quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mata ciliar é solução para as inundações

CÓDIGO FLORESTAL - Trabalho de campo realizado no Rio Natuba comprovou que vazão da água é bem maior em áreas cultivadas que em áreas florestadas. Estudo vai para a SBPC

A vegetação que margeia os cursos dágua, chamada de mata ciliar, evita mesmo enchentes, comprova pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O trabalho mostra que, em áreas cultivadas, a vazão do rio é sete vezes maior que nas florestadas.

Os resultados serão enviados amanhã para as entidades científicas que acompanham, no Congresso Nacional, a votação do projeto de lei que altera o Código Florestal, prevista para ocorrer esta semana.

Uma das mudanças propostas pelo relator, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), é a redução da mata ciliar. Hoje, o Código Florestal estabelece que, no mínimo, a floresta deve cobrir 30 metros de cada margem. O projeto de lei flexibiliza para até 7,5 metros.

Parlamentares e ruralistas alegam que não há comprovação científica que justifique a manutenção da mata ciliar. Nosso trabalho dá uma contribuição nesse sentido, diz Ricardo Braga, que orientou o estudo. Ele encaminhará os dados para a secretaria regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O levantamento, concluído em dezembro, foi feito no Rio Natuba, um afluente do Tapacurá, que deságua no Capibaribe. O curso dágua fica entre Vitória de Santo Antão e Pombos, na Zona da Mata. O trecho estudado corta o Assentamento Chico Mendes, do Incra, também conhecido como Assentamento do Ronda, nome que a população local dá a essa mata.

O cientista ambiental Felipe Alcântara, que fez o estudo para a conclusão de mestrado, mediu durante o inverno o índice pluviométrico e a vazão do rio em três pontos. O primeiro é cercado por Mata Atlântica, o segundo tem agricultura familiar e mata em regeneração e o terceiro, pasto e cana-de-açúcar.

Enquanto a vazão que alcançou o rio na área de floresta foi de 24,7 litros por segundo a cada quilômetro quadrado, na área de pasto e cana esse número chegou a 177,6 litros. Ou seja, sete vezes mais.

O trabalho de Felipe, para o mestrado em engenharia civil da UFPE, avaliou ainda a oxigenação da água. Os gráficos mostram que nas áreas florestadas a água é muito mais oxigenada.

Esse parâmetro está relacionado à qualidade do recurso. Água com mais oxigênio é favorável à biota (conjunto de seres vivos) e também ao abastecimento, porque não vai precisar passar por todas as etapas de tratamento. Apenas a cloração, o que barateia os custos.

A próxima etapa da pesquisa, no doutorado, será comparar os custos dos serviços ambientais com os do abastecimento de água. O cientista ambiental quer saber se a água é mais barata, para o Estado, com a floresta em pé ou desmatada.

A pesquisa, financiada pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), teve o apoio da Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE), da qual Braga também faz parte.

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