quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DUAS TEORIAS QUE PRECISAM SER ESTUDADAS

No estudo a respeito da influência que a mídia exerce no pensamento do cidadão, há duas teorias que investigam a respeito: A “agenda setting” e a “espiral do silêncio”.
A mídia ao selecionar determinados temas a serem veiculados, por outro lado apaga os demais temas que não entraram na pauta de informação daquele dia. Um assunto que é noticiado com determinada força no ambiente macro-social acaba colocando no esquecimento outros assuntos não veiculados, mesmo sendo de grande importância para a sociedade.





O termo “agenda setting” significa pauta de fixação, uma forma de direcionar a atenção que os leitores e telespectador de uma reportagem seguirão, ou seja, a mídia aponta quais os temas serão considerados de interesse coletivo.
Segundo Walter Lippmann, o conhecimento que as pessoas têm do mundo exterior é formado pela seleção midiática de símbolos presentes no mundo real, criando uma relação entre a agenda midiática e agenda pública.

A “agenda setting” segue fatores condicionados à mensagem e recepção, considerando a necessidade de orientação do público sobre determinado assunto. No quesito mensagem, a análise mais forte está nas manchetes políticas, pois a mídia aponta e interfere na formação da opinião pública a respeito da luta do poder.
Neste caso a mídia utiliza como artifícios a dramatização dos acontecimentos nela noticiados, personalização do conteúdo na matéria, e a apropriação de dinâmica nos acontecimentos para acelerar o entendimento do receptor da mensagem.



A TEORIA DA ESPIRAL DO SILÊNCIO


A teoria da “espiral do silêncio” inicia quando há o medo do isolamento social por parte do indivíduos, fazendo o indivíduo se sentir isolado caso discorde da opinião pública dominante imposta pelos veículos de comunicação. O silêncio das opiniões minoritárias, ou colocadas como minoritárias, tende a se tornar cada vez mais isolantes à medida que a opinião geral toma mais força através da mídia.

O conceito da Teoria da Espiral do Silêncio surgiu pela primeira vez em 1972, no 20º Congresso Internacional de Psicologia, em Tóquio. Nesse congresso, vários intelectuais participaram com papers, artigos, debates e diversas mesas.

Uma das participantes foi a pesquisadora alemã Noelle-Neuman que apresentou o paper Return to the concept of powerful mass media. Studies of broadcasting 9. No entanto, veio a público somente nos Estados Unidos em 1984, doze anos depois da primeira apresentação, em forma de livro e intitulado Espiral do Silêncio.

Para Noelle-Neuman, as pessoas tendem a esconder opiniões contrárias à ideologia majoritária (que ajuda a manter o status quo) e dificulta na mudança de hábitos, porque o pensamento é hegemônico e linear, baseado no senso da maioria. Seria o senso comum?

A opção pelo silêncio, diz a pesquisadora alemã, é causada pelo medo da solidão social, que se propaga em espiral e, algumas vezes, pode até esconder desejos de mudança presentes na maioria silenciosa. Esses desejos são sufocados pela espiral do silêncio, pois que os indivíduos são influenciados pelo que os outros dizem como também pelo que imaginam que eles poderiam dizer.

Cada vez que alguém se vê com opinião contrária do grupo em questão, com medo de não ser receptivo, prefere o silêncio à solidão. É um livro* que precisa ser lido, interpretado e discutido pela maioria dos discentes, principalmente pelo estudante de jornalismo.

A mudança, diz Noelle-Neuman, só ocorre se houver um sentimento de que ela já é dominante, mas isso demora muito a acontecer, pois que depende da mídia. Observe o que a autora diz sobre essa questão:


O resultado é um processo em espiral que incita os indivíduos a perceber as mudanças de opinião e a segui-las até que uma opinião se estabelece como atitude prevalecente, enquanto as outras opiniões são rejeitadas ou evitadas por todos, à exceção dos duros de espírito. Propus o termo espiral do silêncio para descrever este mecanismo psicológico.


A mídia privilegia as opiniões dominantes consolidando-as e ajudando-a, dessa forma, a calar as minorias (na verdade, maiorias) isoladas. Aqui, a teoria da espiral do silêncio aproxima-se da teoria dos definidores primários, pois ambas as teorias defendem que a tal prioridade é causada pela facilidade de acesso de uma minoria privilegiada (fontes institucionais) aos veículos de informação, afirma Noelle-Neuman.

Nesse sentido, a maioria silenciosa não se expressa e nem é ouvida pela mídia, o que leva à conclusão, diz Noelle-Neuman, de que o conceito de opinião pública é totalmente distorcido.

A Teoria da Espiral do Silêncio defende que os indivíduos buscam a integração social por meio da observação da opinião dos outros e procuram se expressar dentro dos parâmetros da maioria para evitar o isolamento.
Para Felipe Pena (2006)**, um exemplo típico de espiral do silêncio encontra-se no período de eleições: os candidatos que estão à frente tendem a receber mais votos, pois a maioria entende que se ele está à frente é porque deve ter preferência da maioria e, portanto, deve ser bom e merece ser eleito.

Outro exemplo que o autor cita refere-se à convivência em bairros, muitas vezes, os indivíduos não se manifestam com reclamações com medo do isolamento.


A Teoria do Espiral do Silêncio trabalha com três mecanismos condicionantes, que juntos influenciam a mídia sobre o público, que não chega a ser tão absoluta como na teoria hipodérmica, mas é decisiva para consolidar os valores da classe dominante e formar a percepção da realidade.

Os mecanismos são:

1) Acumulação: excesso de exposição de determinados temas na mídia;
2) Consonância: forma semelhante como as notícias são produzidas e veiculadas;
3) Ubiquidade: presença da mídia em todos os lugares.

NOTAS:


*NOELLE-NEUMAN, E. La Espiral do Silencio: opinião pública. Barcelona: Paidós, 1995.


**PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2006.

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