terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Morte de uma Amiga Distante...

 
A missão tradicional do médico é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola.
 
Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte ou a expectativa mais do que certa de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por sentimentos e reflexões.
 
As pessoas que se regozijam em dizer que não pensam na morte, normalmente têm uma relação mais sofrível ainda com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a respeito.

Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos variam muito entre as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante.

Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades. Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa.

Tudo muito frio demais pra explicar uma separação dolorosa provocada com a morte.

Chove em Gravatá. Já passam das 22:00h. Foi notificado por um email que explodiu em meus olhos com uma luz muito mais forte que um raio que circula os céus. A querida Sara, esposa do meu amigo-pai Fernando Sabino, acaba de falecer em Lyon, França.

Bem… diz um ditado que “teme mais a morte quem mais temeu a vida”. Eu não sei até que ponto isso é consolador para todos nós que estamos recebendo esta triste notícia. Nós, que estávamos acompanhando há alguns meses a luta de Sara por se manter viva ao lado seu amado, que também luta pela vida, não podemos deixar de chorar, principalmente quando lemos o seguinte email:


“Acabo de chegar do hospital. Minha Sara faleceu!
O sentimento de perda me arruinou mais uma vez. O mundo inteiro e tudo que há nele se perdeu. Minha cabeça está estourando de dor! Meu coração está misturado ao meu estomago — sinto náusea de saudade na alma. Foram tantas as vezes que eu pensei que ela iria partir que, agora que se foi, me sinto sendo pego de surpresa! Mas sei que já está dançando com os anjos. Com toda saudade e com toda a reverência por sua vida e orando cheio de desejo de que o espírito de consolação se derrame sobre mim e todos que a amavam de verdade. Tudo que eu toco tudo que eu olho ou escuto, me faz lembrar ela. Parece que eu estou perdido e não tem volta. Sem ela é tudo vazio e chato”.



O que dizer agora? Sinto muito, meus pêsames, bola pra frente, é assim mesmo, Deus a tenha?

O que sentir agora? Negação, isolamento, raiva, depressão, aceitação?

O que pensar agora? Como está Fernando, o que vai fazer, por onde começar?

Honestamente? Tenho prazer de afirmar que “não sei”.

Sou sei que vou orar. Orar por todos nós. Orar por meu amigo-pai Fernando. Orar pela vida dele. Orar pela chegada de Sara ao mundo espiritual e imaginar que ela ri da gente, enquanto choramos, nos chamando de bobos e desde já de braços abertos para nos receber em tempo hábil.

Mas vale um poema, agora:



Quando tens alguém que te ame
O mundo parece maravilhoso
As coisas tornam-se mais fáceis
Pois não estás sozinho.
 
Quando amas alguém
Esqueces-te dos outros;
(Para ti, não existe mais ninguém)
E vives a tua vida em comunhão
 
Amar,
É ter aquele brilho nos olhos,
Aquela alegria no coração,
Aquele aperto no peito…
É teres a cabeça cheia… de nada!

Mas quando tudo acaba
Vem o peso ao coração,
O mundo torna-se um pesadelo
Tudo à tua volta será uma grande confusão.

O aperto no peito
Torna-se extremo… sufocas;
Os teus olhos ficarão baços de tristeza,
Morres aos poucos…

Cada dia que passa, mais dor,
Mais sofrimento, mais inquietação;
Cada batida do coração a parecer um tambor,
Cada som que ouças
Parecerá o bater dos sinos
Na hora da condenação.



E aí, a morte virá.
Reclamando o que é seu,
Por direito levará
Esse amor que muitos frutos deu.



 
Siga em Paz, Sara!
 
 

Fernando e Sara, em Lyon.

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