quarta-feira, 25 de maio de 2011

AS MATAS CILIARES E O CÓDIGO FLORESTAL‏

O novo Código Florestal e os desastres ambientais: o que há em comum entre a monocultura, a cana-de-açúcar, a criação de bovinos, a pobreza, políticos corruptos, a destruição da mata ciliar e as enchentes, enxurradas e inundações?


Posted:
20/05/2011 by antoniolimajr in 

O caderno Ciência e Meio Ambiente do Jornal do Commercio, domingo, 08 de maio de 2001, folha 5, trouxe a seguinte matéria:

“Mata ciliar é solução para as inundações”.

 

Fiquei muito animado com a notícia! No momento, o novo Código Florestal é discutido no Congresso Nacional, promovendo a tentativa de reduzir as áreas de preservação de florestas em margens de rios (mata ciliar), por grupos cujos principais interesses são egoístas e que ignoram as necessidades e sofrimentos coletivos, além do imperativo da preservação ambiental.
Ao mesmo tempo, vemos se multiplicarem os desastres ambientais, a exemplo das enchentes, enxurradas, inundações e deslizamentos de terra, em 2010 e 2011, atingindo Pernambuco, Alagoas, Região Serrana do Rio de Janeiro e outras regiões do Brasil, como as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, com mortes e grande número de pessoas desalojadas e desabrigadas. Muitas dessas pessoas estão desabrigadas desde desastres ocorridos anteriormente ao último registrado. E, não bastasse a tragédia humanitária e as perdas de vidas, os brasileiros em geral, toda a nação, têm de arcar com o incalculável custo de recuperação e reconstrução daquilo que foi destruído. É bom lembrar que as populações mais pobres são aquelas que geralmente sofrem as principais conseqüências dos desastres, aqui e em todo o mundo.

Os artífices do novo Código Florestal argumentam que não há “provas científicas” que justifiquem a manutenção da mata ciliar!

 

Me poupem, ilustres parlamentares!

 

Quando se trata de segurança e sobrevivência da humanidade, prevalece o princípio da segurança e torna-se desnecessário provar o óbvio, o ululante. Na dúvida, preserve!


Mas, ainda assim, o cientista ambiental André Alcântara, sob a orientação do pesquisador Ricardo Braga, com apoio da Sociedade Nordestina de Ecologia e com financiamento pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente, provou para os céticos, inconseqüentes e egoístas que a mata ciliar precisa ser protegida:

“a vazão da água é bem maior em áreas cultivadas que em áreas florestadas”.

 

Mas o que isso significa? A tabela a seguir ilustra os resultados e alcance do estudo:
Local
Vazão
(l/s por km2)
Oxigênio dissolvido na água
Necessidade de tratamento da água para consumo
Estação 01 – Próximo da nascente: rio margeado por floresta Atlântica
24,7
Acima do necessário para a água ser considerada própria para consumoNecessita apenas cloração
Estação 02 – Rio cercado por agricultura de subsistência e mata em regeneração
62,6
Próximo do mínimo necessário para a água ser considerada própria para consumoNecessita de tratamento completo
Estação 03 – Margens ocupadas por pasto e canavial
177,6
Muito abaixo do mínimo necessário para a água ser considerada própria para consumoNecessita de tratamento completo

Ou seja:

“em áreas cultivadas, a vazão do rio é sete vezes maior que nas áreas florestadas”, pois onde havia pasto e cana a vazão chegou a 177,6 litros.

Traduzindo, em termos práticos, acrescento aqui uma pequena contribuição ao debate:
Quais são os municípios pernambucanos (e provavelmente também alagoanos) mais atingidos pelas enchentes em 2010 e 2011? Quais as suas principais formas de exploração e uso do solo, conforme dados de 2010?
Município
Situação de desastre ambiental em 2010 e 2011
Densidade demográfica (hab/km2)
Taxa de urbanização (%)
Renda per capita
Taxa de analfa-betismo
- 15 anos e mais (%)
Principal cultura -agrícola e pecuária
(maior valor da produção em R$ e maior efetivo dos rebanhos, respectivamente)
Água PretaCalamidade Pública60,8456,6165,539,60Cana-de-açúcar e bovinos
BarreirosCalamidade Pública174,4983,4293,2230,76Cana-de-açúcar e bovinos
CatendeCalamidade Pública182,8276,33104,1933,94Cana-de-açúcar e bovinos
CortêsCalamidade Pública122,9463,4574,1836,09Cana-de-açúcar e bovinos
JaqueiraCalamidade Pública129,2261,5765,0339,94Cana-de-açúcar e bovinos
MaraialCalamidade Pública62,4670,0360,5742,77Cana-de-açúcar e bovinos
PalmaresCalamidade Pública176,7178,76134,4727,78Cana-de-açúcar e bovinos
PrimaveraCalamidade Pública122,2463,8484,8832,67Cana-de-açúcar e bovinos
XexéuCalamidade Pública127,1865,0464,9943,94Cana-de-açúcar e bovinos
Quer mais? Veja a tabela completa, ao final, incluindo municípios em situação de emergência.Dados: www.bde.pe.gov.br/ArquivosPerfilMunicipal

São justamente aqueles municípios que têm os tipos de agricultura e pecuária apontados como tendo maior vazão em decorrência das chuvas. Não bastasse a pesquisa sobre vazão menor em áreas com preservação de matas ciliares, realizada em Pernambuco, acrescentam-se os dados acima, que são óbvios, ululantes!

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