O
senador Aécio Neves (PSDB-MG) retornou à tribuna do Senado Federal, na
quarta-feira, 20, onde fez uma avaliação dos dez anos de governo do PT no país.
Durante seu pronunciamento, o senador listou 13 dos grandes fracassos da
administração petista no plano federal.
Por Gazeta de São João del-Rei em 23/02/2013.
Aécio
Neves utilizou a tribuna do Senado na quarta-feira, 20, para falar sobre os 10
anos do PT à frente do Governo Federal Foto: Agência Senado / Divulgação |
Dez anos no poder, mas o
senhor acha que falta autocrítica do PT?
Essa
é a grande verdade. O PT comemora, e é legítimo que comemore seus dez anos de
poder, mas fazendo crer que o Brasil foi descoberto em 2003, quando o
presidente Lula assume a Presidência da República. Não. O Brasil avançou em
vários setores, mas essa é uma construção de muitos governos em diferentes
momentos da história. E tem faltado ao PT generosidade para compreender a
contribuição de outras forças políticas, de outros governos, e a capacidade da
autocrítica. O PT, se teve acertos, e certamente os teve, se não, não estaria
no poder até hoje, teve equívocos muito graves nos últimos 20 anos de história
do Brasil. Até além disso, desde a eleição de Tancredo, passando pelo Plano
Real, onde o PT teve um posicionamento radical contra, na Lei de
Responsabilidade Fiscal, o PT foi ao Supremo para inviabilizar a sua aplicação.
O que queremos discutir são os passos para o futuro. O PT apresenta ao Brasil, na comemoração dos
seus dez anos, uma cartilha que remonta ao século passado, querendo rachar o
Brasil entre nós e eles, entre os bons e os maus. Todos que são os adversários,
segundo o PT, cometeram equívocos, e só nós temos virtudes. Não. É hora de o PT
fazer autocrítica, reconhecer os gravíssimos equívocos no campo ético, no campo
administrativo, os problemas sérios que estamos vivendo e vamos viver do ponto
de vista econômico, com o recrudescimento da inflação, o pífio crescimento do
PIB, a fragilização das nossas empresas estatais, esse é o debate do futuro.
Fomos convidados para a festa do PT, no momento em que o PT nos elege para
fazer seu contraponto. Eu aceito o convite e chamo o PT para dançar, mas vamos
dançar a dança da modernidade. Vamos falar de um país que qualifica a educação,
um país que investe solidariamente em segurança pública, que fortalece os
municípios e os estados. Não esse país virtual que o PT criou e quer que os
brasileiros acreditem que ele existe.
É uma nova postura do PSDB,
senador?
Não
é uma nova postura. É tudo a seu tempo. Eu disse no meu pronunciamento que não
repetiremos a oposição que fez o PT, contra tudo e contra todos. Qualquer
medida que vinha do governo Fernando Henrique o PT já era prioritariamente
contra. Foi assim no Plano Real, foi assim em inúmeras outras medidas, no
processo de privatizações, por exemplo, que o PT encampa hoje. Queremos
discutir a nova agenda do Brasil. Queremos chamar atenção para o sucateamento
da nossa indústria, por exemplo. Para os desmandos nas nossas estatais. Para o
aparelhamento absurdo e a desqualificação da máquina pública. O crescimento do
PIB brasileiro só foi maior que o do Paraguai no último ano. As coisas não vão
bem e o PT quer vender ao país que eles construíram com todas as suas virtudes
um país virtual. Um país onde metade da população não tem saneamento básico.
Onde a saúde pública é um flagelo para grande parte da população brasileira em
todas as regiões do país. Onde a qualificação da educação nos coloca nos
últimos lugares em qualquer ranking internacional. Esse não é o país cor de
rosa que o PT busca pintar. Vim aqui hoje para dizer: vamos discutir o Brasil
real e é preciso que o PT tenha generosidade para reconhecer a contribuição dos
que vieram antes, em especial na estabilização da moeda, e tenha também a
capacidade de fazer autocrítica para não errar tanto, quanto já errou no
passado.
Dentre os 13 pontos que o
senhor apontou, o senhor qualificaria que a economia é o que mais preocupando?
Sem
sombra de dúvidas. O baixíssimo crescimento da economia, e não adianta mais
terceirizar responsabilidades, porque as crises americana, mais atrás, e a
europeia mais recentemente, afetaram todos os países da nossa região, e nosso
crescimento foi absolutamente pífio. Estamos vivendo um processo de
desindustrialização extremamente grave. Isso não se corrige de um ano para o
outro, nem de um mandato para o outro. A indústria vem perdendo
competitividade, estamos voltando a ser exportadores de commodities, como
éramos na década de 1950. Nossas principais estatais, patrimônio do povo
brasileiro, perderam valor de mercado de forma extraordinária nos últimos anos,
e falta firmeza na gestão da política fiscal brasileira. Perdemos no passado
enormes oportunidade, com crescimento da arrecadação, de fazer ajustes
importantes. Não fizemos. A agenda das reformas previstas, prometidas em duas
eleições pelo presidente Lula e em uma pela presidente Dilma, ainda é agenda
por ser feita. Portanto, a questão econômica é muito grave, mas o gerenciamento
do país, a inapetência gerencial do governo e o aparelhamento da máquina
pública se colocam também como preocupações que devem ser de todos brasileiros.
O senhor terminou o seu
discurso falando sobre a lógica da reeleição. Foi uma herança ruim, que o PSDB,
que trabalhou pela emenda da reeleição, deixou?
Essa
foi uma decisão da maioria do Congresso. Quando falo da lógica da reeleição,
falo nas ações governamentais. A partir do momento em que a presidente da
República, e confesso que me surpreendi com ela se dispor a cumprir àquele
papel, fugindo ou despindo-se da liturgia do cargo, ocupa uma cadeia de rádio e
televisão para fazer proselitismo eleitoral, para falar do Brasil do nós ou
eles, lembrando inclusive os piores tempos do regime militar, dizendo que os
que não apoiam o governo são contra o país, ela inaugurou o processo eleitoral.
E obviamente vai ter que administrar hoje as pressões da sua base do governo,
porque todos entenderam o recado. A presidente, não sei se por inexperiência ou
por alguma precipitação, ou até mesmo por alguma inquietude interna, em face de
outras manifestações dentro do próprio PT, que gostariam de talvez de ver o
ex-presidente Lula como candidato, ela antecipou o processo. Mas isso tem
custos. E ela já está pagando esse custo com a imensa pressão dos seus aliados
por espaços no governo. Infelizmente, o que move hoje o governo é a lógica da
reeleição.
Mas o senhor também acha que
a oposição tem que dançar?
Estamos
fazendo isso. É o momento de discutir os temas que interessam ao país. Não é o
momento da eleição, não acho que devamos antecipar a nossa agenda em razão de o
governo federal ter antecipado a sua. Acho que, em um determinado momento, a
presidente buscou dar ao próprio presidente uma satisfação interna, para dizer
que ela era a candidata e eleição, mas com custo altíssimo em relação às
pressões e à volúpia por cargos, por espaço e por verba pública da sua base
aliada. Temos o nosso cronograma. A
nossa preocupação agora é identificar quais são os temas, e hoje julgo ter dado
uma contribuição para isso. Quais os temas importantes para o Brasil do futuro,
para superarmos as dificuldades que temos hoje. O sucateamento da Petrobras, as
dificuldades pelas quais vai passas a Eletrobras. É incorreto dizer, uma
falsidade das maiores que tenho ouvido, repetida por um senador aqui hoje do
PT, que o PSDB esteve contra a diminuição das tarifas de energia. Não,
queríamos uma diminuição maior, mas a custa da diminuição dos encargos
federais, por exemplo o PIS/Cofins, que poderia ter elevado em 5% o desconto, a
desoneração nas contas de luz. Estamos pontos para qualquer debate. Vamos
fazê-lo frontalmente, com clareza, com elegância – que é uma característica
nossa –, mas com absoluta firmeza. Mas candidatura o PSDB e as oposições só devem
ter no início de 2014.
Por Gazeta de São João del-Rei em 23/02/2013.
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