terça-feira, 17 de agosto de 2010

PARTIU O ÚLTIMO PREFEITO ELEITO DO SÉCULO XX




Muitas são as heranças atávicas que nós carregamos ao longo das nossas existências, de pais para filhos, de gerações em gerações. Mas uma delas nos perturba infinitamente: a morte. Esta força antagônica da vida exprime um terrível final de tudo que é belo, feliz, único, vivo.

O poeta Fernando Pessoa nos deixou reflexões importantes com relação à morte, ampliando o sentido deste fenômeno existencial. Senão vejamos:

Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à ausência de vida e isso é um erro. Existem outros tipos de morte e precisamos morrer todo dia. A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação. Não existe planta sem a morte da semente, não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma, não existe borboleta sem a morte da lagarta, isso é óbvio! A morte nada mais é do que o ponto de partida para o início de algo novo. É a fronteira entre o passado e o futuro.



No que se refere à morte de um ente querido, não existem palavras que acalentem a um coração de um pai que perde uma filha, de uma mãe que perde um filho, de um filho que perde a mãe, de uma filha que perde o pai…

Hoje, acompanhei a dor da amiga querida Viviane Salgado que perdeu seu pai, vencido por uma metástase. Gravatá perdeu mais um filho: Silas Salgado. Vereador por vários mandatos e o último prefeito eleito do século passado. Pai, patrão, amigo, companheiro e um ser humano tranqüilo. Hoje, 17 de agosto, as bandeiras estão a meio pau e a Câmara de Vereadores recebe o corpo de um homem que viveu 66 anos entregue ao ato de ser amado por muitos ou de ser odiado por alguns, numa sina assumida por todos os homens públicos e políticos.

Há 17 de agosto também morreu o meu poeta preferido Carlos Drummond de Andrade. Parafraseando um dos seus poemas transformados em canção, eu me pergunto: E Agora José? A festa acabou, a luz apagou… Silas Salgado, ironicamente, resolve partir num momento em que tantas perguntas ficam no ar pairando sobre o futuro da sua cidade.

Há 17 de agosto, Pernambuco, na localidade onde hoje é o bairro de Casa Forte, travou batalha contra os holandeses sem muitas baixas sob o comando do Antônio Dias Cardoso. Silas Salgado, após anos de batalha contra um inimigo implacável, tomba perante sua própria luta e registra, neste dia, uma página ferida na história de Gravatá.

Chico Buarque disse que chegar aos 60 anos não tinha graça nenhuma. Devo dizer que morrer aos 66 anos, vencido por um câncer, não tem a menor graça mesmo. No entanto, assim como todas as velas do mundo, todos nós temos uma quantidade de combustível para queimar. Uns mais, outros menos. Uns de forma equilibrada, outros acelerando o processo. Mas, fatalmente, diremos adeus.

Mas um adeus que para a eternidade, para quem acredita e para quem não acredita na imortalidade da alma, é um até breve! Oportunamente, quando minha avó desencarnou, eu escrevi um poema intitulado “Os que partem, ficam”. Neste poema eu declaro que nós somos pó na estrada da evolução, mas que um dia, no mundo real, seremos nebulosa condensada em branco de paz e azul do infinito, em vermelho de amor, em amarelo de luz…

Vai, Silas Salgado, encontra o teu destino porque estes que aqui ficaram, em breve te encontrarão.

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