quarta-feira, 27 de abril de 2011

PONTO E VÍRGULA, FINAL.



Por Tales Messias



Sou quem pude ser. Não quem eu gostaria de ter sido. Nem quem as pessoas gostaria que eu fosse.

Se eu fosse quem eu gostaria de ter sido, eu seria infante ainda. Posto que sempre quis não sofrer. Nem me machucar. Por isso, não crescer.

Se eu fosse quem eu gostaria de ter sido, ainda estaria mais interessado em futilidades.

Posto que futebol, filmes, carros e mulheres (como objetos sexuais) são bons assuntos. Mas, bem secundários.

Se eu fosse quem eu gostaria de ter sido, não seria sincero.

Posto que hoje sou carinhoso com quem quero ser e não com quem esperam que eu seja.

Se eu fosse como as pessoas gostariam que eu fosse, eu seria mais sério.

Posto que sempre esperam que sejamos mais sisudos sobre determinados assuntos.

Se eu fosse como as pessoas gostariam que eu fosse, eu seria mais simpático.

Posto que sempre acham que somos mais sérios do que deveríamos ser.

Se eu fosse como as pessoas gostariam que eu fosse, eu seria mais político.

Posto que sempre acham que devemos sorrir mesmo quando não temos a mínima motivação para isso.

Se eu fosse como as pessoas gostariam que eu fosse, eu seria mais falso.

Posto que as pessoas adoram pessoas sinceras mesmo que seja uma sinceridade só externa. Ou uma falsidade honesta. Ou uma sinceridade mascarada. Ou uma falsidade disfarçada de sinceridade.Ou uma sinceridade falsa ou uma falsa sinceridade.

Ou seja, sou quem pude tornar-me. Com irregularidades próprias, com as cicatrizes que nos servem de memória e ensino, com as defesas próprias de quem já enfrentou traições e mentiras, com os valores (sempre mutáveis) de quem já os define por si mesmo, com os amigos que mais se identificam conosco (muitas vezes quase chegando a serem espelhos nossos).

Mas, também, com a certeza de que não quero ser quem eu, no passado, gostaria de tornar-me hoje. E de que não serei quem querem que eu seja senão seria um personagem interpretando.

Sou. Simplesmente. E pra mim. Somente.

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