terça-feira, 10 de agosto de 2010

PAU QUE NASCE TORTO, MORRE TORTO? CÉREBRO QUE NASCE DURO, MORRE DURO?


A união entre o budismo e a neurociência comprova que o pensamento pode mudar o cérebro. Sob o patrocínio do Instituto Mente e Vida fundado pelo Dalai Lama, importantes estudiosos do budismo e das tradições científicas ocidentais debatem uma questão que há séculos intriga filósofos e cientistas:

O cérebro tem capacidade de mudar?

E qual é o poder da mente para mudá-lo?

Por muito tempo a neurociência sustentou que o cérebro assumiria sua forma para a vida inteira durante a infância, e depois disso não mudaria mais sua estrutura. Afinal de contas, uma das suposições básicas da neurociência era a de que os processos mentais derivam da atividade cerebral: o cérebro cria e molda a mente, e não o contrário.

Os pesquisadores consideravam que mudanças em grande escala — como expandir a região responsável por uma função mental em particular ou alterar a rede que conecta uma região a outra — seriam impossíveis de ser alcançadas. Já os budistas sempre tiveram a consciência de que o cérebro pode ser modificado por meio de treinamento. E, nos últimos anos, essa crença tem sido confirmada por pesquisas: cientistas comprovaram que o treinamento mental praticado pelos budistas realmente pode mudar o cérebro — há provas de que o órgão se adapta ou se expande em resposta a padrões de atividade mental sistemática.

Segundo o Dalai Lama, chegou-se a um divisor de águas, “uma interseção onde o budismo e a ciência moderna se tornam mutuamente enriquecedores, com um enorme potencial prático para o bem-estar humano”. Treine a Mente, Mude o Cérebro relata as novas descobertas da ciência sobre a mutabilidade ou plasticidade do cérebro e revela de que maneira as pessoas podem alterar a estrutura desse órgão para vencer a depressão, curar feridas emocionais, tratar problemas de aprendizado ou mesmo psicológicos, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

A revolução no entendimento da capacidade de transformação do cérebro durante a vida adulta não contempla apenas o fato de que o cérebro pode mudar. Igualmente revolucionária é a descoberta de como o cérebro muda: determinadas ações podem literalmente expandir ou contrair diferentes regiões do cérebro, derramar mais fluidos em circuitos silenciosos e reduzir a irrigação em outros mais barulhentos.

O órgão oferece mais área cortical a funções que seu dono usa mais freqüentemente, e encolhe o espaço destinado a atividades raramente desempenhadas: “Como a areia de uma praia, o cérebro guarda as pegadas das decisões que são tomadas, das capacidades desenvolvidas, das ações tomadas”, acredita Sharon Begley.


Em Treine a Mente, Mude o Cérebro, a autora, uma das principais jornalistas científicas do mundo, discute a relação entre a neuroplasticidade — ou seja, a capacidade do cérebro de mudar suas estruturas e funções de maneira fundamental — e o budismo. De todos os conceitos da neurociência moderna, a neuroplasticidade é o que tem o maior potencial de interação significativa com o budismo. Sharon Begley afirma no livro:


“Nos últimos anos do século XX, alguns neurocientistas iconoclastas desafiaram o paradigma de que o cérebro adulto não muda e fizeram descobertas e mais descobertas de que, ao contrário, ele mantém um impressionante poder de neuroplasticidade. O cérebro pode, de fato, ter seus circuitos alterados. Pode expandir a área conectada para mexer os dedos, formando novas conexões para sustentar a destreza de um exímio violinista. Pode ativar fios condutores há muito tempo inativos e passar novos cabos, como um eletricista que reforma o sistema elétrico de uma velha casa, de modo que regiões que antes viam possam, em vez disso, sentir ou ouvir.

Em resumo, o cérebro adulto mantém grande parte da plasticidade do cérebro em desenvolvimento, inclusive o poder de consertar regiões danificadas, de criar novos neurônios, de rearranjar regiões que antes desempenhavam determinada função para assumirem uma nova tarefa, de mudar os circuitos que tecem neurônios para a rede que nos permite lembrar, perceber, sofrer, pensar, imaginar e sonhar. Sim, o cérebro de uma criança é incrivelmente maleável. Mas, diferentemente do que diziam a maioria dos neurocientistas, o cérebro pode mudar sua estrutura física e suas conexões durante a vida adulta.”



Há mais de dez anos, o Dalai Lama abre sua casa em Dharamsala para “diálogos” de uma semana com um grupo selecionado de cientistas, para discutir sonhos, emoções, consciência, genética ou física quântica.


Esse encontro — chamado de Conferência Mente e Vida — aconteceu pela primeira vez em 1987 e desde então ocorre uma vez por ano. Para escrever Treine a Mente, Mude o Cérebro, Sharon Begley fez uma análise profunda sobre o que foi dito na Conferência Mente e Vida de 2004. O resultado é uma avaliação completa sobre o mundo da neuroplasticidade, uma das revoluções científicas mais estimulantes da atualidade.

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