Tenho escutado costumeiramente o termo “cooptar”. Uns falam sem certa noção do que o termo realmente quer dizer. Outros conhecem o significado, mas, não sabem como usá-lo de forma justa.
Conheci a palavra num artigo do ex-presidente FHC que tratava da ditadura militar. Corri atrás do texto para me inteirar de forma plena do seu significado. No dicionário encontramos: cooptação: ATO OU EFEITO DE COOPTAR: agregar, associar. Atrair (alguém) para seus objetivos. Escolher ou unir-se a (alguém), como companheiro, parceiro ou cúmplice, para um empreendimento ou ação conjunta.
Do ponto de vista mais amplo, a cooptação é um sistema de organização pela qual uma associação qualquer de pessoas nomeia internamente os seus próprios membros, sem dependência de critérios externos e tem como principal vantagem a outorga de autonomia a uma organização, a qual pode definir por si mesma quem serão seus próprios membros.
No Império Romano, durante a época dos Antoninos, os imperadores elegiam o sucessor em vida, legalizando a situação sem levar em conta o princípio hereditário, adotando o dito sucessor cooptado como filho. A Igreja Católica elege os que serão sacerdotes por cooptação, diferentemente, por exemplo, do hinduísmo, onde os sacerdotes não são eleitos, mas se verifica se pertencem a uma determinada casta por direito hereditário de nascimento.
Nas aplicações políticas, especialmente em alguns municípios que conheço de perto, quando alguém ligado a ela usa o termo “cooptar”, geralmente se refere a “comprar um determinado interesse” ou “manipular uma determinada pessoa” ao seu bel prazer. Como citei acima dois exemplos de cooptação (Império Romano e Igreja Católica), permitam-me citar um exemplo mais próximo de nossa realidade.
Estive a frente do momento sindical dos professores do município de Pombos, alguns anos atrás. Durante o período de negociações com o Executivo e com a Secretaria de Educação, fui diversas vezes “sondado” a ocupar um cargo eletivo. Boa parte das minhas colegas aceitou o convite e deixaram o movimento que defendia justiça salarial. Eu fiquei sozinho. As colegas que aceitaram a cantada foram, por assim dizer, cooptadas.
Querem outro exemplo?
Todos sabem de que lado eu estava nas últimas eleições para Prefeito. Nunca escondi dos meus colegas e amigos, dos meus inimigos e familiares que eu vesti a camisa vermelha, sempre respeitando os correligionários da camisa azul. Afinal, defendemos uma causa, ou por ideologia (meu caso) ou por temor e conveniência. As eleições se passaram e a Justiça Eleitoral reconheceu que o meu candidato foi derrotado por uma diferença mínima.
Em um ano de mandato, estive com o executivo por quatro oportunidades. Todas elas com um único objetivo que não será exposto aqui, até porque não tenho que explicar ou contar fatos pessoais que me levaram a recorrer ao Executivo de Gravatá. Bom ou ruim, contra ou favor, eu preciso – enquanto funcionário público – buscar soluções com quem poderá deferir. E esses encontros com o prefeito fizeram com que algumas pessoas - que se colocavam como “amigos” e outros como “companheiros” - recentemente me acusassem de ter sido cooptado pelo grupo da camisa azul. Isso aborreceu-me deveras.
Por soporem que eu estava sendo atraído ou agregado ao grupo opositor, não me deixou aborrecido. O que me deixa triste, decepcionado e magoado é saber quem fez esse tipo de suposição. E quando descobri, quase sem querer, quem acha que eu sou cooptado, me veio na mente um aprendizado muito antigo na minha vida, que eu devo ao estudo da Psicologia. Trata-se da “PROJEÇÃO DA PRÓPRIA SOMBRA”.
Explico.
A Psicologia sempre se utilizou de símbolos, de alegorias, de histórias e de mitologias para explicar a realidade psicológica do “ser” humano. Enquanto ele é desejo, é também dúvida; ele é ideal e desânimo; às vezes ele é audácia e medo, bem e mal, sol e sombra, como no mito da caverna de Platão.
A Psicologia diz que o ser humano, em momento de sobra platônica, geralmente aponta um defeito em alguém, quando este defeito está, antes de tudo, nele mesmo. Isso em uma estatística muito maior do que se imagina. Ou seja, se eu aponto em fulano a mentira, em mim ela também está; se eu acuso alguém de ser cooptado, provavelmente eu tenho o mesmo desejo de que seja comigo. Isso é a projeção da própria sombra defendida pela Psicologia.
Lembro-me, neste momento, da estória da “águia e da galinha”, já conhecida pelos quatro cantos do mundo e explorada mais profundamente por Leonardo Boff . A natureza humana é constituída por essas duas dimensões: a galinha, simbolizando o confinamento, a realidade cotidiana, a mesmice, mas também os limites, a fragilidade humana. A realidade da galinha é um pouco a situação de cada um de nós.
A águia é também um pouco de cada um de nós, mas simboliza o desejo de realização, de plenitude, de inteireza. É, no fundo, a nossa mais genuína realidade interior. Ao mesmo tempo, é possibilidade que deve ser desenvolvida, atualizada, desejada. O que não deve ocorrer é uma águia viver a realidade permanente de uma galinha. Águia foi feita para alçar altos céus. Assim, essas duas realidades são partes integrantes de nossa condição humana.
Infelizmente alguns amigos nossos (meus e seus) são galinhas. Há quem brinque dizendo que se tirar um cérebro de um ser humano desses e colocar na galinha, ela vai ciscar para frente, porque será cooptada pela psicologia de um indivíduo que não consegue libertar-se das “algemas”, mudar de vida, sair da condição de confinamento e ilusão, sair da condição de galinha. Felizmente, também, temos amigos (eu e você) que são águias e nos ajudaram a não cair nas projeções maldosas, nem nos deixar esquecer que ser cooptado por um ideal nobre, num sentido mais sublime, é vivermos fora da caverna pensada por Platão.
E chego à seguinte conclusão:
A Projeção da Própria Cooptação é um mal presente em boa parte dos seres humanos, amigos ou não. Cooptar-se nem sempre é negativo, repugnante. Rejeitáveis são as pessoas que agem de má fé e que, por serem capazes de pensar apenas em seu bolso, acham que os demais farão a mesma coisa.
Conheci a palavra num artigo do ex-presidente FHC que tratava da ditadura militar. Corri atrás do texto para me inteirar de forma plena do seu significado. No dicionário encontramos: cooptação: ATO OU EFEITO DE COOPTAR: agregar, associar. Atrair (alguém) para seus objetivos. Escolher ou unir-se a (alguém), como companheiro, parceiro ou cúmplice, para um empreendimento ou ação conjunta.
Do ponto de vista mais amplo, a cooptação é um sistema de organização pela qual uma associação qualquer de pessoas nomeia internamente os seus próprios membros, sem dependência de critérios externos e tem como principal vantagem a outorga de autonomia a uma organização, a qual pode definir por si mesma quem serão seus próprios membros.
No Império Romano, durante a época dos Antoninos, os imperadores elegiam o sucessor em vida, legalizando a situação sem levar em conta o princípio hereditário, adotando o dito sucessor cooptado como filho. A Igreja Católica elege os que serão sacerdotes por cooptação, diferentemente, por exemplo, do hinduísmo, onde os sacerdotes não são eleitos, mas se verifica se pertencem a uma determinada casta por direito hereditário de nascimento.
Nas aplicações políticas, especialmente em alguns municípios que conheço de perto, quando alguém ligado a ela usa o termo “cooptar”, geralmente se refere a “comprar um determinado interesse” ou “manipular uma determinada pessoa” ao seu bel prazer. Como citei acima dois exemplos de cooptação (Império Romano e Igreja Católica), permitam-me citar um exemplo mais próximo de nossa realidade.
Estive a frente do momento sindical dos professores do município de Pombos, alguns anos atrás. Durante o período de negociações com o Executivo e com a Secretaria de Educação, fui diversas vezes “sondado” a ocupar um cargo eletivo. Boa parte das minhas colegas aceitou o convite e deixaram o movimento que defendia justiça salarial. Eu fiquei sozinho. As colegas que aceitaram a cantada foram, por assim dizer, cooptadas.
Querem outro exemplo?
Todos sabem de que lado eu estava nas últimas eleições para Prefeito. Nunca escondi dos meus colegas e amigos, dos meus inimigos e familiares que eu vesti a camisa vermelha, sempre respeitando os correligionários da camisa azul. Afinal, defendemos uma causa, ou por ideologia (meu caso) ou por temor e conveniência. As eleições se passaram e a Justiça Eleitoral reconheceu que o meu candidato foi derrotado por uma diferença mínima.
Em um ano de mandato, estive com o executivo por quatro oportunidades. Todas elas com um único objetivo que não será exposto aqui, até porque não tenho que explicar ou contar fatos pessoais que me levaram a recorrer ao Executivo de Gravatá. Bom ou ruim, contra ou favor, eu preciso – enquanto funcionário público – buscar soluções com quem poderá deferir. E esses encontros com o prefeito fizeram com que algumas pessoas - que se colocavam como “amigos” e outros como “companheiros” - recentemente me acusassem de ter sido cooptado pelo grupo da camisa azul. Isso aborreceu-me deveras.
Por soporem que eu estava sendo atraído ou agregado ao grupo opositor, não me deixou aborrecido. O que me deixa triste, decepcionado e magoado é saber quem fez esse tipo de suposição. E quando descobri, quase sem querer, quem acha que eu sou cooptado, me veio na mente um aprendizado muito antigo na minha vida, que eu devo ao estudo da Psicologia. Trata-se da “PROJEÇÃO DA PRÓPRIA SOMBRA”.
Explico.
A Psicologia sempre se utilizou de símbolos, de alegorias, de histórias e de mitologias para explicar a realidade psicológica do “ser” humano. Enquanto ele é desejo, é também dúvida; ele é ideal e desânimo; às vezes ele é audácia e medo, bem e mal, sol e sombra, como no mito da caverna de Platão.
A Psicologia diz que o ser humano, em momento de sobra platônica, geralmente aponta um defeito em alguém, quando este defeito está, antes de tudo, nele mesmo. Isso em uma estatística muito maior do que se imagina. Ou seja, se eu aponto em fulano a mentira, em mim ela também está; se eu acuso alguém de ser cooptado, provavelmente eu tenho o mesmo desejo de que seja comigo. Isso é a projeção da própria sombra defendida pela Psicologia.
Lembro-me, neste momento, da estória da “águia e da galinha”, já conhecida pelos quatro cantos do mundo e explorada mais profundamente por Leonardo Boff . A natureza humana é constituída por essas duas dimensões: a galinha, simbolizando o confinamento, a realidade cotidiana, a mesmice, mas também os limites, a fragilidade humana. A realidade da galinha é um pouco a situação de cada um de nós.
A águia é também um pouco de cada um de nós, mas simboliza o desejo de realização, de plenitude, de inteireza. É, no fundo, a nossa mais genuína realidade interior. Ao mesmo tempo, é possibilidade que deve ser desenvolvida, atualizada, desejada. O que não deve ocorrer é uma águia viver a realidade permanente de uma galinha. Águia foi feita para alçar altos céus. Assim, essas duas realidades são partes integrantes de nossa condição humana.
Infelizmente alguns amigos nossos (meus e seus) são galinhas. Há quem brinque dizendo que se tirar um cérebro de um ser humano desses e colocar na galinha, ela vai ciscar para frente, porque será cooptada pela psicologia de um indivíduo que não consegue libertar-se das “algemas”, mudar de vida, sair da condição de confinamento e ilusão, sair da condição de galinha. Felizmente, também, temos amigos (eu e você) que são águias e nos ajudaram a não cair nas projeções maldosas, nem nos deixar esquecer que ser cooptado por um ideal nobre, num sentido mais sublime, é vivermos fora da caverna pensada por Platão.
E chego à seguinte conclusão:
A Projeção da Própria Cooptação é um mal presente em boa parte dos seres humanos, amigos ou não. Cooptar-se nem sempre é negativo, repugnante. Rejeitáveis são as pessoas que agem de má fé e que, por serem capazes de pensar apenas em seu bolso, acham que os demais farão a mesma coisa.
1 comentários:
Ricardo, quem tem boca fala o que quer e quem tem ouvidos, escuta o que não quer. Tem sido assim desde que o mundo é mundo.Mas,há também calúnia, injúria e outros comportamentos afins. Prudência ainda é a melhor opção para não julgarmos sem convicção plena. Boa sorte!
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