Ser pai é saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
Artur da Távola.
Fui pai pela primeira vez sem ter planejado. Aliás, fui pai duas vezes sem nunca ter feito planos. A minha primeira filha chama-se Déborah Lanai (primeiro nome dado por mim e o segundo pela mãe). Ambas moram hoje bem longe, na Suécia. A segunda se chama Carolina, anunciada num exame de sangue datado de 12 de junho de 2004.
Lembro-me no dia em que Déborah nasceu. Foi uma maratona. Estávamos em minha casa (eu, Keilly e o bebê de sete meses). Era madrugada do dia 18 de agosto quando a mãe me acorda dizendo que sentiu um liquido molhar a cama. Acalmei-a e voltamos a dormir sem sabermos que se tratava da bolsa.
Mais tarde, agora com dores, Keilly e eu desconfiamos que a Déborah estava pra nascer. Ligamos pra um amigo, Ramatis, que ligou pra casa dos pais de Keilly, que receberam a noticia. Saímos em direção a rodoviária e da rodoviária fomos pra Moreno, onde nos encontramos.
De lá, mãe e filha foram encaminhadas para o IMIP. Isso já era quase meio-dia. De lá, conseguimos vaga no CISAM, onde uma amiga enfermeira nos aguardava (Dona Ceça). Era através de Dona Ceça que obtínhamos notícias. Foi o dia inteiro de agonia até que a enfermeira amiga desce as rampas da maternidade me chamando aos pulos, anunciando o nascimento de minha filha, minha primeira filha. Eram quase h: 20h00min do dia 18 de Agosto de 1997.
Subimos eu e D. Lindalva (avó) até o portão de acesso aos quartos. A pediatra veio com Déborah e colocou-a no meu colo. Eu chorava copiosamente de uma maneira que jamais tinha chorado. Eu me sentia o mais forte e o mais frágil, o mais destemido e mais inseguro dos homens. Déborah pesava pouco mais que dois quilos.
Nos primeiros dois anos de vida de Déborah eu estive presente ativamente, religiosamente próximo dela. Eu morando em Vitória e elas morando em Jaboatão. Encontrávamos-nos apenas nos finais de semana e fazíamos passeios e programas juntos. Mas, o que eu mais sinto falta dessa época era colocar Déborah pra dormir.
Primeiro porque a mãe não conseguia fechar os olhos daquela loirinha. Recordo-me que Keilly dava saltos, pulos, cantos dos mais variados tipos e a menina insistia em olhá-la sem bater os olhos, soltando aqui e acolá, um sorriso vazio.
Segundo que era eu que tinha esse “poder” de ninar minha filha. Deitava-a no meu peito; aconchegava com uma frauda de pano; colocava o som com a música “Em Tuas Mãos” de Djanise França; balançava a cadeira de balanço enquanto cantava e, aos poucos, eu via aqueles olhinhos se fecharem até as duas da madruga quando pedia leite.
Passaram-se 12 anos e é essa lembrança mais terna que tenho da minha primeira experiência como pai. É desse momento que eu mais sinto falta. Se pudesse voltar aos tempos de 1997, eu escolheria passar mais tempo vivendo estes doces momentos com minha filha Déborah Lanai Silva Vieira. Hoje, sem o Vieira por ser cidadã Sueca adotada pelo marido de keilly.
Casei-me oficialmente em cartório (contrariando todas as pessoas mais próximas) no dia 30 de Abril de 2003. Dois meses depois, no dia 12 de junho (como dito anteriormente) descobrimos que minha ex-esposa estava grávida. O feto estava com um pouco mais de dois meses. Ou seja, geramos a nossa filha praticamente na lua de mel.
Dois meses depois descobrimos que se tratava de mais uma menina. Dessa vez eu não opinei por nomes. A mãe e eu havíamos combinado que se fosse homem, eu teria participação no nome. Se fosse menina, daríamos o nome de Carolina.
Compramos todos os objetos, roupas, utensílios, móveis, tudo... Nos organizamos para recebê-la por volta do mês de março de 2004. Ela nasceu no dia 12 de Janeiro, com sete meses e quase que o mesmo peso da irmã. Ao contrário de Déborah, tive a chance de assistir o nascimento de minha filha e fui impedido pela mãe... (sem comentários)...
Ela parece que antecipara sua chegada pra tentar impedir o que já estava praticamente óbvio. Quatro meses depois de seu nascimento, eu saí de casa e vim morar em Gravatá. Mesmo em casas separadas, nos mantivemos próximos, conversando e decidindo as coisas. Até que o divórcio solicitado por mim tornasse, pai e mãe, indispostos pra qualquer conversa amigável.
Minha maior dor foi ver que eu havia sido um homem e que este homem não conseguia se tornar pai. Um pai comum, um pai que pôde acompanhar a primeira filha em todos os seus passos. Enfim, havia cometido o mesmo deslize de me forçar viver longe dela. No entanto, há uma ligação muito forte entre eu e Carolina que se pode explicar.
Desde que nasceu, assim como a irmã, possuía o hábito de segurar meu nariz enquanto eu tentava colocá-la no mundo dos sonhos. Coincidência ou não, eu e minhas duas filhas nascemos numa segunda-feira e de sete meses. Carolina nasceu às h: 8:30; eu nasci às h: 11:00 e Déborah às h: 20:00.
Deborah se foi pra nunca mais voltar. Enquanto que Carolina vive há apenas 30 km distante de mim. Embora vivamos nos encontrando aos finais de semana quando podemos, é duro admitir que eu não posso ser considerado um pai diferente do meu. E como eu desejo ser diferente de tudo que tenho como lembrança! E é pra Carolina apenas que posso mostrar que sou o pai de quem ela irá sempre se honrar.
Quero com ela pelo menos:
Falar com o coração de um amigo fiel e calar com a sabedoria de um pai;
Admitir que errei e aprender que é preciso tolerância com futuros erros dela;
Mesmo vivendo distante, jamais faltarei a um momento decisivo;
Ser pai pra dizer sim, ser pai pra dizer não...
Se é verdade que ser mãe é padecer no paraíso, ser pai é ser um paraíso no padecer do filho. Ser pai é ser uma seta que aponta pro norte – orientando – deixando que seu filho(s) ou filha(s), jamais sintam-se pressionados nem desamparados ao buscar o olhar do pai que irá sorrir e irá chorar, que irá exigir e que irá doar... Ser pai é ser herói, exemplo e amizade.
Quiçá, um dia, eu não me veja assim.
Ricardo Vieira, Pai.
Artur da Távola.
Fui pai pela primeira vez sem ter planejado. Aliás, fui pai duas vezes sem nunca ter feito planos. A minha primeira filha chama-se Déborah Lanai (primeiro nome dado por mim e o segundo pela mãe). Ambas moram hoje bem longe, na Suécia. A segunda se chama Carolina, anunciada num exame de sangue datado de 12 de junho de 2004.
Lembro-me no dia em que Déborah nasceu. Foi uma maratona. Estávamos em minha casa (eu, Keilly e o bebê de sete meses). Era madrugada do dia 18 de agosto quando a mãe me acorda dizendo que sentiu um liquido molhar a cama. Acalmei-a e voltamos a dormir sem sabermos que se tratava da bolsa.
Mais tarde, agora com dores, Keilly e eu desconfiamos que a Déborah estava pra nascer. Ligamos pra um amigo, Ramatis, que ligou pra casa dos pais de Keilly, que receberam a noticia. Saímos em direção a rodoviária e da rodoviária fomos pra Moreno, onde nos encontramos.
De lá, mãe e filha foram encaminhadas para o IMIP. Isso já era quase meio-dia. De lá, conseguimos vaga no CISAM, onde uma amiga enfermeira nos aguardava (Dona Ceça). Era através de Dona Ceça que obtínhamos notícias. Foi o dia inteiro de agonia até que a enfermeira amiga desce as rampas da maternidade me chamando aos pulos, anunciando o nascimento de minha filha, minha primeira filha. Eram quase h: 20h00min do dia 18 de Agosto de 1997.
Subimos eu e D. Lindalva (avó) até o portão de acesso aos quartos. A pediatra veio com Déborah e colocou-a no meu colo. Eu chorava copiosamente de uma maneira que jamais tinha chorado. Eu me sentia o mais forte e o mais frágil, o mais destemido e mais inseguro dos homens. Déborah pesava pouco mais que dois quilos.
Nos primeiros dois anos de vida de Déborah eu estive presente ativamente, religiosamente próximo dela. Eu morando em Vitória e elas morando em Jaboatão. Encontrávamos-nos apenas nos finais de semana e fazíamos passeios e programas juntos. Mas, o que eu mais sinto falta dessa época era colocar Déborah pra dormir.
Primeiro porque a mãe não conseguia fechar os olhos daquela loirinha. Recordo-me que Keilly dava saltos, pulos, cantos dos mais variados tipos e a menina insistia em olhá-la sem bater os olhos, soltando aqui e acolá, um sorriso vazio.
Segundo que era eu que tinha esse “poder” de ninar minha filha. Deitava-a no meu peito; aconchegava com uma frauda de pano; colocava o som com a música “Em Tuas Mãos” de Djanise França; balançava a cadeira de balanço enquanto cantava e, aos poucos, eu via aqueles olhinhos se fecharem até as duas da madruga quando pedia leite.
Passaram-se 12 anos e é essa lembrança mais terna que tenho da minha primeira experiência como pai. É desse momento que eu mais sinto falta. Se pudesse voltar aos tempos de 1997, eu escolheria passar mais tempo vivendo estes doces momentos com minha filha Déborah Lanai Silva Vieira. Hoje, sem o Vieira por ser cidadã Sueca adotada pelo marido de keilly.
Casei-me oficialmente em cartório (contrariando todas as pessoas mais próximas) no dia 30 de Abril de 2003. Dois meses depois, no dia 12 de junho (como dito anteriormente) descobrimos que minha ex-esposa estava grávida. O feto estava com um pouco mais de dois meses. Ou seja, geramos a nossa filha praticamente na lua de mel.
Dois meses depois descobrimos que se tratava de mais uma menina. Dessa vez eu não opinei por nomes. A mãe e eu havíamos combinado que se fosse homem, eu teria participação no nome. Se fosse menina, daríamos o nome de Carolina.
Compramos todos os objetos, roupas, utensílios, móveis, tudo... Nos organizamos para recebê-la por volta do mês de março de 2004. Ela nasceu no dia 12 de Janeiro, com sete meses e quase que o mesmo peso da irmã. Ao contrário de Déborah, tive a chance de assistir o nascimento de minha filha e fui impedido pela mãe... (sem comentários)...
Ela parece que antecipara sua chegada pra tentar impedir o que já estava praticamente óbvio. Quatro meses depois de seu nascimento, eu saí de casa e vim morar em Gravatá. Mesmo em casas separadas, nos mantivemos próximos, conversando e decidindo as coisas. Até que o divórcio solicitado por mim tornasse, pai e mãe, indispostos pra qualquer conversa amigável.
Minha maior dor foi ver que eu havia sido um homem e que este homem não conseguia se tornar pai. Um pai comum, um pai que pôde acompanhar a primeira filha em todos os seus passos. Enfim, havia cometido o mesmo deslize de me forçar viver longe dela. No entanto, há uma ligação muito forte entre eu e Carolina que se pode explicar.
Desde que nasceu, assim como a irmã, possuía o hábito de segurar meu nariz enquanto eu tentava colocá-la no mundo dos sonhos. Coincidência ou não, eu e minhas duas filhas nascemos numa segunda-feira e de sete meses. Carolina nasceu às h: 8:30; eu nasci às h: 11:00 e Déborah às h: 20:00.
Deborah se foi pra nunca mais voltar. Enquanto que Carolina vive há apenas 30 km distante de mim. Embora vivamos nos encontrando aos finais de semana quando podemos, é duro admitir que eu não posso ser considerado um pai diferente do meu. E como eu desejo ser diferente de tudo que tenho como lembrança! E é pra Carolina apenas que posso mostrar que sou o pai de quem ela irá sempre se honrar.
Quero com ela pelo menos:
Falar com o coração de um amigo fiel e calar com a sabedoria de um pai;
Admitir que errei e aprender que é preciso tolerância com futuros erros dela;
Mesmo vivendo distante, jamais faltarei a um momento decisivo;
Ser pai pra dizer sim, ser pai pra dizer não...
Se é verdade que ser mãe é padecer no paraíso, ser pai é ser um paraíso no padecer do filho. Ser pai é ser uma seta que aponta pro norte – orientando – deixando que seu filho(s) ou filha(s), jamais sintam-se pressionados nem desamparados ao buscar o olhar do pai que irá sorrir e irá chorar, que irá exigir e que irá doar... Ser pai é ser herói, exemplo e amizade.
Quiçá, um dia, eu não me veja assim.
Ricardo Vieira, Pai.
2 comentários:
Muito bonito este texto.
Continue escrevendo assim.
É de mais escritores, leitores e educadores como você que precisamos, para nos alegrar, nos emocionar, nos alertar, resumindo alimentar nossas mentes.
Feliz dias dos pais Ricardo!!!!
EU Ñ TENHO PAI.TALVES POR ISSO ENTENDA MELHOR QUE TODOS O QUANTO "PAI"É ALGU Q FAZ FALTA.
MAIS A DOR MAIOR É TER QUE ADMITIR QUE MEU PAI FICOU TB ORFÃO DE MIM,MAS POR ESCOLHA...
ORFÃ DE PAI VIVO SOU,ELE DE FILHA VIVA...
MESMO ASSIM TODOS OS DIAS ANTES DE DORMIR,ME PERGUNTO SE SERÁ Q EM ALGUM MOMENTO DAQUELE EXATO DIA ELE LEMBRARÁ QUE EM ALGUM LUGAR DO MUNDO TEM UMA FILHA CHAMADA "JUHLLYANNA" QUE HERDARÁ DELE O GOSTO POR ROSAS BRANCAS???
E ESSAS MESMAS Ñ FAZEM EFEITO QUANDO JOGADAS NO MAR COM O PROFUNDO DESEJO DE ELE UM DIA VOLTAR...
PARABÉNS POR RECONHECE SUSA FILHAS,SER PAI É SÓ PARA ESCOLHIDOS...VC É UM.
"JUHLLYANNA KENDWIX"
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