No mundo ocidental todas as religiões Cristãs são segundo a Bíblia. E todos os adeptos destas religiões acreditam que a Bíblia é um livro sagrado e intocável por ter sido escrito por Deus para alguns, inspirado por Deus para outros ou simplesmente que a Bíblia é a palavra de Deus.
Segundo a edição de 2001 da “World Christian Encyclopedia” existem 33.830 denominações cristãs no mundo, onde cada uma defende um ponto de vista específico, de acordo com seus dogmas e interpretações meramente humanas. Isto significa dizer, portanto, que a Bíblia dá margem para milhares de interpretações, não havendo um consenso geral entre os cristãos.
Aqui no Brasil os Cristãos que seguem a Bíblia são aproximadamente 100 milhões de pessoas, sendo que 73% da população se declara Católica Apostólica Romana, enquanto que apenas 15% é de formação Protestante. Segundo o Senso do IBGE de 2000 existem aproximadamente 150 mil igrejas evangélicas de todos os tipos espalhadas pelo Brasil. Estes dados também nos apontam para uma infinidade de percepções bíblicas diferentes.
Se tomarmos as duas maiores religiões Cristãs no Brasil, elas nos apontam o primeiro questionamento acerca da idéia de que se admite ser a Bíblia a palavra de Deus. A Igreja Católica reconhece a Bíblia como um conjunto de 72 livros sagrados. A Bíblia dos Protestantes possui apenas 66 livros. Os livros retirados com a reforma são chamados de Deuterocanônicos, formados por: Eclesiástico, 1º e 2º Macabeus, Baruc, Tobias, Judite, Sabedoria. Além destes livros, eliminaram também trechos de Daniel e Esther.
Ora, vem-nos uma questão:
Se a Bíblia é realmente a Palavra de Deus, portanto, intocável e inquestionável, porque o Grande Martin Lutero – por quem temos grande admiração – retirou seis dos livros anteriormente existentes?
Atentemos também para um outro fato importante do ponto de vista didático. A Bíblia começou a ser escrita em línguas que já não existem e traduzidas para o Hebraico, depois para o Grego, depois para o Greco-romano, que passou para o Latim, que traduziram para o Inglês até chegar a nossa Língua Portuguesa. Alguém se recorda da brincadeira chamada “telefone sem fio” e o resultado moral que ela nos traz? Pois bem, pensemos nela ao recordarmos dos milhares de homens tradutores que, ao seu bel prazer, trouxe-nos os dados que hoje lemos na Bíblia.
Portanto, conhecendo o grande número de seguimentos religiosos que interpretam a Bíblia de uma forma particular, ao ponto de uns terem mais livros que outros, e o fato de que o livro sofreu modificações ao longo dos milênios por seus tradutores, o lógico, a razão, a fé raciocinada nos leva a crer que ele não pode ser a palavra de Deus.
A Bíblia é um livro extraordinário, que tem um valor espiritual imenso. A bíblia é, sem sombra de dúvida, um dos maiores documentos históricos do mundo cristão e é o livro mais lido do mundo. Particularmente tenho minhas ressalvas porque para lermos a Bíblia precisamos ter maturidade espiritual e cultura senão incorremos em dois problemas: fascinação e alienação.
Interessante observarmos que o maior homem do mundo, o Salvador, o Mestre, o Modelo e Guia, o Rabi da Galiléia ou simplesmente Jesus Cristo, jamais se arriscou em escrever sequer uma palavra que fosse. Tão sábio que é, entendia que amar o próximo como a si mesmo e a Deus sobre todas as coisas, resumia toda a lei e os profetas, isentando-se de ser algo de controvérsias, como foram os seus antecessores.
Não conhecemos passagens em que Jesus afirma que a Bíblia era a palavra de Deus. Ele mesmo foi a maior vítima por saber que todos os textos judaicos estavam carecendo de mudanças profundas. Jesus discordou de quase todos os ensinamentos antes Dele. Exemplo?
Vejamos:
No Livro do Exôdo, no capítulo 21 lemos um extenso texto onde Deus coloca algumas normas, citando várias vezes a morte à aquele que ferir o outro mortalmente, raptá-lo, insultar pai ou mãe. E no versículo 33 lemos: "Mas se acontecer dano grave, pagarás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, contusão por contusão."
Porém, no Evangelho de S. Mateus, no capítulo 5, Cristo disse no Sermão da Montanha: "Ouviste o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mau. Pelo contrário, se alguém te esbofeteia na face direita, vira-lhe também a outra."
Este é um das centenas de exemplos que ilustram a visão contrária que tinha Jesus dos textos bíblicos, principalmente aos que se referem a Moises. As idéias revolucionárias de Amor que Jesus pregava, contrariando os antigos ensinos, foram os verdadeiros motivos que o levaram a morte.
É no Antigo testamento que encontramos as maiores provas de que a Bíblia não pode ser considerada a palavra de Deus. O velho testamento tem tantas passagens absurdas que Deus não pode ser Deus e ter dito e feito tantos absurdos.
Há erros geográficos, históricos e científicos que chegam a derrogar as leis da natureza – considerando que tais leis são divinas e imutáveis. Nosso objetivo, ao contrário do que muitos pensam, não é de desrespeitar a Bíblia, de agredir quaisquer religiões, de ser chamado de ateu. Temos um profundo respeito por todas as crenças, sejam cristãs ou não, porque temos a certeza de que o mundo precisa de tolerância e de viver conforme Jesus nos ensinou, amando-nos uns aos outros. O nosso objetivo é puramente didático, científico.
Queremos proporcionar a disseminação da fé lógica, argumentativa embasada na ciência. Estamos no século da luz, do esclarecimento, do bem, da paz que certamente nascerá e reinará nos corações humanos. Não há como vivermos fechados em nossas crenças, atrelados as nossas limitações e tradições muitas vezes preconceituosas e arcaicas.
Citarei aqui alguns exemplos de como podemos ter a certeza de que a Bíblia, tal como está ou como foi escrita, não pode ser vista como um livro intocável, sagrado e inquestionável e que, portanto, nela só existam verdades absolutas.
Vejamos alguns exemplos de como era Deus nos textos judaicos.
1- OS ARREPENDIMENTOS DE DEUS
v Genesis VI, 6 - 7: Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até a ave dos céus; porque me arrependo de havê-los feito.
v I Samuel XV, 11: Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e toda a noite clamou ao SENHOR.
v Êxodo XXXII, 14: Então o SENHOR arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo.
Deus é uma das personagens que mais se arrependeu segundo a Bíblia. Ora, não se pode imaginar Deus, perfeição infinita, arrepender-se de qualquer coisa que tenha feito, como se a consciência e onisciência não fossem qualidades inerentes a Deus.
Sendo Deus infinita perfeição, é claro que não haveria nada porque se arrepender. O Deus que adoramos e amamos não pode está sujeito às paixões e erros humanos.
2- ATAQUES DE CÓLERA
v Êxodo XXXII, 27 – 28: E disse-lhes: Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. E os filhos de Levi fizeram conforme à palavra de Moisés; e caíram do povo aquele dia uns três mil homens.
v Samuel XXX, 17: E feriu-os Davi, desde o crepúsculo até à tarde do dia seguinte; nenhum deles escapou, senão só quatrocentos moços que, montados sobre camelos, fugiram.
v Juizes XI, 33: E os feriu com grande mortandade, desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim; assim foram subjugados os filhos de Amom diante dos filhos de Israel.
v DEUTERONÔMIO XIII, 8 – 9: Não consentirás com ele, nem o ouvirás; nem o teu olho o poupará, nem terás piedade dele, nem o esconderás; Mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele, para o matar; e depois a mão de todo o povo.
v DEUTERONÔMIO XIII, 15: Certamente ferirás, ao fio da espada, os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais.
v NÚMEROS XXXI, 7: E pelejaram contra os midianitas, como o SENHOR ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens.
Contam-se para mais de 700 ataques de cólera entre os livros de Êxodo e o segundo de Reis. E o Jeová, que deu ao seu povo o mandamento “não matarás”, aconselhava passar ao fio da espada os amigos e até irmãos com uma incrível ferocidade. Não se concebe um Deus de infinita perfeição tomado de rancor, pronto para descarregar, sobre suas criaturas, a sua tremenda ira.
E, no entanto, sendo Ele Misericordioso e Piedoso, tardio de se irar e grande beneficência e verdade, que faz justiça ao órfão e a viúva, a prática do seu amor descrito no velho testamento nos faz duvidar de que haja um pingo deste sentimento puro em Deus.
Há uma história de um jovem evangélico que viajou 300 pra fazer o vestibular de Direito. Na frente da Universidade, antes de entrar para fazer a prova, olhou para um amigo e disse:
- Vou consultar a Palavra de Deus. Se ela disser que é para eu fazer essa prova, eu faço.
Abriu diante do amigo a Bíblia e depois de alguns segundos, com os olhos tristes e confirma:
- A palavra diz que eu não devo fazer essa prova. Não devo contrariar a palavra do Senhor.
O amigo, sem conhecer que parte do texto ele tinha lido, retrucou:
- E porque você não fez essa consulta antes de pagar a inscrição e de viajar 300 km?
Ele, com aquela certeza tristonha, finaliza:
- É que o testemunho do crente tem que ser na hora do acontecimento.
(...)
Muitas são as pessoas tão radicais que nada fazem sem antes consultar a palavra do senhor, como muitos fanáticos por horóscopo. Esse tipo de comportamento, sem fazer nenhuma ofensa ou com intuito de desrespeitar o culto de casa um, de certa forma ele é alienante e fanatizante. Alguns mais alargados que dizem: “não devemos nos apegar a palavra que mata, mas sim a espírito que vivifica.” No entanto, este espírito que vivifica também é conveniência de cada um.
Existem tantos argumentos e conveniências tão humanas baseados nas interpretações pessoais de cada crença, que, muitas vezes, nos assustamos com certas posturas recorrentes à Bíblia. Recentemente um pastor dos Estados Unidos achou na Bíblia que a pena de morte é justificada perante a palavra inspirada por Deus.
Queremos, mais uma vez, ressaltar que nossa proposta não é de desfigurar a Bíblia, nem de tirar da Bíblia o seu grande valor. O que queremos é fazer uma reflexão fria, metodológica, racional, científica, pois bem sabemos que falar da Bíblia é navegar no mundo dos tabus, de contradições. Além de acharem que o livro é divino e sagrado, as pessoas também não se apegam às contradições.
Vejamos alguns exemplos simples de contradições textuais da Bíblia.
1- NA CRIAÇÃO:
a) Como pode Deus ter criado a luz e depois o sol, (Genesis 1, 13-14) se o sol é a própria luz? Como Ele pode ter criado a luz e depois criar o sol? Como Ele separou a luz das trevas, se as trevas nada mais são do que a privação da luz? Como fez o dia antes que o sol fosse criado?
b) Como podemos explicar o fato de Adão e Eva serem as primeiras pessoas a habitarem a Terra, se Cain quando matou Abel foi expulso do Oriente e, no local pra onde foi encontrou uma mulher com quem se casou e construiu uma cidade?
c) Porque se atribuiu à Serpente o papel de Satã, se a Bíblia apenas diz que a cobra era o mais astuto dos animais? Que língua falava essa serpente? E como andava antes da maldição de ser condenada a passar a se arrastar e comer pó? Será que a serpente andava de suspensório, com dois pés embaixo? Como explicar a desobediência da serpente se nunca se ouviu falar em cobra que comesse pó e como explicar que tantas mulheres possam dar a luz sem dor a tantos homens, comam o seu pão sem precisar do suor do seu rosto porque está em Genesis 3, 16-19, contrariando o que o Cristo dizia? Como poder ser punido com tanto rigor um ente primitivo como Adão, que não sabia distinguir entre o bem e o mal? E a prova disso se encontra no versículo 22, onde está escrito: “eis que o homem é como um de nós sabendo o bem e o mal. Cain cometeu um fratricídio e não mereceu uma pena tão severa, a despeito da maldição: “fugitivo e vagabundo serás na Terra” (Genesis 4, 12). Foi banido para Nodi e lá construiu a cidade com sua mulher, que não se sabe de onde ela veio.
2- A ARCA DE NOÉ:
a) Na história da arca choveu tanto que inundou a Terra completamente. A primeira questão é lógica: de onde veio tanta água se as águas do céu é fruto da evaporação das águas da superfície terrestre? Ainda a questão da medida da arca, que transformando hoje para as nossas medidas, teríamos uma arca com 60 metros de comprimento, por 37 de largura e 20 de altura e ali se tinha um casal de cada bicho. E o que interessante é saber como é que Noé e sua turma fizeram para não deixar a cobra não comer o sapo, o leão não se alimentar do cervo? Como eles alimentaram tantos animais se não havia um depósito de alimentos pra tantos animais? Como puderam tão poucas pessoas, limpar tantos dejetos de tantos animais?
3- O SOL PAROU DE GIRAR EM TORNO DA TERRA
a) Em Josué 10, lemos que Josué estava guerreando contra os Amorreus, que não eram tementes a Deus. E pelo que já sabemos, Deus, pra mandar matar e fazer chacinas no Velho Testamente era de uma ira sem igual. E o que diz essa passagem? Estava entardecendo e Josué não teria tempo para matar todo mundo daquela tribo, porque naquele tempo não se tinha luz elétrica. Então Deus fez uma façanha, para agradar a Josué: parou o sol no firmamento para que ele matasse até o último dos Amorreus, que já estavam destroçados com as pedras que caíram do céu jogadas por Deus. Quem escreveu este texto não conhecia nada de astrofísica. Alunos do ensino fundamental aprendem nas aulas de geografia que não é o sol que está girando em torno da Terra. Há quem defenda com a famosa frase feita: “Para Deus, nada é impossível”, que Deus poderia ter parado a Terra, querendo justificar o injustificável. Deus não pode está criando uma Lei e depois derrogando por capricho humano. As leis que regem o Universo as Divinas, portanto, perfeitas. Não podem está mudando de uma hora pra outra. Se Deus parasse a Terra, ele estaria parando o maior e mais rápido veículo que conhecemos. Seria a maior das catástrofes do sistema solar. A Terra está girando numa velocidade de 180.000 km/h. imaginemos, agora, um freio a 180.000 km/h! todas as coisas animadas e inanimadas seriam jogadas ao espaço. Ondas maiores que o Himalaia cobririam a Terra e florestas inteiras seriam arrancadas do chão. Tudo isso apenas para Josué matar os Amorreus em nome de Deus. É muita manteiga pra pouco pão. Mas as pessoas se apegam as letras porque acreditarem que ta tudo certo, que tudo é inquestionável na Bíblia e não a lêem com raciocínio.
b) Outro fato interessante escrito em I Reis XX, 27: “Eram como dois pequenos rebanhos de cabras”. Como um grupo tão pequeno de pessoas puderam, num só dia, matar 100.000 Sírios? E ainda por cima derrubaram o muro da cidade matando mais 27.000 restantes. Que muro pequeno esse não?! Como é que se mata cem mil pessoas em um dia sem armas poderosas? Naquele tempo as armas eram artesanais, facas, espadas, bastões de madeiras, lanças. A bomba atômica que caiu em Hiroshima e outra em Nagazaki matou 80.000 na explosão e 200.000 foram mortos com os efeitos radioativos durantes seis meses.
c) Como admitir que Deus afirmou: “os pais não morreram pelos filhos e nem os filhos pelos pais, mas cada qual morrerá pelo seu pecado.” Lemos em Deuteronomio 24, 16. Até aí, tudo bem. Mas, ele se enfureceu tanto quanto o Rei Saul ao ponto de assolar o povo com uma fome de três anos, com raiva de Saul. Deus só se aplacou quando Davi (Samuel 21,) mandou matar setes netos do seu antecessor.
d) Não parece muito verossímil que o anjo do senhor tenha numa só noite exterminado 185.000 assírios; nem que 120.000 midianitas tenham sido mortos pelos 300 de Gideão, descrito em Juizes 8, 10. Fazer guerras naquela época superava a potência nuclear que se tem hoje. Os Judeus eliminaram em um só dia 120.000 da tribo de Judá, todos homens poderosos, por terem abandonado o Senhor Deus, de seus pais. E o motivo da morte é uma das coisas mais incríveis. Levaram cativas 200.000 mulheres e crianças do seu povo irmão que foi feito escravo. O que dizer dos 500.000 homens escolhidos que caíram feridos de Israel e o que dizer de 1 milhão de etíopes que foram destroçados sem ter restado nenhum sequer? Será que a Etiópia já dispunha de uma população de um milhão de habitantes? Estes dados estatísticos são impossíveis. Não existiam nações com esta população naquele tempo.
e) Elias era profeta de Deus, mas, cometeu várias atrocidades. Matou 450 profetas de Baal (Reis 18, 22 e 40). Mesmo assim, foi arrebatado ao céu no carro de fogo, coberto de glória, por vontade do Senhor. Seu sucessor Elizeu só porque um grupos de rapazes caçoavam dele com a irreverência própria da juventude, amaldiçoou-lhes em nome de Deus, saindo do bosque com duas Ursas, que despedaçaram 42 meninos (II Reis 2, 23-24).
4- DEUS FOI VISTO POR ALGUÉM?
a) No Novo Testamento, João afirma que Deus nunca foi visto por ninguém. Em João 1, 18: “E ninguém jamais viu a Deus.” Em 14, 12, ele fala: “Aquele a quem nenhum dos homens viu, nem pode ver”. Em Timóteo 6, 16, também registra que jamais se viu a Deus. “Não que algum homem tenha visto ao Pai.” Afirmação feita por Jesus em João 6, 46.
b) No Antigo Testamento lemos que Deus disse: “Eu apareci a Abraão, a Isac e a Jacó. E Moises, Arão, Nadibi e Abium e mais 70 anciões viram Deus. Falava Deus a Moisés face a face como qualquer homem fala ao seu amigo (Êxodo 33, 11). Contudo advertiu Deus: “Não poderás ver a minha face, porque homem nenhum verá a minha face e viverá”. Em seguida abre uma exceção: “Me verás pelas costas, mas minha face não se verá.” E no entanto o próprio Deus afirmou: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor”. Em Números 12, 8: “Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas.” E finalmente, em Reis 11, encontramos “Deus por duas vezes apareceu a Salomão.”
c) Afinal, Deus foi visto por alguém? Não precisamos responder esta indagação porque sabemos que ninguém jamais viu a Deus e que apesar das aparentes discrepâncias podem ser atribuídas ou a intenção de enfatizar a experiência para valorizar o ensino ou ao fato de terem visto espíritos superiores, confundidos com Deus.
Só por estes exemplos podem perceber logicamente que a Bíblia não é tão inerrante quanto se pensa.
Houve um pastor protestante que teve a audácia de mostrar que existia a proibição da prática do Espiritismo na Bíblia. Havia no livro de Deuteronômio um texto que dizia que era proibido consultar a médiuns, adivinhos e qualquer prática do Espiritismo. Absurdo. As palavras médium e Espiritismo foram inventadas nos anos 50 do século XIX por Alan Kardec. Se a Bíblia foi escrita há tantos anos atrás, como pode haver duas palavras que não existiam no vocabulário dos povos antigos? Recordemos que a própria Bíblia assegura que ninguém modificará um só til. E alguns tradutores preconceituosos do movimento protestante acrescentaram duas palavras de uma vez só, num pequeno texto.
Será que estes erros estão apenas nas antigas escrituras? Só o Antigo Testamento foi modificado e só ele contem tais discrepâncias que ferem a fé e a lógica? O Novo Testamento também sobre do mesmo mal. Observemos que dos quatro evangelistas, dois não conheceram Jesus, Marcos e Lucas. João escreveu sobre Ele quando já tinha 80 anos, na ilha de Patmos e seu Evangelho só foi publicado 60 anos depois que o Cristo voltou aos Céus. O Evangelho de Mateus foi publicado 50 anos depois.
Ninguém nunca ouviu falar no Sermão da Planura de Lucas. Em Mateus é chamado de Sermão da Montanha. O texto de Lucas diz que Jesus desceu até a planura e exclamou... Enquanto que o texto de Mateus diz que Jesus subiu ao monte e começou a ensinar... No sermão descrito por Lucas Jesus afirma: “Bem aventurados os pobres, porque deles é o reino dos céus.” No sermão relatado por Mateus Ele diz: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Observemos que há dois detalhes importantes que precisamos analisar. Primeiro: Jesus subiu ou desceu? Ele ensinou no alto do monte ou na planura? Claro que isso não importa do ponto de vista religioso, mas, é uma prova de que nem os evangelistas se entendem quanto aos detalhes da vida de Jesus. O segundo ponto é quando Lucas não escreve em seu texto a palavra “espírito”. Se ele apenas disse que Jesus disse “bem aventurados os pobres, porque deles é o reino dos céus”, convenhamos que exista muito pobre que não merece o reino dos céus. Mateus, de forma mais coerente, fala dos “pobres de espírito”. Haveremos de concordar que o termo usado por Mateus é bem mais próximo das idéias revolucionárias do Cristo. As idéias dos dois evangelistas mostra que há pobres de espírito e há espíritos pobres e que as informações que saiam de boca em boca, como era a tradição, foram perdendo as suas bases reais e verdadeiras, as suas origens verídicas.
Há passagens outras no Evangelho que não tem nenhum sentido se reconhecermos Jesus Cristo como o enviado de Deus. Frase que dizem que teria dito que não podem ser verdadeiras. Vejamos alguns exemplos. Jesus disse, quando estava na cruz: - Pai, porque me abandonaste? E outra: - Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito. Se Jesus tivesse dito que o Pai havia o abandonado, ele seria um fraco e não o salvador do mundo. Ele estaria blasfemando contra Deus, supondo que Deus havia sido injusto com Ele.
Um evangelista diz que as últimas palavras do Cristo foram: “- Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.” Outro diz que Ele apenas disse: - “Pai, porque me abandonaste?” O outro diz que Jesus disse: - “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” O e último não disse nada sobre o que supostamente foram as últimas palavras do Cristo no alto do madeiro. Então, o que Jesus disse na cruz? As três frases, uma delas ou nenhuma delas?
Outra passagem sem sentido. Jesus ter chicoteado nos vendilhões no Templo só porque estavam ganhando o pão com suas vendas. Ele tinha autoridade moral para repreender sem precisar bater nas pessoas, mostrando-se uma pessoa violenta. Gandhi, muito menos que Ele, jamais reagiu com violência. Em uma das suas passeatas, um soldado britânico o batia e ele apenas olhava com ternura enquanto se levantava. O soldado batia e ele mais uma vez olhava com amor. Na terceira, o soldado se sentia como se estivesse batendo no próprio pai. Gandhi nunca reagiu. Ele foi o autor da não-violência. Ele não era “contra” a violência, porque se ele fosse contra, ele seria também violento como foram os ingleses com seu povo. Era adepto a não-obediência pacífica. Preferia morrer, mas não reagia com violência. Isso é o que podemos de chamar de coragem. E Jesus ter reagido com violência? Não faz sentido.
O que é verdade? O que é mera interpretação humana? O que é mentira? O que precisamos fazer para não incorrermos em erros repetidos historicamente? Como ver a Bíblia do ponto de vista religioso? Qual deve ser a nossa postura, ENQUANTO CRISTÃOS, diante do século XXI que trouxe a luz da Razão pela Ciência? Devemos esvaziar as igrejas? Rasgar a Bíblia?
De forma alguma deveremos deixar nossas convicções. Em hipótese alguma devemos repetir erros dos movimentos inquisitórios da França do século XIX, queimando livros. Já basta a dívida com a natureza de derrubarmos árvores para fazer papel.
O que nós precisamos é nos abrirmos para verdades outras. O que precisamos é de nos desvencilharmos de preconceitos judaicos de 500 anos de história. O que precisamos é nos reconhecemos como irmãos que se toleram, que se abrem para novas formas de enxergar o mundo.
Jesus Cristo é o maior exemplo de que nós precisamos crescer e aprender muito espiritualmente para que possamos estar, todos, sem nenhuma exceção religiosa, ao Seu lado, vencendo o mundo como Ele venceu e enxergando no outro a possibilidade única de chegarmos ao “paraíso” prometido por Ele.
E se Ele prometeu, eu sei que Nele há a verdade. Não sou um homem de fé. Sou um homem de convicção. Quem tem fé, acredita. Quem tem convicção simplesmente sabe. E eu tenho convicção de que a Bíblia não é palavra de Deus, nem foi Ele quem inspirou. Mas tenho, como cristão que sou, o profundo respeito por todos que acreditam, porque não me reconheço como dono da verdade e não a ninguém reconheço como detentor da verdade absoluta. Eu apenas me recordo as palavras do Cristo:
"Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará".
Algumas pessoas se sentem perdidas quando diante dessas afirmações. Aonde vou me segurar se está tudo errado? Mas, em verdade, é preciso concebermos algumas idéias muito simples: a bíblia é um livro sem valor? Não. A bíblia é um livro sagrado? Não. A bíblia foi escrita ou inspirada por Deus? Não. Foi escrita por homens inspiradas por espíritos, alguns superiores e outros inferiores.
Tem muito haver com a época, mas não contas atrocidades. Deus, sendo Amor, não poderia ter ensinado tantas matanças. Por mais que seja atrasado um povo, não se justificam tantas maldades, tantos crimes. Temos que considerar que a bíblia carece de reformas, de reconstituições dos escritos e lembrar sempre de que a bíblia é um livro sagrado para os cristãos ocidentais.
O Corão é livro sagrado dos mulçumanos. Tem o livro sagrado dos Budistas o Tripitaka. Tem o livro sagrado dos Hindus: o Rig-Veda. Todos estes livros foram modificados com anos, porque eles são passiveis de modificações e atualizações e interpretações diferentes das originais. Todos estes livros foram desfigurados na sua essencia
O guia dos Cristãos é Jesus. O guia dos Budistas é Buda. O guia dos mulçumanos é Maomé. Moisés é o líder dos Judeus, que eram liderados na época de Jesus pelos Fariseus, Saduceus e Essênios. Os hinduístas seguem Krishina. E entre Krishina e Jesus tem algumas coincidências interessantes.
Aliás, tem até a história de um pastor protestante que cruzou com um templo budista. De gravata, paletó e com a bíblia debaixo do braço, ele olhou e viu que na frente daquele templo imenso, um monge orava. Ele se aproximou do monge e perguntou:
- Você conheceu Jesus Cristo.
E o monge responde:
- Olhe, ele não freqüenta o nosso templo. Mas aí na frente tem um bairro de novatos, o senhor pergunta por lá e talvez alguém o conheça.
Se nós chegarmos a uma filial da igreja universal e perguntar a algum daqueles freqüentadores se conhecem Sidarta Gautama, eles vão responder a mesma coisa.
O que temos que entender é que todos os livros sagrados de todas as religiões sofreram deformações porque são passiveis de atualizações hoje. Todos eles foram desfigurados porque os homens são os mesmos em qualquer parte do planeta. Interpretam as escrituras sagradas de acordo com as necessidades ideológicas, políticas, sociais e pelas conveniências religiosas e até por interesses institucionais religiosos.
Ainda, precisamos convir um detalhe. Buda ascendeu na Índia 600 anos antes de Cristo. Ensinou coisas notáveis como o Cristo ensinou. Krishina ascendeu 2000 anos antes do Cristo. Falou de reencarnação de forma majestosa, com uma beleza inconfundível. A história do Krishina é muito semelhante ao do Cristo. Maria foi fecundada pelo Espírito Santo. Era uma virgem. A mãe de Krishina foi fecundada virgem por um raio de sol. O rei mandou matar todas as crianças do sexo masculino para poder alcançar a cabeça do Messias. O mesmo ocorreu com Krishina. Jesus nasceu numa manjedoura (outra história da corachinha). Três reis magos não existem em passagem nenhuma do Evangelho. Krishina também nasceu numa palhoça. Jesus fez um Sermão da Montanha, considerado a poesia mais linda do mundo, em todos os tempos. Krishina também fez sermão e disse coisas lindas de se ouvir: “Sede como o Sândalo que perfuma o machado que o golpeia”. Jesus disse: “Quando alguém te bater um lado da face, daí o outro lado”. Ou seja, as mesmas coisas, os mesmos ensinamentos.
Na verdade, Deus precisou falar através de seus emissários em diversas épocas da humanidade, em diversos lugares, culturas e etnias do planeta. Jamais as mensagens do Cristo terão ressonância no mundo mulçumano. Jamais os cristãos verão Buda como messias de sua época. Maomé não será visto como filho de Deus aqui no maior país católico do mundo, nem Jesus é o messias no mundo oriental. E Jesus sabia de tudo isso antes mesmo do começo dos tempos.
Jesus é um educador, um psicólogo, um terapeuta do seu tempo e todas as suas parábolas eram agrárias, condizentes com a cultura do povo. Porque que Jesus não fez a parábola da bicicleta. Porque não existiam bicicletas. Era a parábola do bom samaritano, a parábola da noite de núpcias. Ele se utilizada de elementos alcançáveis. Mas também há parábolas absurdas que não condizem com a figura pura do Cristo, como por exemplo a parábola da figueira, que é uma bobagem tremenda e que nem temos interpretação pra tanto. Pode ter sido um texto mal escrito, mal interpretado por Lucas. Conta que Jesus estava com fome, pediu fruto a figueira e como a figueira não deu Ele amaldiçoou a figueira, que secou no mesmo instante. Será que Jesus fez isso mesmo? Será que foi assim como está escrito?
Há outras passagens e interpelações muito fortes atribuídas a Jesus. Frases como: “não julgueis para não serdes julgados.” Coitado os juízes e dos advogados, pois estão todos no fogo do inferno. Perguntamos: quem é que não julga? Sem julgamento não há evolução. Julgamos a escola que nossos filhos irão estudar, o supermercado onde iremos comprar, o tomate da feira julgamos se serve ou não. Todos julgamos e é necessário se façam julgamentos. O Cristo pode ter dito: “Não condeneis, para não serdes condenados.” Faria mais sentido. Ele mesmo julgou quais os doze que o seguiriam, qual a melhor hora de falar ao povo, se carregaria a cruz, se perdoaria Pilatos. Julgar é tomar um posicionamento, ter uma atitude.
Outra passagem: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao pai senão por mim.” Jesus não poderia ter dito isso, porque sendo Ele o espírito mais avançado, o governador da Terra, sabia que muitos foram ao Pai antes dele. Se assim não fosse, o que aconteceu com todas as pessoas que vieram antes dele? Será que todos os profetas não foram ao Pai? Moisés não teria conseguido arrastar devotos ao Pai? Será que Buda e Krishina não conseguiram levar devotos para os Céus, para Deus? Talvez o Cristo tenha dito: “Eu sou o caminho da verdade e da vida; muitos vão ao pai através de mim.” Mas como as pessoas querem fazer Jesus de Deus, acharam que a única salvação e o único caminho era Jesus.
Aliás, essa idéia é defendida pelos seguidores da seita das Testemunhas de Jeová. Eles acreditam que estão entre uma das 12 tribos de Judá que irão para o céu, enquanto que os outros ficarão aqui no inferno. Ou seja, mais de 6 bilhões de pessoas que não estão em uma das doze tribos, já estão com ingresso comprado para o inferno, porque eles se auto-definem como sendo “salvos” e nós, condenados. Portanto, sendo Jesus um espírito excelso não poderia desconhecer os grandes lideres que passaram por aqui antes dele, inclusive, acredito eu, enviados por Ele próprio para iniciar o seu trabalho.
Todas as palavras que o Cristo disse foram interpretados por homens que não tinham maturidade para alcançar as suas verdades. Vejamos o exemplo simples. Os próprios apóstolos não estavam junto com Ele no dia do calvário. O Judas Escariotes era tão rude, ignorante de saber que achou que entregando Jesus, estaria colaborando para que o Cristo tomasse o poder e implantasse o seu reino, porque Jesus dizia que era rei e que tinha um reinado onde ninguém mais padeceria. Aquele beijo não foi o da traição, foi o beijo da fidelidade. O Judas quando olhou para Ele estava conspirando uma grande ação política. Ele queria que o Cristo tomasse o poder de Roma e mostrasse quem era o líder daquele povo. E quando ele estava na ceia e o Cristo disse: “- Vai logo filho e faz o que tem de fazer”, ele pensou: “- Chegou a hora”. Ele achou que entregando Jesus começaria a revolução e ao aceitar as moedas, ele o fez por decorrência. Mas quando ele viu a bobagem que havia feito e quando soube que o reino de Jesus não era desse mundo, ele arrependeu-se de tal forma que se matou. Era um fraco e não entendeu a idéia de reino do Cristo.
Engraçado é que todos os anos fazem a festa de Judas, o traidor. Queimam e esfaqueiam como ato de vingança pela sua traição com o Cristo. Nascem filhos com nomes de Mateus, Marcos, Lucas, João, Pedro, mas ninguém coloca o nome de Judas. Hoje, as pessoas que queimam Judas na semana santa só porque ele recebeu as moedas, vende Jesus a grosso e a varejo mundo afora e não se arrepende um só instante do que faz.
Então, como fica o Espiritismo diante da Bíblia?
A primeira coisa que temos que recordar é que este livro sagrado é para uma parte do ocidente. Os budistas e mulçumanos tão o dobro dos adeptos cristãos e eles não consideram a bíblia melhor que os livros deles. Os hindus não consideram nossos evangelhos melhor do que o Mahabharata, do que os outros livros do Rig-Veda. Outro detalhe é que a bíblia é mais nova que os livros orientais. Eles trouxeram informações sobre Deus e o Universo antes da bíblia. Jesus na Índia é considerado um simples santo, um profeta no máximo. É preciso ter uma visão holística de tudo isso. Tudo que existe na Terra, existe por uma necessidade e preenche uma finalidade.
Todos os grandes líderes não escreveram nada. Nem Buda, nem Krishina, nem Maomé. Escreveram por eles. Aconteceu o que aconteceu com o que o Cristo disse, imagine com todos os outros. Tudo deformado para está de conformidade com um pensamento centralizador e dominador.
Vejamos o que aconteceu com os nossos santos da igreja católica. Todos os santos têm coroa. Vejamos a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Praia como é enfeitada com bastão na mão, coroa, mantos. Porque esta imagem é a imagem dos Reis e dos poderosos. E todos os santos eram associados ao poder.
Na China o Buda é gordo. Na Índia o Buda é magro. Na China todos os Reis das dinastias eram obesos, não faziam nada a não ser comer e dormir. Eram preguiçosos e indolentes. Portanto, se o Rei era gordo, a imagem do Buda teria que ser gordo também, para que o Budismo pudesse se manter forte, ao lado das grandes dinastias. Na Índia, os homens mais puros, os Avatás eram todos magros, não comiam carne, faziam jejum como Buda fez. Assim, o Buda também teria que aparecer magro para os devotos indianos.
Os homens são os mesmos. Assim como as deformações sofridas no Cristianismo, ocorreram também em todas as religiões.
No movimento Católico nós temos diversas divisões. Igreja Católica Apostólica Romana (Girafas Natalinas, Girafas Pascais), Igreja Greco Católica Melquita, Igreja Greco Católica Croata, Igreja Católica Liberal, Igreja Ortodoxa: Igreja Armênia, Igreja Ortodoxa Ucraniana, Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Copta.
No Protestantismo (Lutero) nós temos: Adventismo, Anabaptismo, Anglicanismo, Calvinismo, Luteranismo, Metodismo, Pentecostalismo, Neo-pentecostalismo, Presbiterianismo (Calvino), Cristianismo Esotérico: Catarismo, Gnosticismo, Rosacrucianismo, Maniqueísmo, Testemunhas de Jeová e os Quakers. Há ainda nomes engraçados: “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias” (Mormonismo). Os santos dos primeiros dias não servem?
Conhecemos o Judaísmo, Islamismo e a Fé Bahai. Há também as Religiões Não-abraâmicas: Messianismo, New Age, Seicho-no-ie, Siquismo, Zoroastrismo (Zoroastro) e as Religiões Dharmicas: Budismo (Buda), Bramanismo, Confucionismo, Hinduísmo (Krishna), Jainismo, Taoísmo e, por fim, temos as Religiões pagãs: Batuque, Candomblé, Druidismo, Vodu, Umbanda (genuinamente brasileira), Xamanismo, Xintoísmo e a Wicca.
Todas estas religiões são as mesmas em seus comportamentos e atitudes porque viraram instituições. Os grandes lideres não pregaram religião alguma. Nem Buda, nem Krishina, nem Cristo, nem Maomé. Eles pregaram a religiosidade. O homem é que não entendeu e quis fazer religião da religiosidade.
Mas, e o Espiritismo?
Primeira coisa que temos que conceber é que a Doutrina Espírita é a única religião cristã do ocidente que não se fundamenta na Bíblia. Infelizmente, aqui no Brasil, o Espiritismo quase que perdeu por completo a sua essência original, porque os espíritas querem fazer da Doutrina uma religião segundo os Evangelhos. Não é Espiritismo que tem que ser conforme o Evangelho, mas o Evangelho é que tem que ser segundo o Espiritismo.
A concepção Espírita é superior a concepção dos Evangelhos, porque os Evangelhos não explicam o Espiritismo, mas o Espiritismo explica os Evangelhos. A diferença fundamental ente a Doutrina Espírita e as outras religiões cristãs é que o Espiritismo não se fundamenta na bíblia.
Quando Allan Kardec lançou O Livro dos Espíritos, a Doutrina se inaugurou na Terra. Onde estavam os Evangelhos? Onde estava a religião? Segundo livro da codificação é o Livro dos Médiuns. Onde estavam a religião e os Evangelhos? Terceiro livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nós queremos fazer deste terceiro livro o único e a base para a Doutrina.
Observemos uma frase poderosa de Emmanuel: “O Espiritismo é o Cristianismo redivivo.” Se é redivivo é porque estava na UTI da história, prestes a morrer. O Espiritismo veio com a missão que é ressuscitar os ensinamentos do Cristo na mentalidade contemporânea do povo sem igrejismo, sem rituais, sem hierarquias, sem símbolos, sem altares, sem pieguismo, sem cerimônias, sem paramentos. Uma religião livre, uma religião natural. A ligação da criatura com o Criador, como Cristo pregava. O que Jesus ensinou senão leis e ensinamentos espirituais? Os mesmos ensinamentos que espíritos estão ensinando pelo mundo, dentro das casas espíritas. Porque que temos que fazer do Espiritismo um partido de crença, uma religião a mais? O Espiritismo é a religião e não uma religião a mais.
A percepção sobre o Evangelho também deve ser muito clara. O que o Evangelho? Quando Cristo disse: “Ide e pregai o Evangelho a todas as criaturas”, não havia livro escrito. Lucas e Marcos não conheceram Jesus. Mateus e João escreveram muito tempo depois da ascensão do Cristo. Então, que Evangelho era esse que ele mandou pregar?
A palavra “Evangelho" (do grego "ευαγγέλιον" / "euaggélion") é composto de "eu-" ("bom") + "aggelion" ("notícia"). Ou seja, “A Boa Nova” é o termo mais coerente para a tradução da palavra. Foi isso que Jesus mandou pregar. Ele pediu que seus discípulos pregassem aquele conhecimento novo: que havia mundo espiritual, que nós somos eternos, que existe causa e efeito, que o homem teria que conquistar as virtudes para chegar até Ele, que existiam espíritos, que havia reencarnação. Era essa a Boa nova.
O Evangelho, a Boa Nova que Jesus se referiu não foi referente aos livros, mesmo porque, como dissemos, eles não existiam. Muitos pensam que seguir o Evangelho é está dentro das igrejas e decorando versículo por versículo, numa lavagem de números infinitos que não levam a nada. Se a mazelas do mundo pudessem ser resolvidas pelas letras decoradas, os protestantes já teriam dominado o mundo, porque eles sabem de cor cada versículo.
O que percebemos é que essas letras dos evangelhos só trouxe guerra santa, 500 anos de inquisição, de intolerância religiosa, divisões, partidarismos de todos os níveis. O Espiritismo não tem que fazer este tipo de Evangelho e sim, seguir a recomendação de Jesus, a Boa Nova. Infelizmente os Espíritas no Brasil lêem mais bíblia do que os livros da codificação. Todos ficam com receio, com medo questionar a bíblia porque crêem que tudo ali está certinho. Não, a bíblia é cheia de contradições. Se nós não colocarmos os princípios espíritas na bíblia, ela é um repositório de incongruências.
Observemos que Kardec não pode usar tudo que estava nos Evangelhos. Apenas usou os ensinamentos morais para os espíritos interpretarem os ensinamentos do Cristo porque as outras informações estavam tão deformadas que não havia como usá-las com exatidão, com certeza do que estava sendo ensinado. O Espiritismo se fundamenta nas leis da natureza. Os seus princípios são leis naturais. As mesmas leis que Jesus se baseou pra ensinar as verdades eternas. Reencarnação, existência e imortalidade da alma, determinismo e livre arbítrio, causa e efeito, Deus, corpo espiritual, comunicabilidade com os espíritos, evolução, pluralidade dos mundos habitados. Tudo isso são leis da natureza e são os princípios básicos da Doutrina que jamais estarão ultrapassados. Todas elas são leis de Deus e, portanto, são imutáveis. Agora, como o homem interpreta estas leis, muda todos os dias.
A Doutrina Espírita tirou Jesus da cruz que todo mundo adora e colocou-o ao nosso lado, pra caminhar como Ele fazia com os apóstolos, inspirando as nossas atitudes e nossas ações. O Cristo humilhado e fraco que todos cultuam não existe no Espiritismo. O Cristo foi um valente, muito maior do que todos os profetas e líderes que o mundo já conheceu em toda a sua história.
O que é Espiritismo na Terra senão um conhecimento novo, uma tecnologia de inteligência para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que pisam no chão do planeta. Precisamos acabar com a idéia de que o Espiritismo é um partido de crença. O Espiritismo é um agente transformador. Veio para mudar o mundo. Nós poderíamos fazer com o Espiritismo o maior movimento cultural da Terra. O Espiritismo é uma Doutrina de gigantes, mas está nos ombros de muitos pigmeus. Tem um incêndio pra ser feito de iluminação de consciências e estamos todos segurando a luz de uma vela, com tanta escuridão e ignorância na Terra.
Portanto, precisamos de certa forma, acordar e sair desse atavismo religioso que o passado nos prende. São 16 séculos de catolicismo em nossos arquétipos espirituais, em nossas recordações do passado. Temos que abrir a nossa mente e perceber que Jesus nos chama, que chegou a hora. Nós que sair da nossa zona de conforto e avançar um pouco mais, construindo espaços de espiritualidade na Terra. O Cristo precisa de nós para o trabalho ser feito. Ele precisa dos nossos braços, das nossas ações, das nossas vontades, da nossa voz.
O homem precisa chegar um nível de transcendência a um nível de fé onde igreja nenhuma mais importe. Essa é a verdadeira fé. A fé que transcende os templos, as fronteiras, que transcende as opiniões, que está legitimada na razão, como dizia Kardec: “A verdadeira fé é aquela que encara a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.” Ele estava colocando a crença atrás da convicção, porque o espírita não é um homem de fé, espírita é um homem de convicção. Quem tem fé acredita, quem tem convicção sabe. A fé se apóia na crença e a convicção na certeza.
As religiões são como vidraças. Do lado de fora da vidraça está a realidade. E você, que está dentro de uma religião está sempre vendo a realidade através da vidraça que te mostra. Só que há vidraças que são de vidro fumê. Outras são vidraças marteladas que distorcem qualquer realidade. E há vidraças que são de vidro cristalino. (Kalil Gibran Kalil).
O espiritismo é de vidro cristalino.
Este texto é uma homenagem ao grande confrade baiano Cloves Nunes por quem nutrimos uma estima e uma admiração por todos os seus trabalhos e dedicação ao movimento. Posso dizer que sou resultado de muito do que já aprendi com ele.
Cloves, Muito Obrigado.