida: uma bicicleta. Ela me fez criança e me realizou como pai auxiliando-a nas primeiras pedaladas de sua vida.
Dentre tantos pontos em comum, tantos laços de identidade físicos e espirituais, eis que surge mais um. Nunca cai enquanto aprendia a dominar a magrela. Carol também sequer levou um tombo ou sentiu dificuldades em conduzir a sua bicicleta. Sua coragem, sua persistência em arriscar mais um movimento exigente; sua agilidade em mudar o rumo da bicicleta que teimava em não obedecê-la; seu sorriso de satisfação em se descobrir ágil e seu olhar de gratidão doado a mim a cada parada eram aperitivos a mais para me fazer degustar do sabor de ser pai vivendo aquele momento mágico na vida de uma criança.
Eu nunca tive um pai que segurasse o selim para me auxiliar nos primeiros movimentos, sem que eu temesse uma provável queda. Nas primeiras pedaladas de Carol, lá estava eu, segurando suavemente o seu selim. Quando em vez, ela olhava para trás, certificando-se de que eu estava por perto. Meu desejo era tanto de aprender, a minha época, que não tive tempo de olhar para trás, para o nada. Mirava o meio da minha rua e disparava, cabelos ao vento, encarando qualquer tombo adianta.
Não sabia nem o quer eram os Correios direito. Se soubesse, seria capaz de contar para todas as pessoas da minha cidade o meu feito. Se houvesse email, Orkut, Facebook ou MSN como temos hoje, de fato o mundo inteiro saberia. O mundo hoje pode saber que minha filha aprendeu a andar de bicicleta com o auxilio do pai dela.
Realizo-me duplamente no dia de hoje. Sou um filho que não teve pai, nem bicicleta. No entanto, hoje sou um pai que busca realizar todos os sonhos possíveis de uma filha muita amada, inclusive o de ter uma bicicleta e aprender a andar com seu genitor. Regozijo-me em lágrimas e sorrisos de felicidade que não tem preço, afinal, as primeiras pedaladas dadas por Carol também são minhas.
Para você guardarei os mais belos presentes e lutarei para que você realize os mais profundos dos seus sonhos. Hoje temos a certeza de que você veio para ficar ao nosso lado e preencher de vida, de alegria e de esperanças as duas famílias que te amam. Você terá, sempre que precisar, todo meu apoio, amor e fé, em tudo que você for realizar.
Teu pai, papai, painho
Ricardo Vieira.
0 comentários:
Postar um comentário