Aprovado
Não se sabe ao certo se é para rir ou para chorar o desfecho do processo que levou o deputado federal eleito Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca, a comprovar que é alfabetizado -condição necessária para o exercício do mandato.
O teste, que lhe foi aplicado na Justiça Eleitoral de São Paulo, consistiu de um ditado e da leitura de duas manchetes de jornal. Como diria o presidente Lula sobre o Enem, foi "um sucesso".
Muita gente deve ter torcido contra o desempenho de Tiririca. Havia a esperança, alimentada por suspeitas de fraude no seu registro como candidato, de que o comediante perdesse o mandato.
Difícil dizer, em todo caso, se, na ausência de Tiririca, seus substitutos seriam melhores do que ele. Como tantas outras candidaturas baseadas antes na celebridade pessoal do que em qualquer proposta séria de intervenção na vida parlamentar, Tiririca funcionou como um "puxador de votos" para uma legenda que não se importou com o estigma, feito de autodeboche e despreparo, que cercou o candidato.
O certo é que, qualquer que seja o seu grau de instrução, e embora confessadamente ignorante das atribuições que cabem a um deputado federal, Tiririca foi o grande êxito eleitoral da Câmara, tendo obtido 1,3 milhão votos.
Teria, sem dúvida, o sabor de um artifício jurídico a cassação de seu mandato. Eleito, não se sabe se por desfastio ou vontade de protesto, Tiririca talvez não seja mais nocivo, nem mais tosco, do que outros políticos não tão expostos quanto ele ao horror dos bem-pensantes.
Mais do que se preocupar com o nível de instrução de um deputado em particular, importa pensar de que modo, através da melhoria das condições educacionais de toda a população, e de mecanismos eleitorais menos propícios ao oportunismo e à fisiologia partidária, será possível fortalecer a atividade parlamentar no Brasil -cujo descrédito, mais do que qualquer outra coisa, a votação obtida por Tiririca reafirma.
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