quinta-feira, 3 de março de 2011

8 de março de 2011


Fórum de Mulheres de Pernambuco em luta por autonomia e liberdade para todas as mulheres


A palavra liberdade significa ausência de submissão, ausência de dominação pelo outro, autonomia. Para o feminismo, liberdade é o fim das determinações do que deve ser uma mulher.

Por isto, a luta por liberdade é a luta fundamental do movimento feminista. Liberdade de ter um projeto de vida próprio, liberdade de escolher entre ter ou não ter filhos, casar ou não casar, liberdade para ter prazer e fazer sexo com quem quiser, seja homem ou mulher, ou para não fazer sexo. Liberdade de expressão, de opinião. Liberdade que se constrói a partir de condições objetivas, seja para participar politicamente, seja para viver com autonomia econômica. Liberdade enfim, que só se realiza numa vida livre de toda a violência, injustiça e opressão.

Se este ano temos uma mulher presidenta, primeiro tivemos a luta das feministas pelo direito das mulheres ao voto. Mas mesmo com uma mulher na presidência da República, a maioria de nós mulheres não têm condições objetivas de participar da política. Falta tempo! O tempo da vida das mulheres é tomado pela dupla jornada de trabalho – trabalho produtivo, dentro ou fora de casa e trabalho reprodutivo (doméstico). O fato é que a maior parte de nós mulheres vivemos condições extenuantes de trabalho. Além do tempo, falta também dinheiro para financiar nossa participação política. Nós mulheres somos a população pior remunerada na classe trabalhadora. E no mercado de trabalho somos o maior contingente da população em situação de informalidade.

Se temos hoje políticas para mulheres, essas são ainda insuficientes para o tamanho dos desafios e, muitas vezes, essas políticas se resumem a programas de 'capacitação', quando o que precisamos é do reconhecimento de nossa cidadania e de mais política pública. Políticas públicas que promovam a autonomia econômica das mulheres e enfrentem o compartilhamento dos trabalhos de cuidado com crianças e idosos/as ou com pessoas doentes. Políticas públicas que reduzam o peso da dupla jornada de trabalho. Precisamos de mais creches, mais e melhores serviços de saúde com funcionamento pleno, mais e melhores moradias, mais proteção social e inclusão previdenciária. Politicas que promovam reconhecimento e valorização pr ofissional de todas as categorias de trabalhadoras ainda discriminadas: as trabalhadoras domésticas, as parteiras, as catadoras.

E precisamos de uma outra economia. O desenvolvimento da economia capitalista em nosso Estado e por todo o Brasil é visível, mas precisamos avançar no fortalecimento da economia solidária, como alternativa justa e sustentável para a autonomia econômica de nós, mulheres. As pescadoras, marisqueiras, catadoras, as agricultoras e camponesas, as quilombolas e ribeirinhas - todas estão com seus meios de trabalho e sustento ameaçados, seja pela poluição industrial, seja pela expansão da agricultura empresarial, seja pela expropriação de suas terras pela grilagem. É preciso o fim da exploração - da natureza e das pessoas.

Neste 8 de março, também denunciamos. Denunciamos o racismo, tão presente no cotidiano de nossas vidas, herança da colonização patriarcal. Denunciamos a permanência das milenares formas de dominação das mulheres em nome da “fé”.

Denunciamos a permanência da prática da violência contra nós mulheres. Temos a nossa sexualidade ainda marcada pela experiência da violência, ou pela convivência com o risco de sofrer violência. A violência ainda é usada pelos homens como um instrumento para punir ou tolher nossa liberdade. Violência que permanece viva como prática, entre companheiros, entre casais, entre conhecidos e desconhecidos. No campo, nas florestas e nas cidades.

Denunciamos a permanência da exploração de nosso corpos pela indústria do sexo e da pornografia, pela indústria da beleza e da medicina estética. Indústrias que movimentam milhões em todo o mundo e também em Pernambuco. Essas indústrias garantem o enriquecimento de uns poucos às custas da exploração de nossa imagem, impõem padrões de beleza opressores e inatingíveis, disseminam a imagem da mulher brasileira como “mulher sempre à disposição de realizar o desejo dos outros. Essa distorção da ideia de disponibilidade é que nos torna objetos. Nos tornam seres objetificados. E assim, na publicidade somos associadas a tudo o que pode ser vendido. O contrário de ser objeto é ser sujeito. Ser sujeito é o que o feminismo defende para todas as mulheres.

Neste 8 de março, também saudamos todas as mulheres. Saudamos indígenas e negras, que desde tempos imemoriais lutaram em favor de liberdade. Saudamos as mulheres de todos os movimentos sociais, do campo, das florestas e das cidades, que vivendo muitas vezes com a sobrecarga da dupla jornada e enfrentando discriminações, ainda assim lutam e fortalecem as lutas dos movimentos sociais por direitos. Saudamos, enfim, a todas nós mulheres feministas de luta! Lutamos para que todas as mulheres sejam livres!

Há mais de um século, as mulheres socialistas, americanas e europeias, instituíram o 8 de março como data que marca o reconhecimento da luta das mulheres por liberdade, contra a opressão e contra as diversas formas de exploração das mulheres. Desde então, em todo o mundo, mulheres feministas reúnem-se neste dia para homenagear aquelas que lutaram antes de nós e, ao mesmo tempo, para denunciar as formas de dominação patriarcal ainda vigentes. É assim que, mais uma vez, o Fórum de Mulheres de Pernambuco, uma articulação que reúne mais de 60 organizações, vem a publico afirmar que há muito ainda contra o que nos rebelar.



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