"O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?"
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?"
Letra: O Estrangeiro
Caetano Veloso.
Foi através desta canção de Caetano que pela primeira ouví o nome deste homem, Antropólogo, Professor e Filósofo, uma das mentes mais brilhantes do Século XX que amava o Brasil muito mais que alguns brasileiros. Ele se foi deixando um legado revolucionário no estudo das sociedades, especialmente da sociedade brasileira. Tão Especial que é o único membro da Academia Francesa que ultrapassou os 100 anos de idade. Nasceu na Bélgica, Consagrou-se na França e tornou-se ícone no Brasil. Nossa Homenagem aqui se registra.
Claude Lévi-Strauss
1908*2009
Texto publicado em 04 de Novembro de 2009 - 06h54
A morte do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, aos 100 anos, na madrugada de sábado, em Paris, foi anunciada apenas ontem por colegas acadêmicos. Eles não revelaram a causa da morte, mas, no ano passado, Lévi-Strauss, com a saúde debilitada, não compareceu às homenagens públicas dedicadas pela França ao seu centenário de nascimento. O professor Philippe Descola, que o substituiu no cargo de diretor do laboratório de Antropologia do Collège de France, revelou que ele foi sepultado em Lignerolles, cidade a oeste da França, onde o antropólogo mantinha uma casa de campo.
Seu desaparecimento deixa o mundo menos inteligente e mais dependente de um herdeiro capaz de seguir na trilha aberta por esse que foi um dos maiores intelectuais do século pasado. Numa carreira de mais de 60 anos, Lévi-Strauss, filho de uma família judia de Bruxelas, publicou obras fundamentais que se converteram em clássicos da antropologia e da literatura, dos quais basta citar dois para comprovar sua importância: Tristes Trópicos (1955)e O Pensamento Selvagem (1962).
Lévi-Strauss, considerado o pai da antropologia moderna, é com justa razão lembrado como o reformador da disciplina. Introdutor do conceito de estruturalismo, ele buscou padrões subjacentes de pensamento em todas as formas de atividade humana, concluindo que nossa mente organiza o conhecimento em pares binários e opostos que se estruturam de acordo com a lógica - e isso vale tanto para o mito como para a ciência, segundo o antropólogo, que deu aulas na Universidade de São Paulo (USP).
O antropólogo foi professor na USP até 1938. Desembarcou no cais de Santos em 1935, em companhia do historiador Fernand Braudel (1902-1985), para ocupar a cadeira de sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Recepcionado pelo jornalista Julio de Mesquita Filho, então diretor de O Estado de S. Paulo e um dos idealizadores da Universidade de São Paulo, Lévi-Strauss desenvolveu com seus alunos um novo método pedagógico, começando por distribuir uma série de árvores genealógicas individualizadas para provocar uma reflexão sobre sua teoria da aliança.
Segundo essa teoria, "o parentesco tem mais a ver com a aliança entre duas famílias por casamento entre seus integrantes do que com a ascendência de um passado comum".
Não existiria, segundo ele, uma diferença significativa entre o pensamento primitivo e civilizado, tese desenvolvida no clássico O Pensamento Selvagem, considerado seu livro mais importante. Em outras palavras, o "pensamento de selvagens" não passa de uma invenção da modernidade. O que existe mesmo é um pensamento selvagem, atributo de toda a humanidade que podemos encontrar em nós mesmos, garante Lévi-Strauss, mas que, ainda segundo o antropólogo, preferimos buscar nas sociedades exóticas.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Texto publicado em 04 de Novembro de 2009 - 06h54
A morte do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, aos 100 anos, na madrugada de sábado, em Paris, foi anunciada apenas ontem por colegas acadêmicos. Eles não revelaram a causa da morte, mas, no ano passado, Lévi-Strauss, com a saúde debilitada, não compareceu às homenagens públicas dedicadas pela França ao seu centenário de nascimento. O professor Philippe Descola, que o substituiu no cargo de diretor do laboratório de Antropologia do Collège de France, revelou que ele foi sepultado em Lignerolles, cidade a oeste da França, onde o antropólogo mantinha uma casa de campo.
Seu desaparecimento deixa o mundo menos inteligente e mais dependente de um herdeiro capaz de seguir na trilha aberta por esse que foi um dos maiores intelectuais do século pasado. Numa carreira de mais de 60 anos, Lévi-Strauss, filho de uma família judia de Bruxelas, publicou obras fundamentais que se converteram em clássicos da antropologia e da literatura, dos quais basta citar dois para comprovar sua importância: Tristes Trópicos (1955)e O Pensamento Selvagem (1962).
Lévi-Strauss, considerado o pai da antropologia moderna, é com justa razão lembrado como o reformador da disciplina. Introdutor do conceito de estruturalismo, ele buscou padrões subjacentes de pensamento em todas as formas de atividade humana, concluindo que nossa mente organiza o conhecimento em pares binários e opostos que se estruturam de acordo com a lógica - e isso vale tanto para o mito como para a ciência, segundo o antropólogo, que deu aulas na Universidade de São Paulo (USP).
O antropólogo foi professor na USP até 1938. Desembarcou no cais de Santos em 1935, em companhia do historiador Fernand Braudel (1902-1985), para ocupar a cadeira de sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Recepcionado pelo jornalista Julio de Mesquita Filho, então diretor de O Estado de S. Paulo e um dos idealizadores da Universidade de São Paulo, Lévi-Strauss desenvolveu com seus alunos um novo método pedagógico, começando por distribuir uma série de árvores genealógicas individualizadas para provocar uma reflexão sobre sua teoria da aliança.
Segundo essa teoria, "o parentesco tem mais a ver com a aliança entre duas famílias por casamento entre seus integrantes do que com a ascendência de um passado comum".
Não existiria, segundo ele, uma diferença significativa entre o pensamento primitivo e civilizado, tese desenvolvida no clássico O Pensamento Selvagem, considerado seu livro mais importante. Em outras palavras, o "pensamento de selvagens" não passa de uma invenção da modernidade. O que existe mesmo é um pensamento selvagem, atributo de toda a humanidade que podemos encontrar em nós mesmos, garante Lévi-Strauss, mas que, ainda segundo o antropólogo, preferimos buscar nas sociedades exóticas.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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