Por:
Lucivânio Jatobá
De súbito, comecei a sentir o que é ser velho nesse País, campeão mundial em corrupção. Curiosamente, essa tomada de consciência aconteceu imediatamente após aquilo que antigamente se designava como “data natalícia”.
O carnê para o pagamento do meu Seguro Saúde, de uma empresa privada, no mês de novembro deste ano (2008), me chegou à mão. Antecipadamente, como sempre faço (fazia), dirigi-me ao caixa do banco para pagá-lo. Mas aí a surpresa. No mês passado havia desembolsado, pelo mesmo plano, a quantia de R$ 420,89. Agora, estava lá escrito para que meus olhos de São Tomé lessem: pagamento até a data de vencimento: R$ 719,70 (setecentos e dezenove reais e setenta centavos). Pensei: “houve engano! Não é possível! Mais de 70% de aumento num período ainda de baixa inflação...” Isso está errado!”
Paguei, obviamente, para não ficar desamparado. Depois liguei para a atendente responsável da empresa para que ao menos me informasse se houve algum equívoco naquele valor ou o que tinha mesmo acontecido. Friamente, a jovem atendente, de voz padronizada, como se fosse um robô, foi bem objetiva:
- Dê-me o número do seu CPF, senhor!
- Não houve erro nenhum, apenas o senhor ficou mais velho no último dia 21 de novembro e o seu pagamento sofreu um aumento de aproximadamente 70%, conforme as cláusulas contratuais.
Em outras palavras, comecei a pagar caro pelo fato de que estou acompanhando a tendência da população brasileira e envelheci, ou seja, venci a subnutrição, a mortalidade infantil, as doenças epidêmicas, a dengue, a cólera... e por aí vai. Atingi a casa dos 56 anos. Brasileiro teimoso esse...!
Ao sair do banco, após o assalto oficial, dentro dos trâmites legais das cláusulas contratuais... comecei a recordar fatos.
Primeiro me veio à mente uma declaração, de uma “alta autoridade governamental”, no Brasil, há uns 4 anos, dizendo que “ o problema da Previdência Social era que a população estava envelhecendo muito...!” ( Incrível a coragem dessa gente! Não mede palavras! ).
Outra cena foi a dos velhinhos sendo humilhados num recadastramento absurdo da mesma Previdência Social, que era para ser exatamente a responsável pelo apoio total aos idosos.
Depois recordei uma reunião burocrática insuportável, da qual participei numa certa instituição de ensino. Na ocasião, discutia-se o fracasso do ensino superior no país ( campeão de corrupção, sempre é bom lembrar). Subitamente, um mais menos jovem professor, titulado, saiu com essa:
- O problema do ensino superior aqui é que ainda há muitos professores velhos. Eles precisam se aposentar para que seja oxigenada a instituição...”
Por último comecei a pensar como meus botões: será que o país campeão de corrupção está sob o domínio do Nazismo e eu, alienado como sou, nem sabia...?
Inevitavelmente, as cenas dos trens descarregando milhares de seres humanos, cujo crime era ter sido judeus, me surgiram. Na entrada de Auschiwitz, na plataforma da estação improvisada, um kapo ou um oficial bestial da SS formava duas filhas. Numa, os jovens e os mais saudáveis, que serviriam para o trabalho escravo. Noutra, os velhos que iriam ao encontro da Solução Final, aspirando o gás mortífero, num pseudo banheiro imundo.
A solução final, mais modernizada e dentro da lei, já chegou ao país campeão do mundo em corrupção. Instalou-se com os ares da pós-modernidade. É defendida, nas entrelinhas, até por altas autoridades governamentais.
Aos velhos, a fila que dará entrada para os hospitais públicos do país... Quantos idosos poderão desembolsar 700, 1000, 2000 reais, por um plano de saúde, para o qual antes contribuíram anos a fio, para que possam morrer, pelo menos com dignidade, num hospital particular?
Se o problema do país campeão são os velhos, que durante tanto tempo trabalharam e pagaram impostos, depois consumidos pelo ralo de amplo raio de curvatura da corrupção, que se adote a “Solução Final”, mas sem subterfúgios, sem mentiras, sem falseamentos estatísticos, sem propagandas governamentais caríssimas em TVs, sem demagogias...
Lucivânio Jatobá
De súbito, comecei a sentir o que é ser velho nesse País, campeão mundial em corrupção. Curiosamente, essa tomada de consciência aconteceu imediatamente após aquilo que antigamente se designava como “data natalícia”.
O carnê para o pagamento do meu Seguro Saúde, de uma empresa privada, no mês de novembro deste ano (2008), me chegou à mão. Antecipadamente, como sempre faço (fazia), dirigi-me ao caixa do banco para pagá-lo. Mas aí a surpresa. No mês passado havia desembolsado, pelo mesmo plano, a quantia de R$ 420,89. Agora, estava lá escrito para que meus olhos de São Tomé lessem: pagamento até a data de vencimento: R$ 719,70 (setecentos e dezenove reais e setenta centavos). Pensei: “houve engano! Não é possível! Mais de 70% de aumento num período ainda de baixa inflação...” Isso está errado!”
Paguei, obviamente, para não ficar desamparado. Depois liguei para a atendente responsável da empresa para que ao menos me informasse se houve algum equívoco naquele valor ou o que tinha mesmo acontecido. Friamente, a jovem atendente, de voz padronizada, como se fosse um robô, foi bem objetiva:
- Dê-me o número do seu CPF, senhor!
- Não houve erro nenhum, apenas o senhor ficou mais velho no último dia 21 de novembro e o seu pagamento sofreu um aumento de aproximadamente 70%, conforme as cláusulas contratuais.
Em outras palavras, comecei a pagar caro pelo fato de que estou acompanhando a tendência da população brasileira e envelheci, ou seja, venci a subnutrição, a mortalidade infantil, as doenças epidêmicas, a dengue, a cólera... e por aí vai. Atingi a casa dos 56 anos. Brasileiro teimoso esse...!
Ao sair do banco, após o assalto oficial, dentro dos trâmites legais das cláusulas contratuais... comecei a recordar fatos.
Primeiro me veio à mente uma declaração, de uma “alta autoridade governamental”, no Brasil, há uns 4 anos, dizendo que “ o problema da Previdência Social era que a população estava envelhecendo muito...!” ( Incrível a coragem dessa gente! Não mede palavras! ).
Outra cena foi a dos velhinhos sendo humilhados num recadastramento absurdo da mesma Previdência Social, que era para ser exatamente a responsável pelo apoio total aos idosos.
Depois recordei uma reunião burocrática insuportável, da qual participei numa certa instituição de ensino. Na ocasião, discutia-se o fracasso do ensino superior no país ( campeão de corrupção, sempre é bom lembrar). Subitamente, um mais menos jovem professor, titulado, saiu com essa:
- O problema do ensino superior aqui é que ainda há muitos professores velhos. Eles precisam se aposentar para que seja oxigenada a instituição...”
Por último comecei a pensar como meus botões: será que o país campeão de corrupção está sob o domínio do Nazismo e eu, alienado como sou, nem sabia...?
Inevitavelmente, as cenas dos trens descarregando milhares de seres humanos, cujo crime era ter sido judeus, me surgiram. Na entrada de Auschiwitz, na plataforma da estação improvisada, um kapo ou um oficial bestial da SS formava duas filhas. Numa, os jovens e os mais saudáveis, que serviriam para o trabalho escravo. Noutra, os velhos que iriam ao encontro da Solução Final, aspirando o gás mortífero, num pseudo banheiro imundo.
A solução final, mais modernizada e dentro da lei, já chegou ao país campeão do mundo em corrupção. Instalou-se com os ares da pós-modernidade. É defendida, nas entrelinhas, até por altas autoridades governamentais.
Aos velhos, a fila que dará entrada para os hospitais públicos do país... Quantos idosos poderão desembolsar 700, 1000, 2000 reais, por um plano de saúde, para o qual antes contribuíram anos a fio, para que possam morrer, pelo menos com dignidade, num hospital particular?
Se o problema do país campeão são os velhos, que durante tanto tempo trabalharam e pagaram impostos, depois consumidos pelo ralo de amplo raio de curvatura da corrupção, que se adote a “Solução Final”, mas sem subterfúgios, sem mentiras, sem falseamentos estatísticos, sem propagandas governamentais caríssimas em TVs, sem demagogias...
Lucivânio Jatobá é professor da UFPE - CFCH.
Locutor da Rádio Universitária AM e da Rádio Capibaribe.
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