quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Esperança: Mãe da Indignação e da Coragem



"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las".
Santo Agostinho.



Há algum tempo que tento escrever sobre a Esperança. É, confesso, um tanto obvio dizer que Esperança é a última que morre, quando na verdade, para mim, ela é imortal e tenho entendido isso como uma meta de vida, de valor, de ideal humano. E neste apanhado de valores, redescobri que Santo Agostinho havia revelado que a Esperança é a mãe de duas inseparáveis companheiras que se locupletam.

Falar de Esperança no país como o Brasil parece piegas, soa muitas vezes como pleonasmo ou até mesmo como metáfora. Talvez seja ainda vista como uma hipérbole sentimental deste povo que vive num sofrimento único, mas, que não desiste nunca de sua alegria, de sua passividade e de sua multiplicidade de paixões por esta terra que abraça a todos com fé inexplicável.

E o que seria Esperança?

A palavra esperança quer dizer vastidão desdobrada.

O radical “spe” (desdobrar, crescer, florescer) do latim, também deu origem à palavra “próspero”. A esperança é um sentimento que cresce e se desdobra, infinitamente, à frente de quem a experimenta.

É um esperar movimentado, não estacionado. O radical “spe” também deu origem à palavra “espaço”. O que cresce e se desdobra ocupa evidentemente um espaço, criando-o idealmente.

Na língua portuguesa esperar e aguardar são sinônimos, mas nas suas origens são coisas diferentes. Esperar vem do latim e é uma espera de coisas boas e aguardar vem do germânico e é uma expectativa relativa à guerra, uma espera pelo inimigo.

Será que é possível transformar estes conceitos numa realidade mais palpável, no mínimo em uma pequena parcela da sociedade em que vivemos? Talvez se esta Esperança, que tanto cremos ou falamos, gerar conseqüências, mover espaços, criar um ato próspero dando a luz a duas belas filhas - a indignação e a coragem -, poderemos avançar, evoluir como seres humanos dotados de uma Esperança que move montanhas.

Indignar-se com as coisas absurdas que acontecem no nosso País, em nosso estado, em nossa cidade, ou ate mesmo no nosso local diário de convivência (trabalho, lar), deve ser fruto da nossa esperança. Indignar-se ao ver a corrupção, a pobreza, o absurdo de poder, a desigualdade e tantos outros males que perturbam o equilíbrio mundial é o mínimo que poderemos fazer em prol de nós mesmo.

A coragem entra no fato de querer mudar a coisas. Simplesmente criticar não deve ser nossa atitude. Se analisarmos minuciosamente, somos corruptos, gananciosos, indiferentes. Por isso é preciso querer mudar a nós mesmos para assim querermos mudar o resto. Querer mudar o mundo é querer mudar a si, junto com o Cosmos. Se não estamos felizes, o Cosmos também não está. Eis uma unidade fundamental que ainda não entendemos, tanto por não haver indignação e coragem numa proporção global.

Muitos de nós estamos com esperança do Latim, ou seja, estamos aguardando, de braços cruzados, que algo acontece a nosso favor, sem movermos um dedo em direção ao nosso objetivo. É aí que entra o crivo da idéia religiosa de esperança atrelada a fé. O Maior Homem do mundo, o Mestre dos mestres, o Filósofo dos Pensadores, o Revolucionário de ideal Socialista por natureza – Jesus, o Cristo, deixou-nos um alerta: “Ajuda-te e o Céu te ajudará”.

O que precisamos é da Esperança com base no pensamento germânico, de expectativa referente à luta, uma atenção contra inimigos freqüentes como a corrupção, a pobreza, o abuso de poder, a desigualdade entre homens e classes, o autoritarismo, a discriminação de toda ordem e milhares de outros males que nós mesmos reproduzimos, porque somos covardes, omissos e silenciosos.

Há um ditado budista que diz: “é melhor quebrar ossos do que promessas”. Se nós vivemos de promessas, de que devemos crer em uma mudança de conduta, de comportamento, de administração pública, estamos reproduzindo um erro gravíssimo contra nós mesmo: a inércia. Devemos viver de uma esperança pulsante, tal como os movimentos da alma. E como a alma, a Esperança não morre jamais. É importante que não nos tornemos reféns do aguardo. Que estejamos livres na espera (expectativa) burilando nossos braços para a luta que não cessará tão cedo.

Eis o momento em que eclodem em nós, as filhas da Esperança. Che Guevara (sempre ele) me ensinou que a maior virtude de um ser humano é sentir-se indignado diante de qualquer injustiça. E nos ensinou como colocar em prática a sua Esperança quando teve a coragem de abandonar os requintes do poder político e ganhar o mundo pela bandeira da liberdade.

Talvez não seja tarde pra confessar que eu tenho, que eu sinto, que eu absorvo a indignação, mas que me falta tanta coragem quando me sobra em Esperança de dar um mínimo de contribuição para que males outros não se instalem na vida das pessoas com quem divido um ideal.

Quando iremos viver em plenitude a Esperança? Onde encontraremos o sentido para continuarmos acreditando na Esperança? Quando haverá o desdobrar, o crescer e o florescer das nossas Esperanças? Qual a fórmula para aprendermos a viver com coragem, com indignação, com espaço e prosperidade conquistados com dignidade? Certamente não conseguiremos sozinhos e isolados tal como fazem o eremitas se entregam ao claustro dos desertos e se privam do contato humano, num ato covarde de ascender espiritualmente. Eis porque termino dizendo:

“Só não se aprende nada. Nada se aprende só”.

1 comentários:

Com certeza jamais deveremos deixar a Esperança morrer em nós, afinal como seria difícil viver !!! Continue acreditando em seus ideais e contribuindo para que nossa sociedade não viva na alienação.Abraços Vivi

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