quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha Leitura acerca da Primeira Conferência Municipal de Cultura






Lamentável, mas é a Pura Verdade.

Gravatá dá provas de que não é capaz de promover Encontros, Seminários e/ou Conferências sem perder o primor da qualidade que estes eventos exigem.

A gestão municipal, de forma louvável, tem abraçado diversos eventos importantes para a nossa sociedade e de relevância nacional, tornando-se protagonista em abrir oportunidades de crescimento social, cultural e educacional na região do agreste pernambucano. Isso é um fato.

No entanto, aqueles que são responsáveis pela divulgação, organização e promoção dos eventos, estão longe de serem considerados a altura dos avanços que o nosso povo vem conquistando.

Quem ama futebol e a seleção brasileira, jamais se contenta em ver o Brasil ganhar da Argentina por um gol a zero, jogando mal. Nos acostumamos a ver o Brasil dar espetáculo, ter qualidade nas jogadas, fazer do futebol uma arte que correu os confins do mundo e é reconhecidamente o celeiro dos melhores artistas da bola do mundo. Não queremos um “faz de conta” que o Brasil ganhou e ponto final.

Faço esse paralelo para ilustrar de forma bem simples o que penso sobre os eventos promovidos pela prefeitura municipal, os quais tenho participado sem ser convidado como funcionário público municipal que sou. E como todo brasileiro, que prima pela qualidade e repugna o “faz de conta”, considero alguns atores da gestão municipal como sendo os responsáveis pelos descasos que sofrem alguns eventos, cometendo erros primários, subjugando um grupo menos atento, para mascarar com autoritarismo a sua inabilidade em gerir, discutir e encaminhar temas tão relevantes.

A conferência Municipal de Educação – CONAE - foi um desses eventos de projeção nacional que espelhou a manipulação destes gestores em detrimento aos interesses da classe trabalhadora da educação.

Quem estava presente, preocupado com o futuro do nosso sistema educacional, recorda-se das jogadas politiqueiras que elementos da gestão municipal se propuseram a fazer para que não houvesse uma discussão mais séria e uma reforma mais contundente na gestão educacional. Dois erros graves foram cometidos pela comissão organizadora.

O primeiro erro foi a precária divulgação e seleção dos participantes que foi mais quantitativa que qualitativa. O segundo erro a falta de tempo para discutirmos com mais profundidade cada tema que precisava ser debatido, questionado, ampliado e até modificado.

Como disse anteriormente, eu, assim como outras pessoas envolvidas na luta pela democratização da educação, só pude participar ativamente do processo porque fui inscrito como delegado representante do Partido dos Trabalhadores. Isolados, pouco pudemos avançar nas discussões que versavam sobre redemocratização, ampliação e qualificação profissional no sistema educacional.

Ao final da CONAE, os delegados, separados por setores de representação, foram expostos a eleição para representar o município na etapa estadual. Eu fiquei de fora da etapa porque os “eleitores” escolheram outras pessoas que nada entendem de educação e que não estão preparados para discutir o tema nem a nível local. Um dos delegados eleito havia passado o dia fora do evento e só chegou na hora de ser votado, para ter oportunidade de aparecer e passear, quem sabe?!

A revolta ficou entalada na garganta até hoje...

E Gravatá sedia mais um evento importante e mais uma vez comete injustiças e erros organizacionais: A Primeira Conferência Municipal de Cultura idealizado pelo Ministério da Cultura, cujo tema geral deste ano é: “Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento”, que foi tão negativa quanto a etapa da CONAE.

Os mesmos erros cometidos durante a CONAE se repetiram no dia de ontem, durante a Primeira Conferência Municipal de Cultura. Independentemente das diversas opiniões já exportas na mídia local, gostaria expressar a leitura que tenho do evento, me solidarizando, logicamente, aos companheiros artistas.

Além de Gravatá, outras cidades pernambucanas promoveram a sua Conferência de Cultura, na última sexta-feira: Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Ilha de Itamaracá, Itapissuma, Olinda e Paulista. Tenho amigos em Olinda, Paulista e no Cabo. Todos eles me informaram que as suas Conferências foram todas muito bem divulgadas entre os cidadãos locais e todas as entidades ligadas à arte, à cultura e à educação foram notificadas e convidadas a participarem, com significativa representatividade.

Muitas cidades que eu tive a curiosidade de pesquisar dedicaram pelo menos mais de oito horas as suas respectivas Conferências. Muitos municípios traçaram um plano setorial para discutir a diversidade, a cidadania e ao desenvolvimento de políticas que alavancassem a cultura local. Todas elas buscaram seguir as normas do Regimento Interno da Conferência Nacional e do Texto-base (links abaixo) para promoverem uma discussão e uma construção sobre a cultura de forma qualificada.

Na cidade de Blumenau – Santa Catarina – por exemplo, a comissão organizadora teve a preocupação de discutir as três dimensões: simbólica, cidadã e econômica, propostas pelo ex-ministro Gilberto Gil. E cada dimensão foi trabalhada por segmento artístico, fortalecendo, assim, as proposições para o novo plano municipal de cultura e norteando o futuro de todos os trabalhadores das artes presentes em Blumenau. Lá, foi analisado o que se tem e o que se quer para a cidade nas áreas de música, artes cênicas, dança, artes plásticas, literatura, folclore, cultura pop e artesanato, patrimônio cultural material e imaterial e cinema, televisão, fotografia e vídeo.

Em Gravatá, sequer tivemos tempo de discutir cinco propostas de forma que contemplassem os interesses gerais. Além da questão do tempo, não tivemos um grupo que discutisse políticas públicas de forma consciente. Isto porque, dos participantes eleitos delegados, quatro eram adolescentes e pré-adolescentes que pouco contribuíram com a discussão. Eu fui relator e redator da sala responsável pelo eixo dois e a todo instante solicitava a participação dos jovens, sem sucesso.

E foram estes mesmos jovens que votaram no final da Conferência, em seus delegados. E, nesse ponto, nasceu a revolta dos artistas gravataenses e a indignação de outros presentes, como eu. Dos sete eleitos apenas um é realmente ligado ao movimento cultural de Gravatá. Ou seja, o que não se esperava que acontecesse, aconteceu. E não foi por culpa dos jovens eleitos, de forma alguma. Eles foram eleitos democraticamente.

Na minha humilde leitura, a culpa foi toda nossa. Minha, dos artistas e de todos os presentes que foram discutir realmente as questões mais sérias de um evento tão grandioso como foi a Conferência. Não acho que seja culpa do Sr. Secretário de Turismo nem do Sr. Diretor (gerente) de Políticas Públicas de Gravatá, até porque eles estavam fazendo a parte que lhes coube fazer.

As ressalvas, ratificações, retificações e reclamações deveriam ter sido feitas no início do evento, quando foi lido o regimento. Infelizmente não foi feito. Depois de concluída a votação, não havia mais o que reclamar. Portanto, o erro foi nosso, mais uma vez.

O que me deixou muito triste, revoltado e decepcionado é perceber que ainda estamos longe de vivermos um governo verdadeiramente democrático e justo; coerentemente organizado e transparente, porque nós não conseguimos nos organizar quando estamos representando a sociedade civil organizada. Contraditório não é?!

No que diz respeito aos jovens delegados eleitos, não se discute. A importância da participação da juventude nos eventos, também não se discute. O que se discute é a capacidade de promover discussões e contribuir para o real crescimento da cultura no estado e no município. Se eles sequer sabiam (maioria esmagadora) o que estávamos realmente discutindo nas salas, será que eles terão o que apresentar, o que argumentar, o que propor na etapa estadual? Será que eles irão entender a importância de se discutir a Economia, o Simbolismo e a Cidadania em face de uma Cultura mais digna para os artistas que dela vivem?

O artigo 18 do Regimento Interno da Conferência trata dos Delegados Natos. Quem tiver a preocupação de ler, perceberá, com certa facilidade, que Gravatá não irá garantir voz ativa nas etapas seguintes. Quem acredita que cidades como Olinda e Cabo de Santo Agostinho terão como delegados adolescentes que irão representar a sua cidade e o seu estado? Será que uma destas cidades irá enviar pré-adolescentes para representar a cultura destes municípios?
Ainda acredito que nós, com todos esses erros, possamos num futuro próximo, viver uma gestão mais democrática e participativa, onde cada setor da sociedade civil seja contemplada, respeitada, ouvida, para que o parágrafo único do art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88), seja DEFINTIVAMENTE POSTO EM PRÁTICA.
Ainda tenho esperanças de que dias melhores virão...



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