Para refazer meu compromisso com a vida, abandono o rigor de um humanismo idolátrico.
Não idealizo as iniciativas ideológicas. Sei que toda instituição convive com o germe de sua própria inutilidade.
Também me prostro no altar do niilismo; descreio da capacidade humana de erguer-se pelos próprios cadarços.
Meu existencialismo é frágil, carregado de suspeita. Minha religião, cheia de decepção. Minha ideologia agoniza debaixo dos escombros da modernidade.
Para refazer meu compromisso com a vida, largo na beira da calçada as metas-narrativas. Desconfio dos projetos globais.
Incoerências entre discurso e prática me desesperam. A incapacidade de vertebrar o que acredito de coração me enoja.
Criei cismas. Rio por dentro; é meu jeito de sobreviver aos ufanismos que tanto me irritavam no passado.
Sei que preciso aniquilar os fantasmas que me deixaram com a sensação de ser um deus.
Para refazer meu compromisso com a vida, desisto de tentar levar a ferro e a fogo qualquer coisa.
Erros me fizeram bem. Boas ações me arruinaram. Amigos me entristeceram. Desconhecidos me acolheram.
Quando planejei, empaquei. Por outro lado, inesperadamente a vida deu certo sem planejamento.
Paguei um alto preço por ser indolente. Mas, incrível, quando deixei para o dia seguinte o que deveria fazer hoje, foi bom.
Para refazer meu compromisso com a vida, quero ser leve como a pluma que escapou da asa do cisne, denso como o ruço que cobre a madrugada, escuro como a tropical sem lua, e transparente como o mar do Mediterrâneo.
Hei de aprender a discursar. Almejo ser mais enfático, mas só em ternura; mais brando em afirmações. Pretendo rearrumar minha oratória.
Quero voltar a olhar para o nada, como as crianças; a entrecortar frases com longas pausas, como os monges.
Para refazer meu compromisso com a vida, espero envelhecer sem casmurrice.
Acolher as doidices dos jovens, lembrando de como as minhas faziam sentido.
Celebrar cada manhã como uma ressurreição.
Aguardar o pôr-do-sol como uma grávida anseia pelo primeiro choro do filho.
Plácido como um lago entre duas montanhas, espero encarar a morte.
E que reste nenhuma nesga de frustração em minha alma.
E que eu descanse no sábado final com um sorriso maroto, sorriso de quem foi embora dizendo: valeu viver.
Gondim.
Não idealizo as iniciativas ideológicas. Sei que toda instituição convive com o germe de sua própria inutilidade.
Também me prostro no altar do niilismo; descreio da capacidade humana de erguer-se pelos próprios cadarços.
Meu existencialismo é frágil, carregado de suspeita. Minha religião, cheia de decepção. Minha ideologia agoniza debaixo dos escombros da modernidade.
Para refazer meu compromisso com a vida, largo na beira da calçada as metas-narrativas. Desconfio dos projetos globais.
Incoerências entre discurso e prática me desesperam. A incapacidade de vertebrar o que acredito de coração me enoja.
Criei cismas. Rio por dentro; é meu jeito de sobreviver aos ufanismos que tanto me irritavam no passado.
Sei que preciso aniquilar os fantasmas que me deixaram com a sensação de ser um deus.
Para refazer meu compromisso com a vida, desisto de tentar levar a ferro e a fogo qualquer coisa.
Erros me fizeram bem. Boas ações me arruinaram. Amigos me entristeceram. Desconhecidos me acolheram.
Quando planejei, empaquei. Por outro lado, inesperadamente a vida deu certo sem planejamento.
Paguei um alto preço por ser indolente. Mas, incrível, quando deixei para o dia seguinte o que deveria fazer hoje, foi bom.
Para refazer meu compromisso com a vida, quero ser leve como a pluma que escapou da asa do cisne, denso como o ruço que cobre a madrugada, escuro como a tropical sem lua, e transparente como o mar do Mediterrâneo.
Hei de aprender a discursar. Almejo ser mais enfático, mas só em ternura; mais brando em afirmações. Pretendo rearrumar minha oratória.
Quero voltar a olhar para o nada, como as crianças; a entrecortar frases com longas pausas, como os monges.
Para refazer meu compromisso com a vida, espero envelhecer sem casmurrice.
Acolher as doidices dos jovens, lembrando de como as minhas faziam sentido.
Celebrar cada manhã como uma ressurreição.
Aguardar o pôr-do-sol como uma grávida anseia pelo primeiro choro do filho.
Plácido como um lago entre duas montanhas, espero encarar a morte.
E que reste nenhuma nesga de frustração em minha alma.
E que eu descanse no sábado final com um sorriso maroto, sorriso de quem foi embora dizendo: valeu viver.
Gondim.
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