quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Educação é a culpada pela estagnação do desenvolvimento econômico-social do Brasil?


 

Tenho lido desde ontem, quando foi anunciado o resultado do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos 2009 (PISA), divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), críticas e elogios acerca da posição desconfortante do Brasil em relação ao resto do mundo, ficando em 53º, num total de 65 países.



O resultado gerou uma onda de desapontamento, desesperança, revolta e indignação por parte da sociedade brasileira que assiste a generalização da descrença em relação ao trabalho desenvolvido pelas instituições educacionais, desde as escolas de educação infantil localizadas em zonas rurais, aos grandes centros de referência e universidades.



O PISA avalia o desempenho escolar medindo o conhecimento dos jovens de 15 e 16 anos de idade em três ramos do conhecimento ensinados em escolas de ensino fundamental: matemática, ciências e leitura. Lendo atentamente os resultados, percebemos que ainda existe uma expressiva desigualdade entre as regiões do Sul e Sudeste (que obtiveram os melhores resultados), e as regiões Norte e Nordeste (responsáveis pelos piores desempenhos). O melhor resultado foi o de Brasília e o pior foi o de Alagoas.


De quem é a culpa? Ou, quem são os responsáveis? Será a Escola de base? O trabalho do Professor? O sistema Educacional brasileiro que se encontra moralmente falido? A falta recorrente de investimentos na melhoria das escolas e dos salários?


Costumava dizer em diversas oportunidades de palestras realizadas que é muito fácil atirar pedras. Qualquer louco faz. Divino é compreender e assumir a responsabilidade que cada um de nós temos em relação à família, ao trabalho, à vida, à educação. Porém…


Nas diversas reportagens que li de ontem para hoje, algumas posições me chamaram a atenção. Uma delas foi do educador Cláudio Moura Castro sempre lembrado para se pronunciar sobre o problema educacional. Ele disse:


“O professor não aprende nem o que ele vai ensinar e nem aprende a lidar com a sala de aula. Esse é talvez o principal ponto de estrangulamento da educação no Brasil no momento. Esse é talvez o principal ponto de estrangulamento da educação no Brasil no momento”.



A afirmação do Professor Castro nos leva a admitir que a formação do professor é deficiente. Começar com a forma como são administrados os cursos de Magistério espalhados pelo Brasil. Os cursos de licenciatura, infelizmente, não preparam com rigor e eficiência àqueles que irão exercer a docência, porque existe, além da falta de interesse geral, um corporativismo exacerbado e vergonhoso por parte de instituições privadas e até públicas que travam o pleno desenvolvimento qualitativo dos profissionais e aprendizes. Quer ver um exemplo?



Minha formação é na área de ciências geográficas. No entanto, quando ainda em formação e iniciando a carreira de professor em estágios e contratos nas redes estadual e municipal, dei aulas de Direito, de Contabilidade, de Desenho Geométrico, de Matemática.



Em Pombos, onde iniciei minha carreira, dei aulas de Inglês da 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. Situação parecida ocorre atualmente no município de Gravatá, onde temos que ensinar Turismo sem a menor capacitação e especialização. Outra prática recorrente é a questão do ensino de Educação Física nas primeiras séries do Fundamental. Tudo isso ocorre porque os verdadeiros heróis da Educação Básica precisam suprir as deficiências na ausência de profissionais devidamente qualificados.



Há casos em que Engenheiros e Arquitetos são contratados para dar aulas de exatas sem o menor preparo do ponto de vista pedagógico. É certo que muitos profissionais que fizeram curso de Bacharelado dão exemplo de formador e regente de sala de aula do que muitos que se formaram em Licenciatura. Esta constatação que aqui faço não é generalizada nem preconceituosa, até porque poderia citar diversos nomes de professores que fizeram Engenharia e outros cursos de Bacharelado e são professores exemplares. O foco não é este. A questão é a ausência e o despreparo de muitos colegas que enveredaram para a Educação por a porta mais próxima, mais simples de ingressar no serviço público e garantir uma estabilidade profissional invejável, se comparada á outras profissões.



Há quem defenda mudanças na legislação que confere estabilidade ao funcionário público. Uma vez aprovado num concurso público o professor da escola pública adquire estabilidade e, independentemente da sua habilitação para o exercício da docência, está com o emprego assegurado para o resto da vida.



Sou contra qualquer tipo de ameaça que busque retirar este direito de qualquer servidor público, especialmente dos professores. Defendo de fato, para que haja um desempenho qualitativo no exercício da docência, que é uma atividade eminentemente vocacional, um período probatório bem acompanhado e extremamente rígido que apontasse para que norte o candidato deva seguir. Se o mesmo não preencher os requisitos vocacionais, deveria ser desclassificado ou remanejado de alguma forma.



Feito isso, sem nenhuma pretensão minha de ser dono da verdade, em escalas gerais, evitaríamos que, por exemplo, 50% das crianças brasileiras da 5ª série não seriam semi-analfabetas; dos 3,5 milhões de alunos que ingressam no ensino médio (antigo colegial), não apenas 1,8 milhão se formam e, como consequência, nós não jogaríamos milhões adolescentes despreparados no mercado de trabalho, sem qualquer perspectiva de ascensão social e econômica, como ocorre anualmente em todos os estados brasileiros.



Eu me recordo agora de uma belíssima música do saudoso Gonzaguinha, chamada Grito de Alerta. Há um trecho da música que cabe bem neste instante, que diz: “São tantas coisinhas miúdas roendo, comendo, arrasando aos poucos com nosso ideal. São frases perdidas num mundo de gritos e gestos, num jogo de culpa que faz tanto mal...”



Até quando vamos continuar dizendo que a Educação é culpada pelos desastres sociais e econômicos, de forma indiscriminada? Entre os profissionais há o revanchismo, a inveja, o assédio moral tão recorrente nas Secretarias Municipais de Educação e pouco envolvimento e entrega incondicional que seja capaz que destruir esse jogo de egos e culpas que só quem perde somos nós.


 
Estamos arriscando uma vida melhor para todos no futuro por completo egoísmo. Todos estes dados negativos trazidos pelo PISA só reforçam estatísticas que simplesmente somam realidades variadas negativadas pela falta de compromisso geral, que se inicia, aqui, na minha escola, na sua escola, nas milhares de unidades de ensino espalhados por esta terra abençoada por Deus e bonita por natureza.



Ouvi pelo rádio o pronunciamento do Ministro da Educação, Haddad. Ele preferiu minimizar e falar dos avanços conquistados na última década. De fato. Não temos o que comemorar, mas não é por isso que devemos desconsiderar alguns avanços e nos colocarmos em um nível inferior em relação a outros países. A Educação brasileira melhorou? Claro que sim!



Quando era estudante do ensino fundamental, me recordo de ter ouvido de um professor que na Argentina não havia analfabetos praticamente, em comparação ao Brasil que possuiu cerca de 30% de pessoas sem formação básica. Recordo-me, inclusive, nacionalista e patriota como sempre fui, que me revoltava quando alguém criticava a nossa posição em relação aos hermanos. E dizia para os críticos de plantão, tão ingênuos quanto eu: “não tem como comparar estes dados porque a população do Brasil é muito maior que da Argentina”. Hoje o Brasil superou Argentina e Colômbia e mais nove países, embora ainda esteja 19 pontos atrás do México, 26 pontos atrás do Uruguai e 38 pontos atrás do Chile.



Gostaria de registrar que a pesquisa nos alguns indicativos interessantes. Gostaria de destacar três:



1- As meninas se saíram um pouquinho melhor na avaliação. Ao todo, são 403 pontos para elas contra 399 para eles.

 
2- A média geral dos estudantes foi 401, acima da meta estabelecida pelo Ministério da Educação, de 395. O Brasil está entre os três países que mais evoluíram na avaliação.

 
3- Quem se saiu melhor foram os alunos de colégios públicos federais e de escolas particulares.




1- Desde que me entendo por gente, as meninas sempre se saíram melhor quando a questão é leitura, especialmente. Recordo-me que as meninas adoravam escrever bilhetinhos de amor para os paqueras e namorados escondidos. Raros os homens que pegavam uma folha do caderno para escrever este tipo de texto, quanto mais outros tipos de redação. Hoje temos Orkut, emails, MSN que possibilitam a melhor expressão do que pensamos e sentimos. Mas, mesmo assim, as mulheres ainda são maioria no trato com a leitura, escrita e resolução de cálculos e apuração da lógica.


2- estabelecer metas nas Secretarias de Educação nos municípios ainda é um desafio a ser vencido por todos os profissionais e pessoas envolvidas. Colocar a responsabilidade exclusivamente nas mãos do professorado e a colheita dos louros nas caras estranhas não é o caminho justo. O compromisso para superarmos as metas do IDEB, por exemplo, é das famílias, é da escola, é da Secretaria de Educação, representadas pelos seus respectivos sujeitos. A família deve incentivar seus menores a leitura. Os professores devem ser modelos de bons leitores, que motivam seus pupilos a busca pelo universo das letras. Dizer o que é substantivo, explicar o que como resolver uma equação, mostrar a diferença entre Serra e Montanha, demonstrar como funciona um sistema digestivo é muito pouco.


3- Por fim, é completamente explicável porque alunos dos núcleos federais e de escolas particulares se saiam bem na avaliação. Com ou sem preguiça, os alunos destas instituições são levados busca pela informação pela leitura, interpretação e produção textual. A estudante Maria Gabriela, entrevistada pelo Bom dia Brasil, da Rede Globo afirmou:


“Deveria ter mais organização e exigir mais da gente, fazer igual às escolas particulares mesmo, com mais conteúdo, porque às vezes a gente fica com muita folga.”



A fala de Maria Gabriela ressoa em diversos alunos dos sistemas municipais e de nosso município, estaduais e particulares, porque ainda enfrentamos resistência de diversas forças que vivem infelizes.

No entanto, sejam quais forem as metas que precisaremos alcançar, locais, nacionais ou internacionais, nós, professores comprometidos, buscaremos superar a nós mesmos e ser uma célula sadia que reproduz vida no grande sistema educacional brasileiro.



Pra finalizar, vai um recado para todos nós ligados à Educação, especialmente, aos nossos bons professores gravataenses:







PROFESSORES QUE INSPIRAM

Por Dr. Anthony P. Witham



“Professores que inspiram. . .

percebem que, em última análise, não irá contar o quanto seus alunos aprenderam, mas o quanto acumularam conhecimento e habilidades que possam ser usadas por toda a vida;
 
despertam o potencial infantil ao invés de reprimi-lo; elogiam o esforço de cada aluno ao invés de ignorá-lo, estimulam ao invés de encobrir a curiosidade da criança;
 
percebem que eles devem respeitar seus alunos, sem impor seus valores pessoais, pois cada um precisa explorar e estabelecer seus valores próprios;

ajudam os alunos a descobrir seus dons, porém esses talentos “escondidos” podem ser facilmente dominados se o principal enfoque estiver no texto ou na avaliação, e não na criança;

disponibilizam seu tempo espontaneamente e lembram-se de encorajar aqueles que têm mais dificuldades;

corrigem os erros do aluno e elevam sua auto-estima ao mesmo tempo;

motivam mentes jovens a pensar por eles mesmos , muito mais do que se preocupam com fatos que exijam memorização;

percebem que o maior de todos os presentes que eles podem oferecer a seus alunos não é seu talento pessoal ou sua esperteza, mas ajudar cada a um a descobrir e a se apropriar de sua própria esperteza e talento;

encorajam mentes a pensar, mãos a criar e corações a amar – professores que exigem muito e que recebem muito;

nunca se empenham em explicar sua visão pessoal de mundo, mas simplesmente convidam seus alunos a ficarem ao seu lado para que eles possam ver o mundo por eles mesmos;

minimizam as deficiências de seus alunos e realçam seu dom natural. Tais professores nunca forçam um dançarino a cantar nem um cantor a dançar. Eles permitem com que seus alunos acendam sua própria “lâmpada” no momento e da maneira deles;

acreditam que a comunicação em sala de aula não melhora se falada em voz muito alta;

acreditam que exemplo não é uma ferramenta de influências para impressionar mentes jovens, e sim a chave para moldar atitudes positivas, valores e hábitos de estudo para os alunos;

recordam seus alunos de que ganhar não é tudo na vida, mas ir em busca de seus ideais sim;

sabem que o presente mais valioso do mundo não é dinheiro nem livros, mas ter uma vida nobre;

não acham que eles têm que estar com seus alunos, eles querem estar com eles. Ensinar não é uma profissão , mas uma escolha que optaram em consideração ao próximo;

concordam com Eleanor Roosevelt que disse, “O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos”;

percebem que na vida de cada aluno existe um espaço esperando ser preenchido pelo professor, que pode comunicar auto confiança, criação de talentos que não foram descobertos e incentivo às atitudes na vida para o seu crescimento;

inspiram bons sentimentos nas crianças e na juventude, pois sabem que eles nunca irão conseguir medir o quanto influenciaram na vida de uma criança;

acreditam que algum dia seus alunos irão perceber que eu estou lá para ajudá-los a alcançar seus objetivos ou a completar suas tarefas, a melhorar sua auto-imagem e que existem algumas fronteiras que eles não podem alcançar;

acreditam no credo: “ensine aquilo que a sua consciência achar certo; ensine aquilo que a sua razão disser que é o melhor; ensine com toda o seu espírito e poder; faça o seu dever e seja abençoado”;

acreditam que aprender, fazer e ensinar acontecem quase que ao mesmo momento na vida - elas ocorrem normalmente simultaneamente. A criança que estamos ensinando a ler e a escrever está, ao mesmo tempo, nos ensinando sobre a inocência e a maravilha;

tentam garantir a cada criança oportunidades iguais – não se tornar “igual” mas “diferente”, compreender todo potencial do corpo, mente e espírito que ele ou ela possui;

optam por alternativas positivas em estabelecer disciplina em sala de aula, ao invés de depender unicamente das formas diversas de punição;

encorajam e afirmam para a criança não aquilo que ela é, mas aquilo que ela virá a ser;

estão sensíveis por saber o quanto suas palavras e ações podem afetar seus alunos positiva ou negativamente;

acreditam que um relacionamento positivo entre aluno e professor se origina através do respeito;

suscitam atitudes positivas em sala de aula e criam uma corrente contínua de pensamentos e idéias positivas;

são entusiastas, enérgicos e eternamente otimistas em relação à potencialidade de seus alunos;

concordam com o pensamento de Grayson Kirk’s que diz: “A função mais importante da educação, em qualquer grau, é desenvolver a personalidade do indivíduo e o significado de sua vida para ele mesmo e para os outros”.

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