CORREGEDORIA DA CÂMARA ANALISARÁ CASO DE DEPUTADO QUE OFENDEU
AFRICANOS NO TWITTER
O caso envolvendo o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que
afirmou nessa quarta-feira (30), no Twitter, que os “africanos descendem de um
ancestral amaldiçoado”, deverá será analisado pela Corregedoria da Câmara dos
Deputados. A presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputada
Manuela d’Avila (PCdoB-RS), disse que irá encaminhar as mensagens do
parlamentar para o órgão.
Em seu perfil na rede de microblogs, Feliciano disse: “africanos
descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é
polêmica. Não sejam irresponsáveis twitters rsss”. Em seguida, outra mensagem,
afirma que “sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo,
ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids. Fome…(sic)”, afirmou
Feliciano, que também é empresário e pastor evangélico.
Para Manuela d’Avila (foto acima), as declarações são “bem graves” e “lamentáveis”.
“Esse argumento religioso que justifica o racismo foi usado pela Igreja
Católica há dois séculos para justificar a escravidão”, afirmou a parlamentar,
em entrevista ao UOL Notícias.
A deputada disse que irá reunir as mensagens, apresentar na próxima
reunião da Comissão e encaminhá-las à Corregedoria. “É o espaço adequado para
se julgar e para que ele [Feliciano] possa se defender”, disse.
Para a parlamentar, é possível que, dependendo da decisão da
Corregedoria, o caso vá parar no Comitê de Ética da Casa. “Na minha opinião,
imunidade parlamentar não protege o crime de racismo. É garantido o direito da
opinião, desde que honrada a Constituição”, afirmou D’Avila.
Por telefone, Feliciano disse que as mensagens foram publicadas por
assessores, sem a sua aprovação. O parlamentar afirmou também que não considera
as mensagens racistas. “Não foi racista. É uma questão teológica”, disse. “O
caso do continente africano é sui generis: quase todas as seitas satânicas, de
vodu, são oriundas de lá. Essas doenças, como a Aids, são todas provenientes da
África”, acrescentou.
Após o contato da reportagem com a assessoria de Feliciano, a primeira
mensagem foi apagada. Depois da entrevista ao UOL Notícias, o parlamentar
republicou a mensagem.
Hoje, quase 20h depois das declarações, o deputado negou ser racista
também no Twitter. “Tenho raízes negras como todos os brasileiros. Bem como dos
índios e também europeus! Rejeito essas calunias infames! Aqui não seus
desalmados”, disse Feliciano.
Marco Feliciano foi eleito deputado federal nas eleições do ano
passado, com mais de 211 mil votos, e diz ter 30 mil seguidores no Twitter.
“Sou afrodescendente, meu nariz é largo, meu cabelo é crespo. Tenho apoio do
líder do movimento dos negros, pastor Albert Silva, de São Paulo”, defendeu-se.
Albert Silva, no entanto, nega que apóie Feliciano e discorda das opiniões
do parlamentar. “As considerações dele são de foro íntimo. Como pastor negro e
militante do movimento negro, eu considero um absurdo essa visão teológica do
deputado. Viola o sentido explícito do relato bíblico”, afirma.
No perfil do deputado no Twitter, há também várias mensagens
direcionadas a homossexuais. O deputado
afirma que vários internautas da comunidade gay o perseguem e convoca os
“cristãos” a despejarem mensagens nas páginas de seus críticos. Em seguida, o
parlamentar listou uma série de usuários do Twitter que supostamente o atacam.
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