Ministro Carlos Minc diz que o acordo é melhor do que zero absoluto
O "Acordo de Copenhague", documento firmado por Estados Unidos, China, Brasil, Índia e África do Sul, recusado hoje pelo plenário da 15ª Conferência das Nações Unidas (COP-15), simbolizou o fracasso de duas semanas de negociações diplomáticas entre os 192 países participantes. O documento, permeado de críticas dos delegados, foi denunciado por países em desenvolvimento e acabou rebaixado a um adendo da edição de 2009 da Convenção do Clima (UNFCCC).
Com este resultado, esperanças sobre o “nosso futuro comum”, foram adiadas para a COP-16, que ocorrerá no México, em 2010.
Depois da maratona de negociações de chefes de Estado e de governo, entre os quais dos presidentes dos EUA, Barack Obama, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, delegados de países como Sudão, Tuvalu, Cuba, Nicarágua, Bolívia e Venezuela, entre outros, recusaram-se a aceitar o acordo, que precisaria de consenso para ser adotado pela COP-15. O representante de Tuvalu, uma pequena ilha da Polinésia ameaçada de submersão, julgou o acordo uma traição, referindo-se à proposta de financiamento para ações de adaptação e mitigação.
Pelo texto, os países industrializados se comprometem a empregar US$ 30 bilhões nos próximos três anos - dos quais US$ 3,6 bilhões dos EUA -, além de até US$ 100 bilhões por ano entre 2013 e 2020. O problema me que nenhuma instituição operacional, nem meio de governança desse valor foram criados.
Sem qualquer definição das metas de redução das emissões, a menção a 50% de redução até 2050 acabou eliminada do texto. Outra crítica dura de delegados do G77 foi contra o atropelo criado pelas negociações entre EUA - com autorização da União Européia -, China, Brasil e África do Sul. Cuba protestou em público e reclamou das graves violações de procedimentos, tornando as negociações arbitrárias.
O compromisso político obtido nesta sexta-feira pelos chefes de Estado em Copenhague foi "um desastre para os países mais pobres", afirmou a ONG Amigos da Terra. "Estamos enojados com a incapacidade dos países ricos de assumir compromissos sobre a redução das emissões, em particular com os Estados Unidos, que são, historicamente, o principal emissor mundial de gases do efeito estufa", afirmou o presidente da Amigos da Terra, Nnimmo Bassey.
Para Kumi Naidoo, diretor executivo da Greenpeace Internacional, o acordo tem tantos buracos que "poderia se voar com um avião através dele; o Air Force One, por exemplo".
"Um acordo repleto de aspirações e promessas não é nada além de maquiagem verde", disse Patricia Arendar, diretora executiva do Greenpeace México. Segundo a ambientalista, "permitir que a temperatura suba até 3 graus é condenar a humanidade a sofrer ainda mais com fome, epidemias, perda de lares e safras, e até de vidas. Este é o futuro que estão nos deixando os políticos em Copenhague".
A organização ecológica WWF manifestou sua preocupação com o fato de não haver obrigatoriedade sobre os compromissos assumidos, "uma brecha entre a retórica e a realidade poderá custar milhões de vidas, bilhões de dólares e uma grande quantidade de oportunidades perdidas", afirmou Kim Carstensen, diretor da Iniciativa Climática Global da WWF.
Antes de partir de volta ao Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que o resultado ficou muito aquém do que era esperado pelo País. Mas justificou a posição de, mesmo assim, aderir. "O Brasil lutou muito para que essa conferência tivesse um resultado positivo. Negociamos até o fim. Mas reconhecemos que este acordo é melhor do que o zero absoluto".
Será?
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