Organon (do grego, ὄργανον) é o nome
tradicionalmente dado ao conjunto das obras de lógica do filósofo antigo
Aristóteles (384 ou 383 - 322 a.C.). Significa "instrumento", porque
os aristotélicos consideravam que o raciocínio (principal assunto da lógica)
era um instrumento para a filosofia, ou seja, algo que precisava ser dominado
antes de se poder produzir conhecimento ou ter uma prática de vida filosófica.
Então, por considerarem o raciocínio um instrumento, passaram em seguida a
assim nomear o estudo do raciocínio para, então, designar também o conjunto de
textos em que Aristóteles faz esse estudo.
Atualmente, as seguintes obras de
Aristóteles fazem parte do Órganon, nesta ordem:
1º) Categorias: tratado sobre os
termos.
2º) Da Interpretação (mais conhecido
pelo título em latim: De Interpretatione): tratado sobre a proposição.
3º) Analíticos anteriores (também
chamado de Primeiros Analíticos), em 2 livros: tratado do raciocínio formal
(silogismo).
4º) Analíticos posteriores (também
chamado Segundos Analíticos), em 2 livros: tratado do raciocínio científico
(demonstração).
5º) Tópicos, em 8 livros: manual
para debates de opiniões correntes na sociedade.
6º) Elencos Sofísticos (também
conhecido como Refutação dos Sofistas): manual para perceber erros
argumentativos.
Essa composição, porém, não é
unânime. Os árabes medievais, por exemplo, incluíam no Órganon também a
Retórica e a Poética e os siríacos, povos que viveram no Oriente Médio a partir
do século IV d.C., tinham o costume de só traduzir até o Capítulo 7 do primeiro
livro dos Analíticos anteriores, mas não sabemos se faziam isso porque
consideravam que os demais textos não faziam parte do "Instrumento"
ou não.
Por outro lado, uma ou outra obra,
ou parte de obra, já foi considerada inautêntica (ou seja, não escrita pelo
próprio Aristóteles), o que implicaria tirá-la do Órganon. A rigor, as
Categorias e o Da Interpretação não são estudos sobre o raciocínio, mas sobre
as palavras (termos) e as frases (proposição), respectivamente; mesmo assim,
figuram neste grupo porque se supõe que é preciso entender os elementos dos
discursos antes de poder pensá-los e fazê-los. Também os Elencos sofísticos não
falam de raciocínio, mas de falácias, coisas que parecem raciocínios mas não
são. Em todo caso, a grande maioria dos estudiosos se referem a essas seis
obras quando falam do Órganon.
Os Analíticos anteriores e os
Analíticos posteriores são citadas por Aristóteles como uma única obra e os
Elencos sofísticos são considerados um nono livro dos Tópicos, um apêndice, por
sugestão do próprio Aristóteles no último capítulo dos Elencos. A rigor, então,
seriam quatro obras. Mesmo assim, a tradição de dividir em dois Analíticos e de
separar os Elencos sofísticos dos Tópicos vem desde a Antiguidade tardia
(século II d.C., talvez até desde o século I antes de Cristo, com a primeira
compilação das obras de Aristóteles por Andrónico de Rodes) e ainda hoje é
seguida.
O Órganon é assim ordenado por dois
critérios: do mais simples ao complexo (dos termos ao discurso argumentativo,
passado pelas proposições) e, em seguida, do mais verdadeiro ao mais falso (do
discurso científico ao discurso falacioso, passado pelo discurso de coisas
prováveis). Começar pelas Categorias é quase uma unanimidade e isso vem desde a
Antiguidade tardia. Já se considerou que os Tópicos deveriam vir depois das
Categorias, porque um dos seus títulos antigos do já foi algo como Pré-Tópicos.
Origem e Contexto
Apesar da pesada tradição, o próprio
Aristóteles nunca declarou expressamente que o raciocínio (que, por sua vez, é
estudado por aquilo que depois dele receberia o nome de Lógica) era um
instrumento para as ciências. Há algumas passagens no texto aristotélico,
principalmente nos Tópicos (em particular, Tópicos, livro I, capítulo 2) que
sugerem algo nessa direção, mas os comentadores atuais de Aristóteles são
unânimes em dizer que o Órganon não vem do próprio filósofo. (Há, é verdade,
uma notícia, dada por Diógenes Laércio, importante biógrafo dos filósofos
antigos, na qual esse conceito é remontado ao próprio Aristóteles).
Não se sabe ao certo quando teriam
começado a considerar que o raciocínio era um instrumento. Há duas datas de
nascimento prováveis. Uma é pouco após a morte de Aristóteles, no século III
a.C., com os seus discípulos imediatos. Neste século, nascia a filosofia
estoica, com o seu fundador, Zenão de Cítio. Sabe-se por Diógenes Laércio que
Zenão considerava que a filosofia era dividida em física, ética e lógica. A
lógica, portanto, era parte da filosofia e não um instrumento exterior.
Contudo, temos notícia de que o
Aristóteles e Teofrasto, o chefe seguinte do Liceu, dividiam a filosofia em
teórica e prática, que corresponderiam à física e à ética estoicas
respectivamente, nada falando sobre a lógica. Isso significaria que os
primeiros aristotélicos não consideravam a lógica como parte da filosofia e,
portanto, só podia ser algo exterior a ela. Outra data de nascimento provável
seria o século I a.C., com Andrónico de Rodes.
Andrónico é célebre por ter
reeditado as obras internas do Liceu, as quais há muito tempo estavam perdidas,
e sabe-se que ele considerava que o estudo da lógica deveria ser feito antes
de tudo o mais. Ou seja, é preciso
se exercitar nas regras do raciocínio antes de fazer filosofia. Por isso, ao
editar as obras de Aristóteles, Andrónico não só seria o primeiro a considerar
que lógica era um instrumento da filosofia, mas também teria sido o primeiro a
pôr os seis livros em conjunto. Essas são as duas épocas mais prováveis em que
os aristotélicos começaram a dizer que a lógica era um "órganon".
Porém, o fato é que aquele cuja
ardorosa defesa da instrumentalidade da lógica estabeleceu para nós esta
tradição foi Alexandre de Afrodisias (cerca de século II depois de Cristo),
principal comentador grego de Aristóteles. No seu Comentário aos Primeiros
Analíticos, ele expõe vários argumentos (supostamente, dos estoicos, embora ele
não cite nomes) a favor de que a lógica seja parte da filosofia para, em
seguida, criticar essa tese. Além disso, em outros momentos de suas obras,
Alexandre volta a esse ponto. Por isso, podemos dizer que ele é o responsável
por nós, hoje, atribuirmos essa doutrina aos aristotélicos.
Se o raciocínio era considerado um
instrumento, não sabemos, também, quando, por metáfora, passaram a chamar assim
as obras de Aristóteles: quando começaram a reunir as seis obras citadas sob o
título de Órganon? É razoável pensar que foi Andrónico, embora ele não
considerasse o Da Interpretação uma obra autêntica. Mas desde o século V d.C.,
vemos Amônio, filho de Hermias, e seu discípulo João Filopono, dois
comentadores neoplatônicos da escola de Alexandria, incluir entre as obras
"instrumentais" de Aristóteles esses seis livros, com os títulos
acima, acrescentando também a Retórica e Poética.
Aliás, curiosamente, ambos
consideravam que não havia contradição entre defender que a lógica era um
instrumento e que era uma parte da filosofia; eles atribuem essa harmonia a
Platão e deixam transparecer uma certa preferência por ela (e não só eles:
Boécio, século VI, também é partidário dessa tese).
fonte: wikipedia.
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