Era o ano de 2000. Estávamos passando por uma série de transformações políticas que achávamos marcaria significativamente a história de Pombos. Novo prefeito, novas propostas educacionais, nova escola, nova gestão. Acreditávamos que novo seria renovador.
Costumo dizer que o pouco tempo nos faz ver e o longo tempo nos faz conhecer. Eu precisei apenas esperar um ano para descobrir que muitos que se diziam amigos (do alto escalão do governo), não passavam de aves de rapina em caçada à surdina.
Sempre fui de entregar-me aos meus serviços de corpo e alma. Tínhamos uma equipe pedagógica muito boa. A direção era formada por pessoas amigas; os professores – apesar das perdas – estavam se entendendo. Os contratados estavam recebendo por um serviço mais aplicado. A equipe era fechada. Se um precisa do outro, era imediatamente atendido.
A nossa equipe era alvo de inveja, de observações negativas, de perseguição discreta por parte da própria secretaria e de algumas pessoas da comunidade que simplesmente se incomodavam com o trabalho que era feito em prol da comunidade. Não sabia, mas eu estava sendo alvo de uma conspiração que me custaria muito.
Apesar disso tudo, a Escola sofria com a presença de alunos muito complicados de se conviver. Na minha sala eu tinha um aluno chamado Moisés (hoje motorista de van em Jaboatão) que estava na fase da adolescência rebelde e envolvido com drogas e delinquência. Em outra sala, havia uma menina que, apesar dos 14 anos, estava com Sífilis e herpes Genital, resultado de prostituição. Lutávamos com esmero para manter a ordem, a disciplina e a paz na escola.
Moisés, um dia, tomado pela droga (provavelmente maconha) invadiu a escola antes da chegada da equipe pedagógica e simplesmente agrediu funcionários, quebrou telhas, fez o que queria fazer nas dependências da escola. Quando chegamos, eu e a diretora, todos os alunos e funcionários estavam na rua, com medo de entrar na escola.
A funcionária Márcia, chorando, me contou que Moisés era o autor daquele pandemônio. Entrei e procurei Moisés. Tentei conversar com ele. Mas estava transtornado. Me ameaçou com um canivete mas n teve coragem de fazer nada. Saiu como louco pela rua gritando que mataria a todos da escola. Nunca mais apareceu.
Apesar de ser meu aluno, tive que prestar queixa a policia, junto com a direção escolar. A então Secretária de Educação, acompanhada do Delegado, quis nos obrigar a ficar com Moisés. Eu e a direção escolar batemos o pé e sugerimos que ela nos tirasse da escola e ficasse com o aluno. Ela não gostou.
Preocupado com esta e com outras situações, busquei uma forma mais amena de conversar com os alunos, alertando-os para os perigos do mundo longe da Educação. Em Vitória de Santo Antão – onde eu morava – procurei a locadora de uma amiga, na Av. 15 de Novembro. Conversa sempre com ela sobre lançamentos em VHS e sobre a vida. Afinal, éramos amigos muito próximos. Contei pra ela o que estava passando na escola e pedi uma sugestão de um filme que eu pudesse levar para sala de aula e tratasse de temas como violência, família, amigos, mundo de vida fácil de forma mais suave, divertida, lúdica.
Ela então me sugeriu um lançamento. O nome do filme – que me causa horror até hoje e um trauma sem precedente – é (era) a comédia: TODO MUNDO EM PÂNICO II. Nem olhei direito o filme. Coloquei dentro da bolsa escolar para não me esquecer de levar no dia seguinte
Não li a sinopse. Não vi a classificação. Não assisti ao filme quando cheguei a minha casa.
Amanheceu o dia. Peguei minha moto e fui ao encontro da Diretora que sempre tinha minha carona para escola. Ela liga para o meu celular e avisa que não iria à escola comigo. Que eu resolvesse tudo por ela, como sempre fazia.
Quando cheguei à escola, a funcionária contratada estava desesperada com o recadastramento do PETI. Sem entender direito dos documentos necessários da secretaria, ela me pediu ajuda. Eu, por minha vez, como conhecia o processo, me dispus a ajudar. Corri para a sala de aula, instalei o vídeo cassete, falei que eles iriam assistir a um filme enquanto eu estaria na secretaria. Ao final do filme, iríamos fazer um debate. Assim foi feito.
Da secretaria nós ouvíamos o sorriso coletivo da sala. A moça que trabalhava na secretaria perguntou, inclusive, se o filme era uma comédia e eu, de acordo com o peixe que me foi vendido, afirmei positivamente. E continuamos o nosso trabalho.
A quantidade de pessoas diminuiu e a funcionária se sentiu mais segura para continuar o trabalho sem mim. Quando eu estava voltando pra sala, o filme acabou. Todos sorriam alegremente. Perguntei se haviam gostado do filme, se eles haviam absorvido algum aprendizado, etc. A manhã de aula acabou e eu voltei pra Vitória, satisfeito pela missão cumprida por mais um dia de trabalho.
Parei na locadora e entreguei o filme. Fui pra casa.
Na manhã seguinte, desta vez acompanhado pela diretora, em frente à Escola, um grupo de pessoas falando grosso, me olhando com ódio. Um funcionário, Maicon (gente da melhor qualidade) foi ao meu encontro e disse que aquelas pessoas estavam ali por minha causa. Quis saber o motivo antecipado e ele contou que as pessoas queriam minha cabeça porque eu havia passado um filme de sexo para alunos menores de 14 anos...
Fui pra minha sala de aula. Alguns minutos depois, a diretora me chamou. Ela estava transtornada. Quando entrei na diretoria, ela foi contando que os pais estavam ali para saber qual seria a atitude da escola diante do ocorrido.
Tentei me defender dizendo que o filme era uma comédia, que uma amiga havia me sugerido. Mas isso só aumentava a tensão. Alguns pais (homens) estavam apenas querendo saber o que realmente havia acontecido. Algumas mães e pessoas aproveitadoras queriam “justiça”. Não durou trinta minutos e uma equipe da secretaria de educação entrou na escola, formando um pelotão inquisidor junto com os pais.
Nada do que eu tentava justificar sob prantos adiantava. A direção escolar me defendia. Alguns alunos choravam. E eu só conseguia sentir o sabor da faca me apunhalando o peito.
Fui convidado a ir pra casa. Ao chegar me Vitória, corri para a locadora. Peguei o filme e olhei a classificação que dizia ser para maiores de 14 anos. Gelei. Levei o filme pra casa e assisti com minha mãe. Chorei desesperadamente. Quem assistiu ao filme sabe que NÃO É UM FILME DE SEXO. Mas que apresenta cenas realmente picantes para alunos com menos da idade sugerida na classificação. Percebi que havia cometido três erros graves: o primeiro de não ter visto a classificação. O segundo de não ter assistido antecipadamente o filme em casa e o terceiro erro foi de não está presente com eles durante a execução do filme
Em 24 horas a história havia atravessado fronteiras. Rádios com programas sensacionalistas e policiais dos dois municípios anunciavam que um professor havia passado um filme de sexo para alunos menores de 14 anos. Um grupo de mulheres havia ligado para as rádios e contato o ocorrido, ao seu bel prazer.
O meu nome estava estampado nos noticiários e na boca de muita gente como Professor Pedófilo.
No período da tarde, a equipe da secretaria de educação voltou à Escola e ouviu o pedido das mães que queriam a minha saída da escola. Assim foi feito. Naquela noite inesquecível, a diretora me ligou dizendo que estava suspenso e que não voltaria ao meu local de trabalho, onde passei 5 anos letivos trabalhando pela comunidade escolar.
Procurei a secretária na casa dela, na noite seguinte, depois de ter passado o dia inteiro tentando falar por telefone. Na sua residência, ela confirmou a minha suspensão de 30 dias. Me sugeriu que eu procurasse uma outra escola para trabalhar, se quisesse. Consegui. Mas ela me negou. E depois de 30 dias, outra bomba. Eu fui induzido a assinar uma licença sem vencimentos. Caso contrário seria aberto um inquérito administrativo contra mim. Sem amigos por perto que pudessem me orientar, assinei.
Procurei, na época, pessoas ligadas ao prefeito para tentar conversar com ele e explicar a situação. Com mais tranquilidade, também procurei amigos que haviam trabalhado comigo. A comunidade da Usina Nossa Senhora do Carmo, pela iniciativa de pais de ex-alunos, conseguiu reunir um abaixo assinado de mais de 200 pessoas, pedindo minha volta. Esse documento foi enviado para a secretária que fez pouco caso, como em tudo que pudesse me ajudar.
A então secretária de Saúde – carinhosamente chama de Dra. Fátima – me ajudou muito. Chegou a receber a visita do grupo de mulheres que havia iniciado esse processo todo. Talvez com medo porque eu anunciei que iria processar a todos que, antes mesmo de procurar a direção e a secretaria, jogaram meu nome nas rádios, contanto o que elas queriam contar.
Dra. Fátima interveio no caso. Mas nada adiantou. O senhor prefeito preferiu ouvir a vontade da secretária de educação, a quem eu aponto total responsabilidade pela manobra desleal contra mim.
Ficou tão notório que era estritamente pessoal porque na mesma época, um professor do quadro havia chamado os piores palavrões contra alunas e alunos da 8ª série, chamando, inclusive, as alunos de prostitutas (não foi essa a palavra); desafiou o diretor da escola, além de despeitá-lo diante de todos. Sabem o que foi feito contra esse professor que muitos chamam de excelente? NADA!
Outro fato na mesma época aconteceu. Uma professora contratada (amiga do prefeito) espancou e colocou de castigo debaixo do birô um aluno primário indefeso. Os pais do aluno chegaram a prestar queixa na delegacia contra a professora. Contaram-me que a queixa foi retirada depois que os pais (paupérrimos) receberam agrados do prefeito. E MAIS UM CASO FOI ENCERRADO sem nenhum desdobramento.
Questionei isso e outras coisas em vão. Passei dois anos sem meu salário de professor. Esse foi o resultado.
Aprendi muito? Sim. Aprendi demais! E não tenho vergonha nenhuma de contar essa história para ninguém. Até porque serviu de exemplo para muita gente.
Reconheci amigos? Poucos. A maioria era de conveniência. Nunca falaram nada a meu favor. Outros se declararam mesmo ao ponto de me engrossarem a fila dos que me tratavam como pedófilo. Por isso que eu digo que prefiro um inimigo declarado a um amigo falso. Esses últimos sempre estão próximos, já perceberam?
Em 15 anos de profissão, esta foi a pior situação que eu já enfrentei. Não queiram saber o que é ficar sem receber seu salário dessa forma forçada e ser apontado e estigmatizado por muito tempo como “professor pedófilo”.
Tentei, a grosso modo, contar o que houve comigo. É claro que essa história está recheada de detalhes vários que não tem como contar aqui. Mas achei importante contar ao menos o fato VERDADEIRO do que houve comigo naqueles anos letivos de 2000 e 2001.
Porque estou contando essa história agora, depois de 10 anos do fato ocorrido?
Recentemente eu soube que existem pessoas enviando email para o jornalista Claudio Castanha, contando que eu passei um filme de sexo em Pombos. De acordo com a verdade descrita aqui, isso nunca aconteceu como disseram. E desafio um ser humano a contar uma versão diferente. Talvez com o objetivo de me atingir moralmente e causar transtornos outros diante do que vem acontecendo aqui em Gravatá.
Me aborrece o fato desse sujeito ou sujeita não ser homem o suficiente para aparecer e tentar contar a sua versão, nem é uma mulher de vergonha que se arrisque fazer o mesmo. São covardes. O mundo não precisa de vocês. Aliás, para quem acredita em inferno (eu não acredito), lá está lotado de gente como vocês. Juntem-se aos que lá estão.
Costumo dizer que o pouco tempo nos faz ver e o longo tempo nos faz conhecer. Eu precisei apenas esperar um ano para descobrir que muitos que se diziam amigos (do alto escalão do governo), não passavam de aves de rapina em caçada à surdina.
Sempre fui de entregar-me aos meus serviços de corpo e alma. Tínhamos uma equipe pedagógica muito boa. A direção era formada por pessoas amigas; os professores – apesar das perdas – estavam se entendendo. Os contratados estavam recebendo por um serviço mais aplicado. A equipe era fechada. Se um precisa do outro, era imediatamente atendido.
A nossa equipe era alvo de inveja, de observações negativas, de perseguição discreta por parte da própria secretaria e de algumas pessoas da comunidade que simplesmente se incomodavam com o trabalho que era feito em prol da comunidade. Não sabia, mas eu estava sendo alvo de uma conspiração que me custaria muito.
Apesar disso tudo, a Escola sofria com a presença de alunos muito complicados de se conviver. Na minha sala eu tinha um aluno chamado Moisés (hoje motorista de van em Jaboatão) que estava na fase da adolescência rebelde e envolvido com drogas e delinquência. Em outra sala, havia uma menina que, apesar dos 14 anos, estava com Sífilis e herpes Genital, resultado de prostituição. Lutávamos com esmero para manter a ordem, a disciplina e a paz na escola.
Moisés, um dia, tomado pela droga (provavelmente maconha) invadiu a escola antes da chegada da equipe pedagógica e simplesmente agrediu funcionários, quebrou telhas, fez o que queria fazer nas dependências da escola. Quando chegamos, eu e a diretora, todos os alunos e funcionários estavam na rua, com medo de entrar na escola.
A funcionária Márcia, chorando, me contou que Moisés era o autor daquele pandemônio. Entrei e procurei Moisés. Tentei conversar com ele. Mas estava transtornado. Me ameaçou com um canivete mas n teve coragem de fazer nada. Saiu como louco pela rua gritando que mataria a todos da escola. Nunca mais apareceu.
Apesar de ser meu aluno, tive que prestar queixa a policia, junto com a direção escolar. A então Secretária de Educação, acompanhada do Delegado, quis nos obrigar a ficar com Moisés. Eu e a direção escolar batemos o pé e sugerimos que ela nos tirasse da escola e ficasse com o aluno. Ela não gostou.
Preocupado com esta e com outras situações, busquei uma forma mais amena de conversar com os alunos, alertando-os para os perigos do mundo longe da Educação. Em Vitória de Santo Antão – onde eu morava – procurei a locadora de uma amiga, na Av. 15 de Novembro. Conversa sempre com ela sobre lançamentos em VHS e sobre a vida. Afinal, éramos amigos muito próximos. Contei pra ela o que estava passando na escola e pedi uma sugestão de um filme que eu pudesse levar para sala de aula e tratasse de temas como violência, família, amigos, mundo de vida fácil de forma mais suave, divertida, lúdica.
Ela então me sugeriu um lançamento. O nome do filme – que me causa horror até hoje e um trauma sem precedente – é (era) a comédia: TODO MUNDO EM PÂNICO II. Nem olhei direito o filme. Coloquei dentro da bolsa escolar para não me esquecer de levar no dia seguinte
Não li a sinopse. Não vi a classificação. Não assisti ao filme quando cheguei a minha casa.
Amanheceu o dia. Peguei minha moto e fui ao encontro da Diretora que sempre tinha minha carona para escola. Ela liga para o meu celular e avisa que não iria à escola comigo. Que eu resolvesse tudo por ela, como sempre fazia.
Quando cheguei à escola, a funcionária contratada estava desesperada com o recadastramento do PETI. Sem entender direito dos documentos necessários da secretaria, ela me pediu ajuda. Eu, por minha vez, como conhecia o processo, me dispus a ajudar. Corri para a sala de aula, instalei o vídeo cassete, falei que eles iriam assistir a um filme enquanto eu estaria na secretaria. Ao final do filme, iríamos fazer um debate. Assim foi feito.
Da secretaria nós ouvíamos o sorriso coletivo da sala. A moça que trabalhava na secretaria perguntou, inclusive, se o filme era uma comédia e eu, de acordo com o peixe que me foi vendido, afirmei positivamente. E continuamos o nosso trabalho.
A quantidade de pessoas diminuiu e a funcionária se sentiu mais segura para continuar o trabalho sem mim. Quando eu estava voltando pra sala, o filme acabou. Todos sorriam alegremente. Perguntei se haviam gostado do filme, se eles haviam absorvido algum aprendizado, etc. A manhã de aula acabou e eu voltei pra Vitória, satisfeito pela missão cumprida por mais um dia de trabalho.
Parei na locadora e entreguei o filme. Fui pra casa.
Na manhã seguinte, desta vez acompanhado pela diretora, em frente à Escola, um grupo de pessoas falando grosso, me olhando com ódio. Um funcionário, Maicon (gente da melhor qualidade) foi ao meu encontro e disse que aquelas pessoas estavam ali por minha causa. Quis saber o motivo antecipado e ele contou que as pessoas queriam minha cabeça porque eu havia passado um filme de sexo para alunos menores de 14 anos...
Fui pra minha sala de aula. Alguns minutos depois, a diretora me chamou. Ela estava transtornada. Quando entrei na diretoria, ela foi contando que os pais estavam ali para saber qual seria a atitude da escola diante do ocorrido.
Tentei me defender dizendo que o filme era uma comédia, que uma amiga havia me sugerido. Mas isso só aumentava a tensão. Alguns pais (homens) estavam apenas querendo saber o que realmente havia acontecido. Algumas mães e pessoas aproveitadoras queriam “justiça”. Não durou trinta minutos e uma equipe da secretaria de educação entrou na escola, formando um pelotão inquisidor junto com os pais.
Nada do que eu tentava justificar sob prantos adiantava. A direção escolar me defendia. Alguns alunos choravam. E eu só conseguia sentir o sabor da faca me apunhalando o peito.
Fui convidado a ir pra casa. Ao chegar me Vitória, corri para a locadora. Peguei o filme e olhei a classificação que dizia ser para maiores de 14 anos. Gelei. Levei o filme pra casa e assisti com minha mãe. Chorei desesperadamente. Quem assistiu ao filme sabe que NÃO É UM FILME DE SEXO. Mas que apresenta cenas realmente picantes para alunos com menos da idade sugerida na classificação. Percebi que havia cometido três erros graves: o primeiro de não ter visto a classificação. O segundo de não ter assistido antecipadamente o filme em casa e o terceiro erro foi de não está presente com eles durante a execução do filme
Em 24 horas a história havia atravessado fronteiras. Rádios com programas sensacionalistas e policiais dos dois municípios anunciavam que um professor havia passado um filme de sexo para alunos menores de 14 anos. Um grupo de mulheres havia ligado para as rádios e contato o ocorrido, ao seu bel prazer.
O meu nome estava estampado nos noticiários e na boca de muita gente como Professor Pedófilo.
No período da tarde, a equipe da secretaria de educação voltou à Escola e ouviu o pedido das mães que queriam a minha saída da escola. Assim foi feito. Naquela noite inesquecível, a diretora me ligou dizendo que estava suspenso e que não voltaria ao meu local de trabalho, onde passei 5 anos letivos trabalhando pela comunidade escolar.
Procurei a secretária na casa dela, na noite seguinte, depois de ter passado o dia inteiro tentando falar por telefone. Na sua residência, ela confirmou a minha suspensão de 30 dias. Me sugeriu que eu procurasse uma outra escola para trabalhar, se quisesse. Consegui. Mas ela me negou. E depois de 30 dias, outra bomba. Eu fui induzido a assinar uma licença sem vencimentos. Caso contrário seria aberto um inquérito administrativo contra mim. Sem amigos por perto que pudessem me orientar, assinei.
Procurei, na época, pessoas ligadas ao prefeito para tentar conversar com ele e explicar a situação. Com mais tranquilidade, também procurei amigos que haviam trabalhado comigo. A comunidade da Usina Nossa Senhora do Carmo, pela iniciativa de pais de ex-alunos, conseguiu reunir um abaixo assinado de mais de 200 pessoas, pedindo minha volta. Esse documento foi enviado para a secretária que fez pouco caso, como em tudo que pudesse me ajudar.
A então secretária de Saúde – carinhosamente chama de Dra. Fátima – me ajudou muito. Chegou a receber a visita do grupo de mulheres que havia iniciado esse processo todo. Talvez com medo porque eu anunciei que iria processar a todos que, antes mesmo de procurar a direção e a secretaria, jogaram meu nome nas rádios, contanto o que elas queriam contar.
Dra. Fátima interveio no caso. Mas nada adiantou. O senhor prefeito preferiu ouvir a vontade da secretária de educação, a quem eu aponto total responsabilidade pela manobra desleal contra mim.
Ficou tão notório que era estritamente pessoal porque na mesma época, um professor do quadro havia chamado os piores palavrões contra alunas e alunos da 8ª série, chamando, inclusive, as alunos de prostitutas (não foi essa a palavra); desafiou o diretor da escola, além de despeitá-lo diante de todos. Sabem o que foi feito contra esse professor que muitos chamam de excelente? NADA!
Outro fato na mesma época aconteceu. Uma professora contratada (amiga do prefeito) espancou e colocou de castigo debaixo do birô um aluno primário indefeso. Os pais do aluno chegaram a prestar queixa na delegacia contra a professora. Contaram-me que a queixa foi retirada depois que os pais (paupérrimos) receberam agrados do prefeito. E MAIS UM CASO FOI ENCERRADO sem nenhum desdobramento.
Questionei isso e outras coisas em vão. Passei dois anos sem meu salário de professor. Esse foi o resultado.
Aprendi muito? Sim. Aprendi demais! E não tenho vergonha nenhuma de contar essa história para ninguém. Até porque serviu de exemplo para muita gente.
Reconheci amigos? Poucos. A maioria era de conveniência. Nunca falaram nada a meu favor. Outros se declararam mesmo ao ponto de me engrossarem a fila dos que me tratavam como pedófilo. Por isso que eu digo que prefiro um inimigo declarado a um amigo falso. Esses últimos sempre estão próximos, já perceberam?
Em 15 anos de profissão, esta foi a pior situação que eu já enfrentei. Não queiram saber o que é ficar sem receber seu salário dessa forma forçada e ser apontado e estigmatizado por muito tempo como “professor pedófilo”.
Tentei, a grosso modo, contar o que houve comigo. É claro que essa história está recheada de detalhes vários que não tem como contar aqui. Mas achei importante contar ao menos o fato VERDADEIRO do que houve comigo naqueles anos letivos de 2000 e 2001.
Porque estou contando essa história agora, depois de 10 anos do fato ocorrido?
Recentemente eu soube que existem pessoas enviando email para o jornalista Claudio Castanha, contando que eu passei um filme de sexo em Pombos. De acordo com a verdade descrita aqui, isso nunca aconteceu como disseram. E desafio um ser humano a contar uma versão diferente. Talvez com o objetivo de me atingir moralmente e causar transtornos outros diante do que vem acontecendo aqui em Gravatá.
Me aborrece o fato desse sujeito ou sujeita não ser homem o suficiente para aparecer e tentar contar a sua versão, nem é uma mulher de vergonha que se arrisque fazer o mesmo. São covardes. O mundo não precisa de vocês. Aliás, para quem acredita em inferno (eu não acredito), lá está lotado de gente como vocês. Juntem-se aos que lá estão.
Se acha que vai me intimidar, me fazer recuar, me fazer calar, quero dizer que você tá perdendo o seu tempo. Continuo na escuridão, que é o lugar do fracos, dos covardes, dos astutos, dos miseráveis sem luz. Vou continuar fazendo o que sempre fiz, sabendo que posso errar. Mas na certeza de que estou fazendo e correndo o risco de cair, perder, errar. Faz parte da vida. Eu tenho plena convicção disso porque conheço os níveis de descasos contra uma pessoa. Todos eles, juntos com que alguns vem fazendo contra mim, só me dão ânimo para continuar vivo e acreditando que podemos, sim, mudar o mundo, a partir de nós.
Não me considero um professor maravilhoso, excepcional. Mas eu sei que faço o melhor para os meus alunos. Sei que não sou perfeito nas minhas ações, mas não sou falso, covarde, mentiroso, aproveitador, invejoso, injusto. Esses adjetivos não cabem em mim, graças a tudo que aprendi. Eu não uso máscaras nem preciso de ofender ninguém para conseguir meus objetivos.
Por fim, é bom lembrar:
O pouco tempo nos faz ver. O longo tempo nos faz conhecer.
Reconhecer erros é uma virtude apenas das grandes almas.
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