segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pensando em Educação, Gestão e Democracia

"As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis"
Carlos Drummond Andrade


Não acredito que exista alguém que discorde de que a construção de um país melhor e mais justo começa pela sua capacidade de oferecer a seu povo, uma educação de boa qualidade. Talvez seja até redundante dizer que jamais chegaremos a resolver os problemas do Brasil sem um trabalho educacional de base, que assegure o preparo profissional e a esperança no futuro. A lei preconiza a educação como um direito de todos. Mas elas não bastam, simplesmente, como bem lembrou Drummond.

Toda pessoa, independente de idade, da condição social, dos objetivos econômicos, tem direito ao conhecimento, a formação de uma visão de mundo progressivamente mais ampla, a organização de um quadro de valores que lhe dê uma visão cada vez mais solidária, profunda e abrangente da vida, da história e do sentido de viver.

A educação vista como fator de desenvolvimento social e econômico, contribui decisivamente no desenvolvimento pessoal, na vivência dos valores sociais e morais, na produção cultural, bem como no desenvolvimento das ciências, da técnica, no progresso material dos indivíduos, das comunidades e do país. Sobretudo hoje, que vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”, das tecnologias que invadem os nossos lares e instituições. Como fechar os olhos para essa realidade e como está pronto para enfrentar essa nova sociedade e nela se inserir?

É preciso ter um certo nível de instrução formal, de conhecimento e de competências desenvolvidas pela educação para ser capaz de entender o que acontece no mundo. Inserir-se no exigente e competitivo mercado de trabalho, ser criativo e flexível de acordo com a dinâmica das mudanças que ocorrem em todos os campos da atividade humana, enfim, de exercer a cidadania com autonomia, espírito crítico e participação construtiva.

Como instrumento de combate a pobreza e de inclusão social, a educação produz melhorias nas condições de vida das pessoas, não só pela elevação da sua capacidade de trabalho e melhoria da renda, mas também pela criação de possibilidades de inserção profissional, de exercício de trabalho melhor remunerado e oportunidade de optar por um estilo de vida mais satisfatório.

A educação é o mais poderoso instrumento de combate à exclusão social. Precisamos construir a história tendo como referência a exaltação deste ideal comum: “educação pública para todos e de boa qualidade”. Temos de compreender a importância da interação nesse processo histórico em construção, através do trabalho coletivo e co-responsável.

É preciso que os protagonistas dessa historia da educação sejam interdependentes em suas competências e legitimação de valores para que as condições estruturais sejam administradas com autonomia. O princípio inalienável da educação – a formação integral do sujeito social e histórico – deve ser planejada e vivenciada de maneira tão legitima que o ato de educar transforme-se em testamento para os herdeiros dessa história: As gerações vindouras.

Nesse sentido, podemos refletir sobre o modelo bem sucedido de educação implantado na coréia do sul – país que tinha uma renda per capita 50% menor que a do brasil em 1960 e com índice de analfabetismo próximo a 35% de sua população. Além de tudo, a coréia ainda sofria o trauma de uma guerra civil que deixou 1 milhão de mortos e uma economia em ruínas. Entretanto, 40 anos depois os coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram 82% dos jovens na universidade.

Porque o Brasil ficou para trás e a coréia aproximou-se dos países ricos nos principais índices sócio econômicos? Porque a Coréia priorizou a educação de seu povo. Naturalmente, são países muito diferentes – em história e cultura – e seria um equívoco imaginar que bastaria copiar o modelo coreano.

Mas, sem dúvida, um investimento maior na educação, uma política coerente voltada à acessibilidade, às condições condignas à cidadania, à autoestima e à cultura do estudo (fundamento essencial ao desenvolvimento do potencial humano e das possibilidades de intervir significativamente na história) provocarão mudanças no modelo sócio econômico do nosso país.

Oportunamente, faço referência às premissas do modelo da educação da Coréia do Sul:

Concentrar recursos públicos no ensino fundamental;
Premiar os melhores alunos com bolsas e aulas extras;
Racionalizar recursos para dar melhores salários aos professores;
Investir em pólos universitários voltados para área tecnológica;
Incentivar os pais e se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos;
Atrair o dinheiro das empresas para a co-responsabilidade com a educação.

Nessa última premissa, destaco a sábia decisão do governo anterior Jarbas Vasconcelos e Mendonça Filho: Firmar convênio entre o estado e empresas privadas, para garantir o horário integral de estudos no ensino médio em Pernambuco com a criação e disseminação dos centros de ensino experimental.
 
Um novo modelo de educação, desde a concepção, planejamento e execução de um conjunto de ações inovadoras em conteúdo, método e gestão, direcionados à melhoria da oferta e qualidade do ensino médio na rede pública do estado de Pernambuco. Sua base de sustentação está no protagonismo juvenil – formação do jovem autônomo, solidário e produtivo – e nos pilares da educação – foco no conhecimento integral: conhecer, ser, conviver e fazer.

Porém, a questão democrática ficou em segundo plano. Recuamos ou estagnamos com relação à implantação da gestão democrática de forma definitiva, como ocorre em diversas partes do mundo. Tanto para Pernambuco como para Gravatá, esse avanço não obteve apoio dos próprios professores, paradoxalmente, que tanto defendem a democracia e o direito de vez e voz.

A escolha para diretor nas escolas sempre foi um assunto muito polêmico e discutido tanto nas escolas quanto entre especialistas da educação. O assunto encontra-se em grande evidência também devido ao fato de ser, entre as outras práticas de administração da escola, aquela que envolve um maior interesse dos governantes, pois é uma importante ferramenta de cooptação pelo poder – "te dou o cargo e você me dá o apoio". A grande atenção voltada a este tema faz alguns até pensarem que a Gestão Democrática se restringe à eleição direta para diretor.

A história do processo de escolha democrática de dirigentes escolares começa no Brasil na década de 60, quando, nos colégios estaduais do Rio Grande do Sul, foram realizadas votações para diretor a partir das listas tríplices. Foi então que, no movimento da democratização, principalmente com o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, a eleição direta tornou-se uma das importantes bandeiras da educação, e pela qual não foi incorporada, como outras (pelo menos em parte), nas legislações principais (Constituição e LDB). É por essa razão também que a história da eleição direta para diretores é marcada por constantes avanços e retrocessos, dependendo da vontade política de dirigentes, para se aparar em leis estaduais e municipais.

O ideal de alguns políticos, profissionais da educação, gestores públicos e empresários é que as escolas sejam realmente centros de excelência, mesmo tendo consciência de que é uma missão desafiante e trabalhosa. Mas quem disse que ser Educador não é ser missionário? É um caminho recheado de muitas pedras. O cristianismo diria que é a porta estreita. Mas não existe outro meio correto que nos leve a vitória. Alunos, pais, educadores, parceiros e o povo em geral serão os maiores beneficiados diretos.

A tarefa de educar nossos jovens exige compromisso, compreensão da necessidade de mudança, desejo de acompanhar evoluções, crença na seriedade da tarefa. E esse compromisso, essa compreensão e essa necessidade de mudança devem ser geridos por um gestor eleito pela comunidade escolar, como os políticos que decidem a vida do cidadão, para que realmente seja possível semearmos as leis em defesa da qualidade de educação e colhermos lírios da gestão democrática.



Algumas Referências:
> BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação a Distância. Salto para o Futuro: Construindo uma escola cidadã, projeto político-pedagógico. Brasília: SEED, 1998.ISBN;
> Dep. Ciro Coelho / Pronunciado na Assembléia Legislativa de Pernambuco, em 24 de Abril de 2007.



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