Na democracia, repete-se uma prática da ditadura

Coluna Fogo Cruzado – Folha de Pernambuco – 5 de outubro

Em 1977, a Faculdade de Direito do Recife foi protagonista de dois tristes episódios. O primeiro deles envolveu diretamente o então diretor, Francisco de Assis da Rosa e Silva Sobrinho, que tentou transformá-la num quintal do vigente governo militar. Ele chegou ao cúmulo de proibir a realização de um debate sobre Assembleia Nacional Constituinte porque os palestrantes eram três senadores que faziam oposição ao governo: Marcos Freire (PE), Paulo Brossard (RS) e Teotônio Vilela (AL).

O segundo episódio também foi protagonizado pelo mesmo personagem e envolveu o arcebispo Dom Hélder Câmara. O religioso era “persona non grata” ao regime militar porque ousou denunciar à imprensa internacional os casos de tortura que se sucediam no Brasil. Ele foi proibido de aparecer em rádios, jornais e televisões até que os acadêmicos de Direito daquela Escola (entre os quais se encontrava o redator destas linhas), desafiando a proibição do diretor, o convidaram para palestrar.

Ele foi, falou, e no dia seguinte foi notícia nacional. Agora, em pleno regime democrático, assiste-se na velha “Casa de Tobias” à repetição de uma prática da ditadura: a tentativa de cassar a palavra de um ex-senador da oposição (Marco Maciel). Ninguém está obrigado a concordar com as posições liberais do ex-senador, que será julgado pela História pelo conjunto de sua obra e não por um ato só. Mas tentar impedi-lo de expor suas ideias num centro acadêmico do qual foi aluno, é um ato antidemocrático." 

Publicado no Blog do jornalista Inaldo Sampaio.

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Em tempo: o ex-Vice Presidente da República, Marco Maciel, foi impedidio de proferir uma palestra na Faculdade de Direito do Recife, há 2 dias, por estudantes e por uma pessoa do corpo docente da histórica Faculdade.

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