Fui alunos durante quase vinte e cinco anos, contando meu primeiro ano da Alfabetização, os quatro do antigo primário, mais três do fundamental, mais três de ensino médio em Contabilidade, mais dois de Magistério, mais quatro de Graduação, mais três anos em duas Especializações e um de cadeiras pagas de Mestrado, além dos diversos cursos de aperfeiçoamento, capacitações, seminários, congressos, encontros... Uma vida.
Como professor, comecei dando aulas de inglês em uma escola particular, depois em substituições esporádicas, mais tarde nos estágios da faculdade, depois nos contratos com o governo do estado, até, através de concurso público municipal, entrar na minha primeira sala de aula... E já se passaram quase 15 anos desde a primeira experiência.
Por mais que me esforce em apenas me lembrar das coisas que me fizeram rir e de acreditar que eu poderia ser uma ferramenta de transformação da Educação, as coisas que me chocam, que fazem desacreditar de tudo são bem mais freqüentes na vida deste simples professor.
Certas posturas de supostas autoridades educacionais, quando chamadas a analisar os fatores responsáveis pela indigência do ensino como um todo, deixam a perder de vista o norte do bom senso. São os donos dos estabelecimentos públicos de ensino e se apossam dos seus cargos como se fossem monarcas insubstituíveis, que tudo sabem e que a todos julgam com a pré-condenação inclusa.
Como diria John Lennon: “Eu não sou o único’”. Uma professorinha alemã Ina Von Binzer, em 1881, já observara que os brasileiros dão a vida por falar. Que um discurso brasileiro renderia dez na Alemanha e que, sobretudo adoravam opinar sobre o que não conheciam. Por exemplo, “positivistas” que nem sabiam quem era Auguste Comte. Ou republicanos que ignoravam a essência de um estado republicano.
Essa tendência se mantém até hoje e se aplica ao ambiente escolar, onde a pluralidade de cargos e títulos em especializações, na verdade ocultam o seu crescente distanciamento de visões mais puras que apontam para o real ofício missionário de ser professor. O Brasil é fértil em supostos experts em Educação, que deitam regras para um ambiente que não conhecem. Quando alçados a postos de comando, geralmente as máscaras caem, como se vê em exemplos recentes.
São muitos os gestores escolares que lançam receitas infalíveis para problemas graves em escolas municipais da rede pública e que, quando confrontados com a realidade por fazer, quando percebem que é preciso lançar mão de muito esforço pessoal, ascendem com velhos complexos de inferioridade brasileiros (ou superioridades infantis), onde ao ufanismo, sucedeu o masoquismo da autoflagelação: - “Se fosse na minha escola, seria diferente, (...) porque na minha escola (...), onde eu sou gestor(a) com méritos próprios, assim seria...”
A menção ao “para inglês ver” nos dá o mote para a contestação seguinte: a de que é preciso ter cuidado (diria critério rigoroso) com certos tipos de nomeação ao cargo de diretor e vice-diretor escolar e com certos professores que querem deixar a sala de aula – por não saber dar aula – para tornarem-se inimigos de seus colegas pelo simples fato de estarem no tal status.
Mas chegamos ao pior inimigo do professor. Com freqüência ele é envolto numa teia de queixas, delações anônimas, desqualificações com falso senso de humor e “conselhos” até explícitos para baixar a bola. Isto me foi sugerido por uma diretora de colégio: - “Pra quê se esforçar tanto se esses meninos não vão chegar ao ensino médio? Eles não querem nada. Algumas colegas estão comentando que você quer aparecer...” Eram vários os tipos de assédios morais que enfrentam os professores que “querem aparecer” como eu.
Tal assédio atrelado ao poder que um professor tem em proferir certas palavras, são os maiores inimigos de um Educador, confundido com o “professor que quer aparecer”. Este assédio moral é também inimigo intra-escolar do educador, do aluno que quer aprender, da faxineira que admira o trabalho em sala de aula. Tanto é que uma recente reportagem da revista ISTO É, sobre o assédio moral no ambiente de trabalho brasileiro como um todo, recebeu de uma leitora-professora, o mais pungente relato:
- “Chorei muito quando li a reportagem... Passei por isto como professora de um colégio famoso em Campinas. Hoje, estou trabalhando em outra escola e procuro não mostrar todas as minhas habilidades. Procuro dar uma aula simples e aceitável, não me envolver em projetos muito criativos para não deixar transparecer que posso ir além. Hoje faço o que me pedem. Não aceito mais desafios. Tenho medo”.
Isto é a palavra de uma ex-professora de colégio de elite, particular. Portanto, não é só nas escolas públicas que verificamos a tal síndrome do burnout, ou da desistência do educador, conforme estudo da área de Psicologia do Trabalho da UnB. Segundo o estudo, ela ataca o profissional, após uns 15 anos de magistério. Eu comecei a me preocupar, porque eu estou quase entrando na casa dos quinze. Será que preciso rever a sugestão feita anos atrás de uma diretora escolar, anteriormente citada?
Ontem, dia 05 de Agosto de 2008, antes de sair de casa para minha primeira consulta com a fonoaudióloga que irá me acompanhar em um tratamento de reeducação de minha voz, meu telefone toca. Era uma amiga e colega de profissão completamente transtornada por ter sido moralmente agredida por uma recente nomeada vice-diretora, que se achou no direito de chamar-lhe atenção por algo que não poderia responder.
Eu, como alvo direto da reclamação, escutei pacientemente a amiga, fui ao consultório da fonoaudióloga e decidi ir procurar a ilustríssima vice-diretora para saber dela quais eram as suas queixas. Adentrei na escola repleta de pais para recebimento das orientações com relação a vida escolar do filho. Me informei onde poderia encontrar a dita. Avistei-a de longe e fui a sua direção.
De costas, não me viu chegar o ouvi-la aconselhar uma mãe de aluna: - “A senhora deveria encher a boca dessa menina de tapas. Bater na boca até ela engolir o que diz...” A mãe tenta explicar, sem sucesso, que a menina é rebelde por não ter a figura do pai por perto. A vice-diretora, bate em seu busto e interrompe: - “Não tem isso não, porque minha mãe criou eu e minhas irmãs e todas deram pra gente”...
Com a voz ainda tranqüila, eu escoro nas costas da vice-diretora recentemente nomeada: “bela educadora! Aconselhar formação de uma filha com violência...” Ela virou e tomou um susto quando viu de quem se tratava. O desenrolar da história só conto ao vivo e em cores. Quer saber o fim e como tudo isso começou? Bom, um dia eu conto.
Vale apenas registrar algumas reflexões em cima do que acabei de relatar. Primeiro é que como já disse anteriormente, há uma inversão de valores muito forte entre os professores e uma guerra de assédios morais sem precedentes. Professor que chega a qualquer cargo extra-sala de aula e esquece-se de suas humildes origens, o que pensar dele? O que pensar de um professor de escola pública que diz que jamais colocaria seu filho em escola pública porque a escola pública não presta? O que pensar de um professor que excita a violência entre pais e filhos, diante de um mundo tão apocalíptico? Quando os professores desse timbre irão se conscientizar de que o fracasso pessoal de um é fracasso de muitos outros? E, por fim, por quanto tempo os professores que acreditam na educação e no seu honrado ofício (portanto, verdadeiros educadores ou educadores verdadeiros) irão resistir aos seus inimigos gratuitos e aos assédios morais cada vez mais presentes em suas vidas?
Respirando profundamente, quero compartilhar estas angústias pessoas de profissão com todos os meus confrades e confreiras que vivem e trabalham como verdadeiros educadores, apaixonados pelo seu trabalho, que entram em sala de aula e convencem, dois, três ou quarenta, que a Educação, a formação e a informação são as únicas chaves para transformar o mundo e destruir os inimigos invisíveis do ofício mais lindo dentre todos os que Deus permitiu que existisse.
Professor – Educador Ricardo Vieira
1 comentários:
teu blogger é muito bom cara. O maior inimigo de ser professor é ser um bom educador. min chamou a atnçao por que, nos alunos precizamos de bons educadores. certo dia uma professora min disse, qem quiser estudar qeu estude nao tou nem ai pra voces sei que meu dinheiro vai estar na minha conta.ou seja ela estava ali sor pelo dineheiro. certo que trabalhamos pra ter nosso dinheiro.mas tem que ter amor pela profissao. gostei do teu blogger ricardo valeu continui escrvendo bem assim muita gente continuar lendo.
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