Estudantes vão enfrentar questões de ciências na Prova Brasil a partir deste ano (Washington Alves/Agência Estado ) |
Atualmente, o exame
nacional avalia apenas as disciplina de português e matemática. Com a mudança,
a prova fica mais parecida com o Pisa
O ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, anunciou que o governo federal vai introduzir
neste ano, de forma amostral, questões de ciências na Prova Brasil, avaliação
nacional que mede a qualidade da educação no país. Atualmente, o exame, que é
aplicado aos alunos de 5.º e 9.º anos do ensino fundamental e 3.º ano do ensino
médio das redes públicas, avalia apenas português e matemática.
Ainda de acordo com o
ministro, a mudança não deve afetar imediatamente o cálculo do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas futuramente, as notas devem
sofrer alteração. "Em um primeiro momento, a medida não terá o objetivo de
interferir na nota do Ideb, mas será a preparação para isso", afirmou
Mercadante. Para calcular o Ideb, o MEC combina o resultado do desempenho dos
estudantes em avaliações como Prova Brasil e Saeb com a taxa de aprovação nas
escolas.
A Prova Brasil é uma
avaliação em larga escala realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do MEC responsável
pelas avaliações e índices educacionais. O exame é aplicado a cada dois anos em
escolas públicas urbanas e rurais que possuem turmas de 20 ou mais estudantes.
O objetivo é avaliar o sistema educacional, analisando o desempenho de alunos,
docentes e servidores. As escolas são selecionadas pelo Inep com base em dados
do Censo Escolar. Não são divulgados resultados individuais dos estudantes, já
que o objetivo é avaliar a unidade e o sistema de ensino.
Além da inclusão de
disciplina de ciências, Mercadante afirmou também que o Inep está disposto a
apoiar todas as prefeituras que quiserem promover simulados da Prova Brasil.
"Teremos uma avaliação pedagógica que indicará onde a escola está bem e
onde não está. Estamos dispostos a apoiar todo mundo que quiser fazer simulado.
Vamos colocar as questões à disposição e ajudar a viabilizar as provas."
No caso do ensino
médio, o ministro da Educação voltou a tratar da substituição da Prova
Brasil/Saeb pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no cálculo da nota do
Ideb. "As administrações públicas, as secretarias de Educação e os
estudantes já fizeram essa troca. É concreto", disse. O ministro ainda
classificou de "bobagem" as críticas de que o governo estaria
tentando maquiar a avaliação do ensino médio, após o resultado do Ideb do
ensino médio apontar para uma estagnação - entre 2009 e 2011 o Ideb registrou o
aumento de apenas 0,1 ponto, passando de 3,6 para 3,7. "O Enem hoje é o
foco dos estudantes do ensino médio, é o que define a vida deles. É para onde
os pais estão olhando, para onde a escola está olhando", justificou
Mercadante.
Especialistas em
educação criticam os planos do MEC de utilizar o Enem como ferramenta de
avaliação e vestibular ao mesmo tempo. Segundo eles, a impossibilidade de
cumprir simultaneamente e com louvor ambas as funções decorre da natureza
distinta das duas provas: as que avaliam a qualidade do ensino e as que
selecionam alunos. A primeira busca produzir um diagnóstico a partir do
conhecimento de estudantes, escolas ou mesmo de uma rede de educação; a segunda
pretende hierarquizar candidatos segundo seu desempenho e, assim, apontar os
melhores para uma universidade, por exemplo.
Já a inserção da
disciplina de ciências na Prova Brasil é vista com bons olhos pelos estudiosos.
Eles lembram que, com a novidade, a prova ficará mais parecida com o exame do
Programa Internacional de Avaliação (Pisa), o que é positivo. No entanto,
alguns deles criticam a falta de debate sobre como os assuntos deveriam
abordados. "A discussão não aconteceu até hoje, nem mesmo com a definição
das matrizes curriculares de português e matemática", diz Daniel Cara,
coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Especialistas também
questionam a não inclusão de outras disciplinas na avaliação. "Por que não
incluir de forma amostral história e geografia?", questiona Alexandre
Oliveira, da consultoria Meritt Informação Educacional. O ideal, segundo Marcio
da Costa, professor da Faculdade de Educação da UFRJ, é que a matriz funcione
como um indutor do próprio currículo do ensino básico. "Queremos finalizar
até julho as diretrizes de ciências e esperamos que o MEC se guie por esse
estudo", diz José Fernandes de Lima, presidente do Conselho Nacional de
Educação (CNE).
(Com Estadão Conteúdo)
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