Hoje, 02 de Outubro, nós professores das áreas de Geografia e História, do corpo docente da Secretaria de Educação, fomos agraciados com uma pequena excursão que percorreu parte dos municípios de Pombos, Gravatá, Bezerros, Caruaru e Brejo da Madre de Deus, organizada pelo Ilustre Professor Lucivânio Jatobá.
In loco, nós podemos estudar, de forma mais perceptiva, o tema deste módulo de formação que trata do Semiárido. E foi uma das melhores e mais prazerosas aulas de campo que esta equipe já vivenciou. Com clareza de objetivos (procedimentais e atitudinais), Lucivânio Jatobá expôs seu mega conhecimento acerca do tema que ele chamou de “Subsídios ao Ensino da Geografia Física do Trópico Semiárido Brasileiro”.
Na nossa primeira parada no antigo mirante da “Serra das Russas”, podemos identificar os principais tipos de rochas que formam a região que estudamos. Os professores puderam classificar através das observações os tipos de rochas metamórficas e graníticas. Estudamos o metamorfismo do Milonito (abundante em formações de falhas).
Nessa parada também observamos que o conceito de “Serra” está sendo dado às Russas de forma errada, equivocada o termo “serra”, nesse caso é uma Toponímia. Na verdade, a rigor terminológico, a região chamada de “Serra das Russas” é uma vertente íngreme provocada pelo desnivelamento tectônico.
Na segunda parada, ainda nas Russas, desta vez na parte norte, no novo mirante, observamos os tipos de vegetação que está nos dois lados da falha. Na vertente norte, percebe-se uma vegetação mesclada de árvores da mata e do agreste, levemente mais verdes e rochas do tipo granítica. Do lado sul, percebemos um solo raso, vegetação Xerófitas, tipicamente de caatinga, e rochas metamórficas. Durante toda a viagem foram sendo registradas a altitude e a quilometragem.
Seguimos viagem até parar ao lado do Boqueirão de Torres, no município de Caruaru. De forma simples, poderia dizer que Boqueirão é uma grande boca, abertura de rio ou canal que foi sendo construído ao longo dos milhares de anos. Ou seja, é um vale que foi cavado por uma corrente fluvial em rocha mais resistente que surge, como uma soleira no meio do caminho do rio, segundo o próprio Lucivânio Jatobá.
Contornando a cidade de Caruaru, saindo da Rodovia BR 232 e entrando na BR 104, avistamos o Morro do Bom Jesus que um exemplo de clássico de Inselbergue, que é um relevo residual isolado sobre pediplanos, que se desenvolvem em rochas ígneas mais resistentes.
Distanciando-se da cidade de Caruaru, chegamos ao distrito de Rafael. Fizemos uma pequena parada para observar os maciços residuais ao longe. Identificamos, daquela posição, os pediplanos e pedimentos facilmente visíveis no horizonte próximo; também foram descritos na apostila elaborada por Jatobá. Vejamos, então:
O que são Pedimentos e Pediplanos?
Pedimento é uma vertente côncava que mergulha suavemente em direção ao fundo do vale, elaborada por processos de degradação lateral operantes em áreas secas.
Pediplano é definido como uma superfície pouco inclinada, formada pela coalescência de pedimentos. Apresenta uma topografia com uma inclinação menos do que a do pedimento, sendo quase nula a declividade em todas as direções.
Nesse contorno de estrada, fomos percebendo que estávamos traçando percurso sobre feições que são conhecidas como “Cristas”. Estas cristas – barreiras orográficas – são as responsáveis pelo aquecimento do ar na borda do sotavento, onde está o Brejo da Madre de Deus, tornando, assim, um lugar tipicamente semiárido, quase totalmente sertanejo.
Alguns quilômetros a frente, paramos em frente a uma pequena fazenda, num ambiente mais machado de serão, dentro do agreste. A área estava rodeada de exemplares de Matacões. Segundo o site www.dicionario.pro.br, Matacões também conhecido por seu nome em inglês Boulder, são grandes blocos arredondados, diâmetro maior que 256 mm, produzidos pelo processo de intemperismo químico, conhecido como esfoliação esferoidal ou pelo desgaste de blocos arrastados por correntes fluviais.
Segundo Lucivânio Jatobá, a origem destes matacões é muito influenciada pela rede de “diáclases”. O que diáclases? São fendas nas rochas. As diáclases se dividem em ortogonais e não-ortogonais, dependendo do tipo de ação que sofre o bloco rochoso. As Ortogonais formam fendas com ângulos de 90º. As Não-Ortogonais possuem ângulos obtusos. Ao longo do caminho até o distrito de Fazenda Nova testemunhamos a presença de matacões na região do semiárido.
Finalmente chegamos ao Distrito de Nova Jerusalém, município de Brejo da Madre de Deus. Fomos visitar as Fontes Termais. Fontes de águas térmicas, consideradas medicinais. Ao redor das diversas fontes, encontramos um tipo de Granito muito particular. O granito visto é de origem bastante profunda e de um resfriamento bastante lento, dando origem a feno-cristais, também chamados pelos franceses de “Dentes de Cavalo”. São poucos os Granitos que encontramos com as características que recebem o nome de pórfiro.
Assim concluímos a visita e nosso estudo.
Talvez eu tenha esquecido de dezenas de outras informações que foram estudadas no dia de hoje. Minha memória é falha, principalmente quando se depara com informações tão diversas, que mesmo sendo do conhecimento estudantil, são dados que não vivenciamos nas aulas de Geografia.
Daí a grande preocupação de Lucivânio, a minha preocupação também oriunda dos anos que convivo com ele, em rediscutirmos os destinos da Geografia Física. Há tempos estamos percebendo o descaso dado a nossa ciência. Cada dia mais os nossos vestibulares e concursos já não valorizam os conhecimentos trazidos pela Geografia Física.
Um dado alarmante é que muitos têm confundido a Geografia Física com Geografia Ambiental. Elas estão interligadas, mas, do ponto de vista científico e prático-pedagógico, elas são completamente distintas em seus campos de estudo. Na Geografia Física não a preocupação de fazer relações do homem e de suas ações com o meio, com a natureza.
A Geografia Física trata essencialmente de conhecer a gênese da Natureza, entender a dinâmica das suas leis e buscar explicações que possam formar o homem a fim de que ele perceba a grande necessidade de olhar o passado e entender o presente, sabendo conscientemente de que a “Natureza não dá Saltos”.
Nesta formação, dos elementos que compõem o Semiárido Nordestino, o caderno de informação de Lucivânio Jatobá enfatizou as condições climáticas atuais e pretéritas e a estruturação das paisagens geomorfológicas, que são os dois temas básicos vivenciados hoje nesta aula de campo.
A minha Eterna Gratidão
Fui aluno de Lucivânio e como tal aprendi a admirá-lo por todas as qualidades que todos conhecem. Tenho a honra de ser um dos poucos alunos que se tornou seu amigo, confidente, companheiro de desilusões. É meu conselheiro de todas as horas e um ícone inestimável na minha vida como professor e como pessoa.
Costumava dizer, quando era seu aluno, em diversas oportunidades, que minha visão de mundo, a natureza e a Geografia, mudou. Aliás, ela não mudou. Ela foi otimizada, ampliada em escalas que eu não poderia vislumbrar fora da vivência com este grande homem. Todas as paisagens foram sendo dissecadas por minha visão mais apurada, da busca de entender porque de cada elemento e como tal elemento se instalou ao longo dos milhares de anos.
Tudo tem uma explicação. Diz texto evangélico que nenhuma folha cai sem a permissão de Deus. Deus nunca foi incógnita dispensável nas relações de conhecimento científico de Lucivânio Jatobá. A Geografia que estudamos e que amamos é Física, mas não é materialista. E isto é uma visão privilegiada de poucos, de bons, de pessoas que vêem além do horizonte. É a Filosofia da ciência geográfica; é a poesia da ciência geográfica.
Se sou a soma de tudo que vejo, sou parte da visão de homens que foram e sempre serão muito maiores que eu. Minha mediocridade ascende-se a um patamar mais elevado quando busquei aprender com figuras como Lucivânio Jatobá. E ao longo destes anos de contato, percebo que eu tenho muito da psicologia profissional dele, da construção do caráter e da intensa vontade de viver num mundo melhor, acima dos conceitos Socialistas, Capitalistas, Comunistas. Somos Idealistas – quiçá ultrapassados para muitos – mas Idealistas!
Tem uma frase que diz: “Tem pessoas que vêem flores murchas e ficam tristes, outras ficam alegres, porque conseguem enxergar as sementes”. Eu sempre quis e quero estar entre estas últimas porque eu sei que é lá que eu sempre encontrá-lo. É lá que eu poder abraçá-lo e dizer da minha eterna gratidão por ter mudado a minha vida em todos os aspectos.
Não pretendo esperar você desencarnar para louvá-lo e fazer com que você saiba que eu sou uma voz, dentre centenas de vozes no seu estado, no seu país, no seu mundo, que lhe admira, lhe estima e estará sempre ao seu lado, defendendo a Geografia Física como base de transformação da mentalidade humana.
Confiram as fotos da viagem no meu orkut:
PROFESSOR RICARDO VIEIRA, Gravatá.
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