Professor Fernando Sabino Fevereiro de 1942 a Março de 2011. |
Eu ainda não tenho condições de externar todo o meu sentimento diante da partida do amigo Fernando Sabino. O Professor, o Amigo, o Confidente, o Companheiro, o Guru, o Pai. Não precisamos de uma longa convivência juntos para desenvolvermos um carinho paternal e nunca foi preciso mais que umas boas palavras escritas direto do coração para nos tornarmos parceiros espirituais. Nesse momento de saudade e de muita lamentação da família que mora na França e dos Amigos Brasileiros espalhados pelos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro, eu só preciso dizer que ele foi, sem hipérbole, um Pai muito querido e admirado.
Ontem, quando cheguei em casa depois de uma tarde de trabalho na ECEV, abri minha caixa de emails e lá estava a triste notícia de sua partida. Recebi através da sua amada filha Caroline Gonçalves Chevalie, informando que haviamos perdido essa figura tão especial na vida de tanta gente. Como ainda não parei para criar algo que fosse a sua altura, através da poesia, por enquanto, quero compartilhar com todos uma carta escrita por Caroline e enviada a todos os amigos íntimos e familiares. Nela, Caroline foi muito feliz em nos dizer o que foi e pra sempre será ter o amor e o carinho de Fernando Sabino.
O Momento da Despedida
Meu pai estava preparando para partir... Eu vi papai dizendo adeus aos amigos como quem diz “Vou até ali e a gente se vê logo!”. Em seu último suspiro o quarto estava cheio de gente de luz...
Naquela tarde do dia 22/03 ele estava agitado querendo me falar algo. Tentei ver se era a posição no leito ou qualquer outra forma de desconforto físico. Mas não era. Ele continuava tentando falar... Mas o tubo da traqueotomia não deixava.
Ora, ele tinha ficado agitado quando eu disse que já havia uma UTI disponibilizada para nós o trazermos para casa. Foi aí que ele começou a falar sem som... Olhei fundo nos olhos dele e me deu a nítida impressão de que ele queria dizer que estava cansado.
“Pai, o senhor está cansado?” — senti que ele confirmava pelo silencio de tentativas vocais. Então eu disse a ele que sabia que ele não tinha ido ainda porque havia prometido voltar para casa, e porque estava ainda preocupado conosco. E disse que ele ficasse tranqüilo, que todos que ele amava seriam muito bem cuidados.
E concluí:
“- O que Deus fez em todos nós durante esses dias, foi poderoso papai. O que Ele fez em mim foi mais que maravilhoso. Papai, se o senhor quiser descansar, descanse. Tudo foi perfeito. Perfeito papai”. Assim ele aquietou-se e parou de tentar falar!...
“Pai, se o senhor cansou, não lute mais. O senhor já saiu de todas aqui por milagre de Deus e pela sua vontade de vencer apenas por nossa causa. Mas agora não precisa mais... Se seu coração está cansado e se o senhor quer ir pro Lar. Então, meu amor, vá... O Senhor estará e continuará sempre conosco!”
Papai viveu e morreu com o coração! Ele não morreu do coração. Ele partiu de coração! Papai partiu em razão da paz.
Ah! Como eu amei, amo e amarei sempre esse meu pai que é mais que pai, e que é meu mestre e minha melhor consciência entre os homens!
Papai era como um pé de Cumarú.
Largo, denso, amplo, entrado nas alturas, profundo nas raízes, forte no tronco, imenso, acima das demais copas; um abrigo contra a tempestade, um refúgio contra o vento, uma madeira de lei; durável, resistente, imutável; sempre no seu próprio lugar, porém, atrativo.
Assim é o Cumarú. Assim foi papai.
Papai! Estou grata e feliz pelo fruto de sua vida. Tudo foi mais que perfeito!
Eu, meu pai, sinto o senhor cada vez mais forte em mim, e, estranhamente, muitas vezes, sinto que o que emana de mim é aquilo que no senhor era fruto natural. Benditos delírios do meu pai!
Meu paizinho Cumarú! Quando meu espírito crescer um pouco mais, espero ficar mais parecida ainda com o senhor.
Com você, minha velha árvore, aprendo o meu lugar neste mundo, e, também, aprendo a hora de deixar, de sair, de esperar, de crer, de não me abalar, e de ver glória em tudo, pois, fé de Cumarú sabe que é na morte que a Grande Árvore mais dá fruto.
É isto meu amor, minha árvore, meu pai e meu alento! Meu velho e amado sonhador.
Hoje já passei ali na sua bengala, que veio aqui para a minha casa, cheiro os anos de seu suor no descanso da bengala. Ah, meu Pai! Seu cheiro de homem de trabalhos está impregnado em sua bengala. Eu aspiro seu cheiro como aroma que alenta minha saudade.
Foram tantas dicas, orientações, cochichos, pitacos, como ele próprio falava. Sempre esteve certo em suas avaliações e discernimentos, sobre nós, seus filhos. Eu é que nem sempre estive preparada para absorver tanta perspicácia e sabedoria.
Sentirei falta da constante e inexplicável compreensão, da palavra segura, do olhar penetrante e afável, do cuidado com nossos corações e emoções, essências da alma.
Sua capacidade de nos trazer a consciência nossas necessidades interiores e abstrair nossos anseios profundos se reflete em tudo que faço e penso.
Hoje me sinto cada dia mais forte na mesma força que fortalecia a sua fraqueza!
Paizinho, obrigado pelos anos de vida de madeira de lei que o senhor nos ofereceu!
Sua netinha, a Hellena, me perguntou se Jesus não poderia dar um recado para o senhor.
Eu disse que sim. Que ela somente tinha que falar. Então ela falou: “Bivô! Aqui está tudo bem!”
Papai, Deus é realmente lindo, como o senhor falava não em excesso de palavras, mas como experiência de contemplação.
Hoje não falo de sua partida. Falo das bênçãos de sua entrada no jardim de todos os Cumarús. Assim, hoje, apenas peço:
- Jesus! Beija meu paizinho por mim, tá?
Ah! Não! Papai não é pra ser chorado. Papai é pra ser cantado; é pra ser lembrado com lágrimas gratas; é pra ser levado nos braços do carinho e da gratidão.
Nossa família vive da fé; e, meu pai viveu mais ainda; de tal modo que nossa saudade já está plena de amor consolador.
Caroline.
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