Alan Sampaio / iG Brasília
Estrutura escolar adoece professores e leva a abandono da profissão
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O relato é da
professora Luciana Damasceno Gonçalves, de 39 anos. Pedagoga, especialista em
psicopedagogia há 15 anos, Luciana é um exemplo entre milhares de professores
que, todos os dias e há anos, se afastam das salas de aula e desistem da
profissão por terem adoecido em suas rotinas.
Camargo percebeu que a
“epidemia” de doenças ocupacionais dos docentes foi estudada sempre sob o ponto
de vista médico. “Tentei mapear o problema do adoecimento e da deserção dos
professores não pela via da vitimização, mas pela forma como esses problemas
estão ligados à forma naturalizada e invariável da forma escolar na modernidade”,
diz.
Luciana começou a
adoecer em 2007 e está há dois anos afastada. Espera não ser colocada de volta
em um colégio. “Tenho um laudo dizendo que eu não conseguiria mais trabalhar em
escola. Eu não sei o que vão fazer comigo. Mas, como essa não é uma doença
visível, sou discriminada”, conta. A professora critica a falta de apoio para
os docentes nas escolas.
“Me sentia remando
contra a maré. Eu gostava do que fazia, era boa profissional, mas não conseguia
mudar o que estava errado. A escola ficou ultrapassada, não atrai os alunos.
Eles só estão lá por obrigação e os pais delegam todas as responsabilidades de
educar os filhos à escola. Tudo isso me angustiava muito”, diz.
Orientado pelo
professor Julio Roberto Groppa Aquino, com base nas análises de Michel Foucault
sobre as instituições disciplinares e os jogos de poder e resistência, Camargo
questiona a existência das escolas como instituição inabalável. A discussão
proposta por ele trata de um novo olhar sobre a educação, um conceito chamado
abolicionismo escolar.
“Criticamos quase tudo
na escola (alunos, professores, conteúdos, gestores, políticos) e, ao mesmo
tempo, desejamos mais escolas, mais professores, mais alunos, mais conteúdos e
disciplinas. Nenhuma reforma modificou a rotina do cotidiano escolar: todos os
dias, uma legião de crianças é confinada por algumas (ou muitas) horas em salas
de aula sob a supervisão de um professor para que possam ocupar o tempo e
aprender alguma coisa, pouco importa a variação moral dos conteúdos e das
estratégias didático-metodológicas de ensino”, pondera.
Ele ressalta que essa
“não é mais uma agenda política para trazer salvação definitiva” aos problemas
escolares. É uma crítica às inúmeras tentativas de reformular a escola,
mantendo-a da mesma forma. “A minha questão é outra: será possível não mais
tentar resolver os problemas da escola, mas compreender a existência da escola
como um grave problema político?”, provoca.
Na opinião do
pesquisador, “as mazelas da escola são rentáveis e parecem se proliferar na
mesma medida em que proliferam diagnósticos e prognósticos para uma possível
cura”.
Suzimeri Almeida da
Silva, 44 anos, se tornou professora de Ciências e Biologia em 1990. Em 2011,
no entanto, chegou ao seu limite. Hoje, conseguiu ser realocada em um
laboratório de ciências. “Se eu for obrigada a voltar para uma sala de aula,
não vou dar conta. Não tenho mais estrutura psiquiátrica para isso”, conta a
carioca.
Ela concorda que a
estrutura escolar adoece os profissionais. Além das doenças físicas – ela
desenvolveu rinite alérgica por causa do giz e inúmeros calos nas cordas vocais
–, Suzimeri diz que o ambiente provoca doenças psicológicas. Ela, que cuida de
uma depressão, também reclama da falta de apoio das famílias e dos gestores aos
professores.
“O professor é culpado
de tudo, não é valorizado. Muitas crianças chegam cheias de problemas
emocionais, sociais. Você vê tudo errado, quer ajudar, mas não consegue. Eu
pensava: eu não sou psicóloga, não sou assistente social. O que eu estou
fazendo aqui?”, lamenta.
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