sábado, 30 de outubro de 2010

A TERRA EM CONVULSÃO




Por Lucivânio Jatobá
Publicado no Diário de Pernambuco, 30 de outubro de 2010.



"O ano de 2010 não será esquecido facilmente. Pelo menos para os haitianos e os chilenos. Às 16h53, na terça-feira, 12 de janeiro, um violento terremoto, que atingiu a magnitude 7,0 (Escala Richter) quase destruiu por completo a capital haitiana, Porto Príncipe. Aproximadamente 200 mil pessoas perderam a vida. Às 3h34, no sábado, 27 de fevereiro, outro violentíssimo sismo, com magnitude de 8,8(!), sacode as terras chilenas, sobretudo a cidade de Concepción. Neste caso, mesmo com essa intensidade fantástica, o terremoto deixou um saldo bem menor de vítimas fatais (menos de 1000 pessoas).



Por que a superfície terrestre, vez por outra, treme como uma geleia num prato, quando movimentado? Por que nem todas as áreas da crosta terrestre sofrem abalos sísmicos?


Os grandes abalos sísmicos ou terremotos são movimentos repentinos verificados na crosta terrestre que ocorrem ao longo de uma estrutura geológica falhada. É essa ruptura do terreno que ocasiona esses intensos abalos, em face da liberação de uma expressiva quantidade de energia acumulada. A liberação se propaga como ondas elásticas pela superfície do planeta, em todas as direções. A camada interna mais superficial da Terra (a Litosfera), quando submetida a esforços compressivos ou mesmo de tração, acumula deformações e, portanto, energia. Quando as rochas atingem o limite de resistência a esses esforços, rompem-se e a liberação da energia é imediata. O terremoto se faz sentir com maior ou menor intensidade, então.


A Litosfera encontra-se dividida em diversos blocos rochosos, denominados placas litosféricas. Essas se encontram em permanente movimento. Há placas litosféricas que colidem contra as outras. Existem placas litosféricas que se afastam das outras em decorrência de esforços de tração descomunais. E ainda há placas litosféricas que "raspam" horizontalmente as outras. Nesses três casos configuram-se os terremotos. No caso do terremoto do Haiti, o sismo se verificou no limite norte entre as placas litosféricas do Caribe e da Norte-Americana, a cerca de 25 km de Porto Príncipe, capital do país, exatamente numa falha geológica. As duas placas atritam-se,nesta área, horizontalmente. Já o megaterremoto chileno se deu numa área em que duas placas litosféricas colidem: a placa de Nazca e a placa Sul-americana. Estas duas placas convergem a uma velocidade de 8cm por ano, aproximadamente, definindo uma zona de contato denominada "subducção".


As áreas que estão muito afastadas das zonas de contato entre placas litosféricas são mais calmas e livres, quase sempre, de gigantescos sismos. Mas não são, de todo, imunes aos abalos do terreno. O Brasil sofre, por exemplo, poucos abalos sísmicos por se encontrar praticamente no centro de uma placa litosférica, a Sul-americana. No entanto, episodicamente, os brasileiros são surpreendidos com notícias que dão conta de "tremores de terra" em Caruaru, São Caetano (PE), João Câmara (RN), Acre, São Paulo etc. São abalos geneticamente distintos dos que arrasaram o Haiti , e que só muito raramente provocam danos materiais mais significativos. Geram apenas um intenso medo nas pessoas e a desagradável sensação de instabilidade.


Lucivânio Jabotá, professor de Geomorfologia do Curso de Ciências Ambientais da UFPE e autor do livro Introdução à Geomorfologia.

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