Costumeiramente me dirijo diretamente para a sala de aula, não passando pela sala dos professores. Ao chegar à porta da 8ª série A, um aluno me olho sorrindo, segura no meu ombro direito e fala: - “Eu nunca tive, em toda a minha vida, e nunca vou ter, um professor como o senhor.” Foi o melhor bom dia que tive na escola, nos últimos tempos. O mesmo aluno, após eu agradecê-lo pelas suas palavras gentis, ajuntou com a seguinte reclamação: - “Só falta o senhor fazer uma viagem com a gente.”
Para muitos alunos, assim como para muitos colegas de profissão e a maioria da sociedade, a Geografia só faz sentido se for atrelada ao fator turístico de seus conteúdos. Todos reconhecem a importância da Biologia, da Física, da Matemática, das Línguas, mas poucos entendem que a Geografia transcende a idéia de belas narrativas de viagens agradáveis de ouvir ou de lembranças penosas de alguma passagem de suas vidas.
Diante desta preocupação do meu aluno, prestes a entrar no Ensino médio, eu me fiz duas perguntas: qual o verdadeiro papel da Geografia e qual o valor que ela tem na vida do aluno? É óbvio que vieram muitos outros questionamentos do tipo: estou cumprindo de forma justa e ética a minha função de Educador?
Para me ajudar nessa análise, recorri a um artigo científico intitulado “Papel e valor do ensino da geografia e de sua pesquisa”, publicado originalmente in Boletim Carioca de Geografia, ano VII, 1954, de onde faço minhas ressalvas e considerações acerca do papel da Geografia em minha vida.
Quantos não se limitam a impor listas de Estados e capitais, dos pontos cardeais, das estações do ano, dos paralelos e meridianos, em suas aulas de Geografia ou quantos habitantes existem no planeta? Infeliz do aluno que desconheça estes dados, sem o menor sentido para a sua vida porque sequer reconhecem a sua identidade no cosmos. Já ouvimos dizer que a fraqueza em conhecimentos geográficos é um sinal de inferioridade no desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa.
Um dia a minha filha chegou da escola decepcionada com a sua nota em Geografia. Ela não havia tirado a nota do topo. Me mostrou onde havia errado e colocou a culpa em mim. Analisei a prova e não encontrei erro que justificasse a nota 9,0 da minha primogênita. Até que ela me explicou, apontando o erro:
- O Senhor disse que a Amazônia não é o pulmão do mundo. A professora fez essa pergunta na prova e eu respondi o que o senhor tinha me dito. Ela me disse que eu errei.
Procuramos a direção escolar com a prova na mão. Mostramos a questão que grifada como errada e a pessoa que nos recepcionou espantou-se, afirmando: -“Até eu que não sou professora de Geografia sei que este conceito sobre a Amazônia está errado.”
A nota foi revista e reconhecida como correta pela professora. Não precisamos dar detalhes de como a imagem da professora ficou manchada na escola, sem como foi difícil pra ela perceber o quanto as suas aulas estavam fora do contexto.
Quem somos nós para julgarmos e condenarmos colegas de profissão! Mas, é importante discutirmos o que estamos fazendo nas salas de aula, o que é conteúdo indispensável na vida dos alunos e como estes devem ser vistos na prática da docência geográfica, em qualquer nível de ensino. Em síntese: qual o papel da Geografia na minha vida?
Anos atrás, quando freqüentava a Biblioteca Central da UFPE, após sair do sexto andar do CFCH, eu encontrei um autor (que graças a Deus perdeu-se no esquecimento) que escreveu uma das frases mais tristes e esdrúxulas que eu conheço. Eu pesquisa sobre os diversos conceitos da Geografia e buscava construir o meu próprio conceito. A frase era: “Das muitas coisas sem serventia, uma delas é a Geografia.”
É provável que esta frase encontre ressonância na vida de muitos alunos que juntos com outros inúmeros professores, criando em torno de suas vidas duas hipóteses: ou a Geografia é irmã intelectual mais nova do Turismo ou ela uma ferramenta de tortura gratuita imposta aos discentes. Qual destas duas é a pior das hipóteses? Eu não sei. E se as duas são realmente corretas e eu esteja errado? Significa dizer que a Geografia é, sem dúvida, sem serventia, quando não perigosa para a sociedade.
É preciso, portanto, fechar todos os departamentos de Geografia nas Universidades, excluí-la do currículo nacional como matéria obrigatória e extinguir associações e conselhos federativos de Geografia espalhados pelo mundo, haja vista que a mesma não contribui para o enriquecimento das mentes jovens e a sua formação.
Seria possível provar a sua utilidade num mundo onde toda e qualquer ciência é também uma técnica, onde toda pesquisa leva a dar um instrumento útil à coletividade? Seria possível provarmos que a Geografia é indispensável para a formação de uma consciência política, social, coletiva? É possível comprovarmos que as ciências geográficas evoluem na medida em que o homem se modifica e estas o ajudam a enfrentar as transformações mundiais?
É mister, portanto, estabelecer o valor a Geografia no ensino e determinar sua utilidade como moderno instrumento de trabalho. Se a Geografia é matéria decorativa, memorizadora, pouco importa. Mesmo sendo uma idéia pseudo da mesma, precisamos entender e aceitar que o papel da memória na vida acadêmica é indispensável. É sabido que nada se pode aprender sem o uso indispensável da memória e sem se recorrer às nomenclaturas.
Para aprendermos Matemática (matéria chamada de lógica) é preciso que registremos na nossa memória regras de fórmulas das mais variadas, portanto, decorando as mesmas. Como entendermos fatos relatados pela História se não tivermos uma base de dados com nomes e datas? O conhecimento de Literatura só será bem absorvido se o aluno tiver retido dados cronológicos de autores e obras, formando uma base rica e sólida.
Por fim, a ciência geográfica requer de cada um de nós um mínimo de conhecimentos que precisam ser decodificados pela memorização e que sejam armazenados para que no futuro ele seja resgatado, como ocorre com todas as matérias que buscam a contextualização através da ação consciente do professor.
Um bom ensino de geografia, portanto, como qualquer outro ensino, não pode deixar de recorrer à memória. É necessário reduzir sem medo a massa de nomes insípidos e de pormenores sem valor; é necessário, sobretudo, reduzi-la a proporções mais justas. Impõe-se uma escolha ao professor, a quem cabe a difícil tarefa de exercitar com inteligência a memória dos alunos, seja dentro do espaço escolar, seja nas atividades dirigidas extraclasse.
É possível que u número significativamente imenso de professores de Geografia que desconhecem a Geografia não é uma ciência de fatos isolados simples, passíveis de serem conhecidos por si e em si. Um nome de um país, um dado sobre um rio, por exemplo, não podem ser transformados em conhecimento científico da Geografia. O grande desafio é fazer com que estes dados possam ser instrumento de formação do cidadão, para que ele compreenda que uma relação simbiótica entre o conhecimento e aquele que o detém.
A geografia encontra no ensino cívico sua função de representar o mundo, de que é detentora, na qualidade de trabalho intelectual. Daí o seu valor moral, pois, contribuindo para a compreensão do mundo, revela tudo o que une os homens: é uma lição de solidariedade humana.
Nem só os diferentes aspectos da economia brasileira devem ser ensinados, mas também, ao jovem gaúcho, como vive e como luta seu irmão sertanejo nordestino; o jovem carioca ou paulista deve ser levado para fora da atmosfera urbana a fim de conhecer e sentir a vida de seus patrícios, colonos de fazendas ou pescadores amazonenses.
Uma aula sobre o algodão nos Estados Unidos ou sobre a índia moderna, uma exposição sobre o equipamento industrial europeu, ensinam mais a respeito da unidade do mundo de que todas as homílias tradicionais.
Graças ao seu campo de estudo, ao seu método de trabalho, a geografia tem lugar no ensino. Tem-no por ser uma ciência moderna, produto de um mundo que é o mesmo em que vivem os jovens.
Ela desenvolve as suas qualidades intelectuais e morais, e dá-lhes um conhecimento dos mais úteis para o pleno desenvolvimento de suas personalidades no quadro em que devem desabrochar. A geografia é uma das formas do humanismo moderno.
A qualidade do ensino lucrará com o severo preparo dos professores em cada especialidade e a proibição absoluta de ensinar toda e qualquer disciplina ao indivíduo que não recebeu uma formação científica e didática. O professor de Geografia deve ser um humanista, um cidadão do mundo que reconhece em seus alunos, uma extensão de sua própria vida.
E se a Geografia invade as nossas vidas, as nossas mentes, as salas de aula, o coração e a mente de cada um de nós, conforme acreditam os verdadeiros defensores das ciências geográficas, fica respondida as questões primeiras: qual o verdadeiro papel da Geografia e qual o valor que ela tem na vida do aluno?
Para muitos alunos, assim como para muitos colegas de profissão e a maioria da sociedade, a Geografia só faz sentido se for atrelada ao fator turístico de seus conteúdos. Todos reconhecem a importância da Biologia, da Física, da Matemática, das Línguas, mas poucos entendem que a Geografia transcende a idéia de belas narrativas de viagens agradáveis de ouvir ou de lembranças penosas de alguma passagem de suas vidas.
Diante desta preocupação do meu aluno, prestes a entrar no Ensino médio, eu me fiz duas perguntas: qual o verdadeiro papel da Geografia e qual o valor que ela tem na vida do aluno? É óbvio que vieram muitos outros questionamentos do tipo: estou cumprindo de forma justa e ética a minha função de Educador?
Para me ajudar nessa análise, recorri a um artigo científico intitulado “Papel e valor do ensino da geografia e de sua pesquisa”, publicado originalmente in Boletim Carioca de Geografia, ano VII, 1954, de onde faço minhas ressalvas e considerações acerca do papel da Geografia em minha vida.
Quantos não se limitam a impor listas de Estados e capitais, dos pontos cardeais, das estações do ano, dos paralelos e meridianos, em suas aulas de Geografia ou quantos habitantes existem no planeta? Infeliz do aluno que desconheça estes dados, sem o menor sentido para a sua vida porque sequer reconhecem a sua identidade no cosmos. Já ouvimos dizer que a fraqueza em conhecimentos geográficos é um sinal de inferioridade no desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa.
Um dia a minha filha chegou da escola decepcionada com a sua nota em Geografia. Ela não havia tirado a nota do topo. Me mostrou onde havia errado e colocou a culpa em mim. Analisei a prova e não encontrei erro que justificasse a nota 9,0 da minha primogênita. Até que ela me explicou, apontando o erro:
- O Senhor disse que a Amazônia não é o pulmão do mundo. A professora fez essa pergunta na prova e eu respondi o que o senhor tinha me dito. Ela me disse que eu errei.
Procuramos a direção escolar com a prova na mão. Mostramos a questão que grifada como errada e a pessoa que nos recepcionou espantou-se, afirmando: -“Até eu que não sou professora de Geografia sei que este conceito sobre a Amazônia está errado.”
A nota foi revista e reconhecida como correta pela professora. Não precisamos dar detalhes de como a imagem da professora ficou manchada na escola, sem como foi difícil pra ela perceber o quanto as suas aulas estavam fora do contexto.
Quem somos nós para julgarmos e condenarmos colegas de profissão! Mas, é importante discutirmos o que estamos fazendo nas salas de aula, o que é conteúdo indispensável na vida dos alunos e como estes devem ser vistos na prática da docência geográfica, em qualquer nível de ensino. Em síntese: qual o papel da Geografia na minha vida?
Anos atrás, quando freqüentava a Biblioteca Central da UFPE, após sair do sexto andar do CFCH, eu encontrei um autor (que graças a Deus perdeu-se no esquecimento) que escreveu uma das frases mais tristes e esdrúxulas que eu conheço. Eu pesquisa sobre os diversos conceitos da Geografia e buscava construir o meu próprio conceito. A frase era: “Das muitas coisas sem serventia, uma delas é a Geografia.”
É provável que esta frase encontre ressonância na vida de muitos alunos que juntos com outros inúmeros professores, criando em torno de suas vidas duas hipóteses: ou a Geografia é irmã intelectual mais nova do Turismo ou ela uma ferramenta de tortura gratuita imposta aos discentes. Qual destas duas é a pior das hipóteses? Eu não sei. E se as duas são realmente corretas e eu esteja errado? Significa dizer que a Geografia é, sem dúvida, sem serventia, quando não perigosa para a sociedade.
É preciso, portanto, fechar todos os departamentos de Geografia nas Universidades, excluí-la do currículo nacional como matéria obrigatória e extinguir associações e conselhos federativos de Geografia espalhados pelo mundo, haja vista que a mesma não contribui para o enriquecimento das mentes jovens e a sua formação.
Seria possível provar a sua utilidade num mundo onde toda e qualquer ciência é também uma técnica, onde toda pesquisa leva a dar um instrumento útil à coletividade? Seria possível provarmos que a Geografia é indispensável para a formação de uma consciência política, social, coletiva? É possível comprovarmos que as ciências geográficas evoluem na medida em que o homem se modifica e estas o ajudam a enfrentar as transformações mundiais?
É mister, portanto, estabelecer o valor a Geografia no ensino e determinar sua utilidade como moderno instrumento de trabalho. Se a Geografia é matéria decorativa, memorizadora, pouco importa. Mesmo sendo uma idéia pseudo da mesma, precisamos entender e aceitar que o papel da memória na vida acadêmica é indispensável. É sabido que nada se pode aprender sem o uso indispensável da memória e sem se recorrer às nomenclaturas.
Para aprendermos Matemática (matéria chamada de lógica) é preciso que registremos na nossa memória regras de fórmulas das mais variadas, portanto, decorando as mesmas. Como entendermos fatos relatados pela História se não tivermos uma base de dados com nomes e datas? O conhecimento de Literatura só será bem absorvido se o aluno tiver retido dados cronológicos de autores e obras, formando uma base rica e sólida.
Por fim, a ciência geográfica requer de cada um de nós um mínimo de conhecimentos que precisam ser decodificados pela memorização e que sejam armazenados para que no futuro ele seja resgatado, como ocorre com todas as matérias que buscam a contextualização através da ação consciente do professor.
Um bom ensino de geografia, portanto, como qualquer outro ensino, não pode deixar de recorrer à memória. É necessário reduzir sem medo a massa de nomes insípidos e de pormenores sem valor; é necessário, sobretudo, reduzi-la a proporções mais justas. Impõe-se uma escolha ao professor, a quem cabe a difícil tarefa de exercitar com inteligência a memória dos alunos, seja dentro do espaço escolar, seja nas atividades dirigidas extraclasse.
É possível que u número significativamente imenso de professores de Geografia que desconhecem a Geografia não é uma ciência de fatos isolados simples, passíveis de serem conhecidos por si e em si. Um nome de um país, um dado sobre um rio, por exemplo, não podem ser transformados em conhecimento científico da Geografia. O grande desafio é fazer com que estes dados possam ser instrumento de formação do cidadão, para que ele compreenda que uma relação simbiótica entre o conhecimento e aquele que o detém.
A geografia encontra no ensino cívico sua função de representar o mundo, de que é detentora, na qualidade de trabalho intelectual. Daí o seu valor moral, pois, contribuindo para a compreensão do mundo, revela tudo o que une os homens: é uma lição de solidariedade humana.
Nem só os diferentes aspectos da economia brasileira devem ser ensinados, mas também, ao jovem gaúcho, como vive e como luta seu irmão sertanejo nordestino; o jovem carioca ou paulista deve ser levado para fora da atmosfera urbana a fim de conhecer e sentir a vida de seus patrícios, colonos de fazendas ou pescadores amazonenses.
Uma aula sobre o algodão nos Estados Unidos ou sobre a índia moderna, uma exposição sobre o equipamento industrial europeu, ensinam mais a respeito da unidade do mundo de que todas as homílias tradicionais.
Graças ao seu campo de estudo, ao seu método de trabalho, a geografia tem lugar no ensino. Tem-no por ser uma ciência moderna, produto de um mundo que é o mesmo em que vivem os jovens.
Ela desenvolve as suas qualidades intelectuais e morais, e dá-lhes um conhecimento dos mais úteis para o pleno desenvolvimento de suas personalidades no quadro em que devem desabrochar. A geografia é uma das formas do humanismo moderno.
A qualidade do ensino lucrará com o severo preparo dos professores em cada especialidade e a proibição absoluta de ensinar toda e qualquer disciplina ao indivíduo que não recebeu uma formação científica e didática. O professor de Geografia deve ser um humanista, um cidadão do mundo que reconhece em seus alunos, uma extensão de sua própria vida.
E se a Geografia invade as nossas vidas, as nossas mentes, as salas de aula, o coração e a mente de cada um de nós, conforme acreditam os verdadeiros defensores das ciências geográficas, fica respondida as questões primeiras: qual o verdadeiro papel da Geografia e qual o valor que ela tem na vida do aluno?
Sem me atrever a ter uma resposta completa, correta ou infalível, dedico este as observações a todos os Professores que crêem na Geografia de Lucivânio Jatobá e de Manuel Correia de Miranda... É apenas um ponte de partida, mas indispensável.
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