terça-feira, 3 de agosto de 2010

Nosso maior inimigo; Nosso pior adversário.





Adversário: inimigo ou oponente é a pessoa, criatura ou entidade contra a qual se luta.

Recentemente pedi a um aluno para conversar com sua mãe, depois que soube que o mesmo seria transferido para uma outra escola.

- Preciso que sua mãe ou seu pai venha essa semana na escola pra falar comigo?
- Oxente, professor! O que foi que eu fiz?
- Nada. Apenas quero conversar com sua mãe. Posso?
- Pode. Mas me diga o que foi que eu fiz?! – insistia ele, meio nervoso.

No dia seguinte, a mãe apareceu na escola. Visivelmente ansiosa, mal entrei na escola e ela se dirigiu a mim com olhar firme e o filho do lado, mais nervoso que ela. Carregava na mao direita uma sombrinha e, com a outra, apertada o braço do filho.

- O que foi que esse rapaz fez, Professor? – inquiriu-me a mãe, de forma bem direta.
- Seu filho não nada, mãe. – respondi com um sorriso leve. E conclui:
- Só mandei chamar a senhora aqui porque soube que ele vai deixar a gente e eu queria dizer a senhora que se dependesse de mim e dos meus colegas, ele não deixaria a escola. Seu filho é um menino muito educado, não nos dá problema. Vai fazer falta.
(…)

Aquela mãe e o seu próprio filho me deixou a impressão de que lhes pesam mais as coisas negativas do que as positivas; que é mais fácil tratar do insucesso que avaliarmos positivamente o que nós somos.

E é nestas horas que nos tornamos nosso maior inimigo, nosso pior adversário. Isto porque acalentamos sempre a idéia de que somos incapazes de desenvolver um trabalho digno ou mesmo uma atitude laudável. Alimentamos a imagem de que não estamos ou não estamos aptos a brilhar no palco da vida.

Embora muitos acreditem que nosso adversário é um ser mitológico, inclusive sendo visto como uma entidade que afronta a magnitude infinita de Deus, que na cultura cristã que ver em Satanás – Lucifer – uma das denominações desse caráter pouco amistoso, como se Deus fosse capaz de errar ou se arrepender de tudo que criara até então. Respeitamos, mas a razão não aponta pra tal sinônimo.
Na vida política nos acostumamos a ver muitos homens públicos se utilzarem do adjetivo para definir àqueles desafetos partidários. Se um grupo de Vereadores, por exemplo, fazem parte da base aliada do Executivo, e um outro, se postam como oposicionistas, âmbos se reconhecem como adversários ferrenhos.
Mas será que precisa ser assim? Minha circunspecção diz que nem sempre adversário é sinônimo de desafeto. Na verdade apenas representa a parte contrária em uma disputa, partida ou conflito. Por exemplo, quando se está em uma corrida, todos os outros competidores são seus adversários. Em uma partida de futebol é o time contra o qual se joga. No entanto, a condição de adversário encerra-se logo após o término de uma corrida ou de um jogo de futebol.
Se enxergamos tudo e a todos de forma negativa, rigidamente distinta, incorremos no mesmo erro dos favoráveis ao racismo, a homofobia, ao nazismo, ao preconceito desenfreado do homem sem vínculo espiritual com o Divino.
É extremamente negativo ver que algumas pessoas que só percebem seus erros os valorizam; é muito triste descobrir que milhões de homens e mulheres acreditarem que possa existir uma força contrária e desafiadora contra Deus; é inquestionavelmente pequeno a postura que muitos pseudo-políticos tomam em suas vidas públicas, encarando o colega como sendo seu adversário, principalmente se estes se utilizam de escritos sagrados para justificar suas convicções pessoais.
Temos muitos colegas que acreditam não merecer um sincero elogio pelo trabalho realizado ou quando recebe uma crítica que objetiva a construção coletiva por uma pedagogia mais humanizada.
Temos muitos homens públicos que não assumem responsabilidades perante suas decisões e colocam a culpa em outrem e, ao invés de promover uma melhoria da imagem política local, tão desgastada por disputas pessoais, perdem tempos preciosos com querelas e picuinhas que apenas abastecem o repertório de inutilidades.
Temos, ainda, uma mídia que alimenta rixas infrutíferas (como se houvessem rixas frutíferas) com pessoas que vivem do seu trabalho; que são coerentes com o que pregam e pensam; que não tem medo de errar e nem medo de ter seu passado execrado. Há, ainda, quem distribua aos quatro cantos ventos de maledicência.

Somos nossos maiores inimigos se assim pensamos, se assim agimos. É bom recordar sempre que o Universo, desde os micros-seres até os macro-cromos, é regido por uma ordem. E quando essa ordem é de alguma forma desrespeitada, somos nós que vamos responder. Não haverá um adversário para transferirmos a responsabilidade.
Tenhamos disso certeza absoluta.

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