domingo, 17 de fevereiro de 2013

ORGANON


 

Organon (do grego, ὄργανον) é o nome tradicionalmente dado ao conjunto das obras de lógica do filósofo antigo Aristóteles (384 ou 383 - 322 a.C.). Significa "instrumento", porque os aristotélicos consideravam que o raciocínio (principal assunto da lógica) era um instrumento para a filosofia, ou seja, algo que precisava ser dominado antes de se poder produzir conhecimento ou ter uma prática de vida filosófica. Então, por considerarem o raciocínio um instrumento, passaram em seguida a assim nomear o estudo do raciocínio para, então, designar também o conjunto de textos em que Aristóteles faz esse estudo.

 
Composição e Ordem

Atualmente, as seguintes obras de Aristóteles fazem parte do Órganon, nesta ordem:

1º) Categorias: tratado sobre os termos.

2º) Da Interpretação (mais conhecido pelo título em latim: De Interpretatione): tratado sobre a proposição.

3º) Analíticos anteriores (também chamado de Primeiros Analíticos), em 2 livros: tratado do raciocínio formal (silogismo).

4º) Analíticos posteriores (também chamado Segundos Analíticos), em 2 livros: tratado do raciocínio científico (demonstração).

5º) Tópicos, em 8 livros: manual para debates de opiniões correntes na sociedade.

6º) Elencos Sofísticos (também conhecido como Refutação dos Sofistas): manual para perceber erros argumentativos.

Essa composição, porém, não é unânime. Os árabes medievais, por exemplo, incluíam no Órganon também a Retórica e a Poética e os siríacos, povos que viveram no Oriente Médio a partir do século IV d.C., tinham o costume de só traduzir até o Capítulo 7 do primeiro livro dos Analíticos anteriores, mas não sabemos se faziam isso porque consideravam que os demais textos não faziam parte do "Instrumento" ou não.

Por outro lado, uma ou outra obra, ou parte de obra, já foi considerada inautêntica (ou seja, não escrita pelo próprio Aristóteles), o que implicaria tirá-la do Órganon. A rigor, as Categorias e o Da Interpretação não são estudos sobre o raciocínio, mas sobre as palavras (termos) e as frases (proposição), respectivamente; mesmo assim, figuram neste grupo porque se supõe que é preciso entender os elementos dos discursos antes de poder pensá-los e fazê-los. Também os Elencos sofísticos não falam de raciocínio, mas de falácias, coisas que parecem raciocínios mas não são. Em todo caso, a grande maioria dos estudiosos se referem a essas seis obras quando falam do Órganon.

Os Analíticos anteriores e os Analíticos posteriores são citadas por Aristóteles como uma única obra e os Elencos sofísticos são considerados um nono livro dos Tópicos, um apêndice, por sugestão do próprio Aristóteles no último capítulo dos Elencos. A rigor, então, seriam quatro obras. Mesmo assim, a tradição de dividir em dois Analíticos e de separar os Elencos sofísticos dos Tópicos vem desde a Antiguidade tardia (século II d.C., talvez até desde o século I antes de Cristo, com a primeira compilação das obras de Aristóteles por Andrónico de Rodes) e ainda hoje é seguida.

O Órganon é assim ordenado por dois critérios: do mais simples ao complexo (dos termos ao discurso argumentativo, passado pelas proposições) e, em seguida, do mais verdadeiro ao mais falso (do discurso científico ao discurso falacioso, passado pelo discurso de coisas prováveis). Começar pelas Categorias é quase uma unanimidade e isso vem desde a Antiguidade tardia. Já se considerou que os Tópicos deveriam vir depois das Categorias, porque um dos seus títulos antigos do já foi algo como Pré-Tópicos.

 
Origem e Contexto

Apesar da pesada tradição, o próprio Aristóteles nunca declarou expressamente que o raciocínio (que, por sua vez, é estudado por aquilo que depois dele receberia o nome de Lógica) era um instrumento para as ciências. Há algumas passagens no texto aristotélico, principalmente nos Tópicos (em particular, Tópicos, livro I, capítulo 2) que sugerem algo nessa direção, mas os comentadores atuais de Aristóteles são unânimes em dizer que o Órganon não vem do próprio filósofo. (Há, é verdade, uma notícia, dada por Diógenes Laércio, importante biógrafo dos filósofos antigos, na qual esse conceito é remontado ao próprio Aristóteles).

Não se sabe ao certo quando teriam começado a considerar que o raciocínio era um instrumento. Há duas datas de nascimento prováveis. Uma é pouco após a morte de Aristóteles, no século III a.C., com os seus discípulos imediatos. Neste século, nascia a filosofia estoica, com o seu fundador, Zenão de Cítio. Sabe-se por Diógenes Laércio que Zenão considerava que a filosofia era dividida em física, ética e lógica. A lógica, portanto, era parte da filosofia e não um instrumento exterior.

Contudo, temos notícia de que o Aristóteles e Teofrasto, o chefe seguinte do Liceu, dividiam a filosofia em teórica e prática, que corresponderiam à física e à ética estoicas respectivamente, nada falando sobre a lógica. Isso significaria que os primeiros aristotélicos não consideravam a lógica como parte da filosofia e, portanto, só podia ser algo exterior a ela. Outra data de nascimento provável seria o século I a.C., com Andrónico de Rodes.

Andrónico é célebre por ter reeditado as obras internas do Liceu, as quais há muito tempo estavam perdidas, e sabe-se que ele considerava que o estudo da lógica deveria ser feito antes
de tudo o mais. Ou seja, é preciso se exercitar nas regras do raciocínio antes de fazer filosofia. Por isso, ao editar as obras de Aristóteles, Andrónico não só seria o primeiro a considerar que lógica era um instrumento da filosofia, mas também teria sido o primeiro a pôr os seis livros em conjunto. Essas são as duas épocas mais prováveis em que os aristotélicos começaram a dizer que a lógica era um "órganon".

Porém, o fato é que aquele cuja ardorosa defesa da instrumentalidade da lógica estabeleceu para nós esta tradição foi Alexandre de Afrodisias (cerca de século II depois de Cristo), principal comentador grego de Aristóteles. No seu Comentário aos Primeiros Analíticos, ele expõe vários argumentos (supostamente, dos estoicos, embora ele não cite nomes) a favor de que a lógica seja parte da filosofia para, em seguida, criticar essa tese. Além disso, em outros momentos de suas obras, Alexandre volta a esse ponto. Por isso, podemos dizer que ele é o responsável por nós, hoje, atribuirmos essa doutrina aos aristotélicos.

Se o raciocínio era considerado um instrumento, não sabemos, também, quando, por metáfora, passaram a chamar assim as obras de Aristóteles: quando começaram a reunir as seis obras citadas sob o título de Órganon? É razoável pensar que foi Andrónico, embora ele não considerasse o Da Interpretação uma obra autêntica. Mas desde o século V d.C., vemos Amônio, filho de Hermias, e seu discípulo João Filopono, dois comentadores neoplatônicos da escola de Alexandria, incluir entre as obras "instrumentais" de Aristóteles esses seis livros, com os títulos acima, acrescentando também a Retórica e Poética.

Aliás, curiosamente, ambos consideravam que não havia contradição entre defender que a lógica era um instrumento e que era uma parte da filosofia; eles atribuem essa harmonia a Platão e deixam transparecer uma certa preferência por ela (e não só eles: Boécio, século VI, também é partidário dessa tese).

fonte: wikipedia.

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