A missão maior do educador é o de informar e ajudar a formar àqueles que lhes são dependentes de conhecimento. E esta missão, muitos vezes, chega a ser ingrata, complicada e incompreendida, principalmente quando necessita dizer “verdade” que derrube um “mito”.
Fernando Pessoa diz que “o mito é o nada que é tudo”. Por sua vez, o grego antigo diz que mito é uma narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religião. Alguns mitos ganham tanta força que se tornam verdades, principalmente em regiões onde o conhecimento científico ainda é precário, onde a escola ainda faz muita falta. E mesmo que se haja o núcleo educativo, o mito é muito mais forte que qualquer neologismo.
Em Geografia, muitos foram os mitos criados. Os mais comuns são estudados por um ramo da Geografia chamado de “Geonímia”, que por sua vez dá origem a outro termo: Toponímia.
Toponímia é a divisão da onomástica que estuda os topônimos, ou seja, nomes próprios de lugares, da sua origem e evolução; é considerada uma parte da lingüística, com fortes ligações com a história, arqueologia e a geografia.
Temos complicados e muito pouco conhecidos inclusive entre professores foram escritos até agora. E o que tudo isso tem a ver com o município de Gravatá? Na verdade, tudo que foi dito até agora está estritamente ligado ao nosso município. E vamos, a partir de agora, contextualizar com relevante consideração.
Quem parte de Recife em direção a Gravatá, na altura do município de Pombos, avista um trecho de aclive que as pessoas acostumaram chamar de “Serra das Russas”. “Serra”, na verdade, não pode ser aplicado para classificar aquela região chamada de “Russas”. A rigor terminológico, o referido trecho é uma vertente íngreme provocada pelo desnivelamento tectônico.
Para nós, que estudamos Geografia, o termo “Serra das Russas” é um exemplo de mito e, consequentemente, uma ilustração clássica de Toponímia. É um mito porque foi incorporado ao vocabulário popular, tornando-se uma verdade empírica que é muito difícil de ser combatida, se não houver coragem para tanto. É Toponímia porque não retrata verdadeiramente, do ponto de vista geográfico, a realidade.
Outro grande mito que vem se arrastando por anos e vendendo Gravatá a base de uma inverdade, refere-se ao clima do nosso município. Em quase todos os sites, conversas informais e meios de comunicação, costumamos ouvir a seguinte frase: “Gravatá tem o quinto melhor micro clima do mundo”.
Essa história surgiu no início dos anos 50 através de um congresso de climatologia, onde vários países participaram, a cidade ficou com o título de 5º melhor micro clima do mundo segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), na categoria ventos alísios. [fonte: site da prefeitura de Gravatá].
Há alguns historiadores que defendem que o ex-prefeito Chucre Mussa Zarzar se utilizou desse dado (diga-se de passagem, ultrapassado), para atrair investimentos para o município, “inventando” que Gravatá possuía clima similar ao encontrado na Suíça, capaz, inclusive, de combater a tuberculose. Tese ou não, o certo é que a idéia foi comprada por milhares de veranistas que se instalaram na cidade em busca de um clima mais ameno que o da capital.
Jogada de marketing a parte, outro dado referente ao clima me chocou recentemente. O fato ainda é mais grave porque define o clima de Gravatá como frio. Por questões de ética e respeito, não citaremos aqui o autor nem a fonte do texto. Mas, o que podemos salientar é que o texto lido por mim na internet, dizia que o “frio de Gravatá está ameaçado”. Ledo engano. Gravatá nunca teve nem nunca terá clima frio. Aliás, o Brasil não possui clima frio em nenhum dos seus estados.
Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, Gravatá possui clima BSHs’, ou seja, clima quente, seco, de baixas latitudes, com chuvas de outono-inverno. A Climatologia e as Ciências Geográficas sérias dizem que Gravatá possui um clima regional, pois o clima é resultante de fatores regionais dos mais variados e que, portanto, não pode ser descrito como “micro clima” como ocorreu nos anos 50.
O referido texto ainda traz uma contradição. Mais adiante na leitura, ele diz que Gravatá está localizado no Semiárido. Corretíssimo. O autor do texto só esqueceu de que o Semiárido é quente e seco e, acima de tudo, imprevisível por ser um espaço azonal. Dados incorretos como estes reforçam a idéia de mito entre as pessoas menos informadas que acabam reproduzindo a posterior.
Os efeitos dessas distorções são bem mais devastadores do que dizer que o clima mudou, que Gravatá será uma das comunidades que primeiro irá sofrer com o aquecimento global e deixará de ser frio. É preciso muito cuidado com o que vamos divulgar, se não queremos que mitos se tornem verdades. Daí a minha grande preocupação em defender a Geografia Física como matéria indispensável nas escolas.
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