quinta-feira, 30 de junho de 2011

A MÁ E A BOA CONHA

Escrito por Flávio Tavares*


E agora?

Quando será a marcha pela cocaína, pela heroína e congêneres, pelo ecstasy e até pelo crack? E, depois, quando teremos a passeata a favor do latrocínio, do assassinato e de tudo o mais que a lei prevê como crime? Qual a data daquela que será, sem dúvida, a mais gigantesca das manifestações gigantes, digna do “livro mundial dos recordes” – a marcha nacional pelo roubo, a corrupção e a trapaça? Não pensem que faço essas perguntas sob os efeitos delirantes daquilo que os eruditos chamam de “estupefacientes”, e que pode ser um cheiro ou um fuminho pela boca e as narinas.

Nada disto!


Depois que, em nome da “liberdade de expressão”, o Supremo Tribunal Federal liberou e garantiu as marchas em favor da maconha, realizadas domingo passado nas grandes cidades, qualquer tipo de manifestação passa a ser viável e apta a receber proteção do Estado, bandeiras e orquestra.


Já que não há quem controle os excessos benevolentes dos nossos mais altos juízes, e já que são eles os intérpretes das leis, só nos resta indagar. A capacidade de decidir sobre o correto e o incorreto, sobre o certo e o errado já não está na lei, mas na interpretação dada ao que diz a lei!!

As regras, normas e leis não nascem do acaso, nem da chuva, mas da realidade em si. Por exemplo:

proíbe-se a propaganda de cigarro na TV e rádio, por quê? Porque o cigarro é nocivo à saúde, até mesmo à saúde de quem não fuma. E é atribuição do Estado zelar pela saúde dos cidadãos. Bastam os “fumantes passivos”, que respiram fumaça e cheiro do cigarro alheio. Ou os milhares de bebês que, fetos ainda, alimentam-se no útero com o cigarro da mãe fumante. Proíbe-se a propaganda porque propaga e induz ao consumo e, assim, faz a apologia de algo maléfico.

E a marcha pela maconha não é, em si, propaganda e apologia de algo perverso? A Cannabis afeta o sistema cerebral, entorpece o raciocínio, torna o usuário apalermado, retarda a volição e inibe a libido. Essa letargia é porta de entrada ao suicídio lento da cocaína ou à crueldade do crack.


Mas tudo isto é o Brasil.

Na última quinta-feira, neste jornal, a verve de L.F. Verissimo fez, em poucas palavras, lúcida análise dos nossos dias:

“Querem liberar a maconha e proibir a pesquisa histórica, mesmo para fins terapêuticos. É isso? Nacionalizar a maconha e privatizar o passado? Uma coisa não teria nada a ver com a outra se a atitude comum do brasileiro em relação à sua história não se parecesse com a letargia e despreocupação que caracteriza o barato da maconha”.
 

Sim, pois, entre recuos e avanços, o Senado debate agora se os documentos ultrassecretos do governo devem continuar ocultos eternamente. A presidente Dilma opta pela liberação de tudo que se refira aos direitos humanos individuais (incluídos os papéis da ditadura de 1964), mas titubeia quanto à documentação de nossas proezas com os países vizinhos. As atrocidades da Guerra do Paraguai continuarão sonegadas à História e “eternamente secretas”. Basta (deve pensar o governo) o que já demos ao Paraguai em Itaipu...

Os senadores José Sarney e Collor de Mello são os grandes opositores à abertura dos documentos secretos. Quando presidiram a República, ambos firmaram acordos de cooperação nuclear com a Argentina que o Brasil desrespeitou. O temor é revelar detalhes macabros de como não puderam controlar a direita civil-militar que, aqui, tentou construir a bomba atômica. Só as denúncias da imprensa lhes deram força para conter a loucura.

Em tudo isto, resta optar entre a boaconha e a maconha.

*JORNALISTA E ESCRITOR

 
Você concorda? Então repasse!
POR UM NOVO BRASIL!

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