quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Eu, Intelectual Versus Serra e Seus Intelectuais

Perguntaram-me se o Serra está sendo apoiado por algum intelectual. Na mesma hora me veio em mente uma resposta e uma pergunta. Inquieto na arte de sempre provocar e ser provocado pelo bom combate, quero dizer que a resposta já está aqui, no meu blog. Primeiro que eu sou brasileiro e que eu sou um intelectual. Segundo que citei alguns nomes de intelectuais que declararam voto a Serra, numa matéria que postei no último dia 27.

Mas a pergunta… Eu fiquei pensando... pensando..:

- Meu Deus, o que é mesmo ser um intelectual Brasileiro?


Para mim, intelectual é aquele que produz, que provoca e que dissemina o pensamento. Nas minhas leituras, descobri que existem, no Brasil, em especial, dois tipos de intelectuais: “orgânico” e o “tradicional. No original, o orgânico é quem, “em sintonia com a emergência de uma classe social determinante no modo de produção econômico, procura dar coesão e consciência a essa classe, também nos planos político e social”. E o tradicional é “aquele que se conserva relativamente autônomo”.


Esse conceito me recordo de ter visto nas minhas aulas de metodologia, nos tempos de faculdade, lá pros idos de 1990. Putz? Faz 20 anos que deixei a faculdade? Quanto tempo! Mas, como então saber quem é de fato orgânico ou intelectual nos nossos círculos de convivência? Quem eram os intelectuais que me inspiraram na época da minha Graduação em Geografia? Esforcei-me pouco para lembrar-me de nomes que aprendi a admirar na minha vida acadêmica e a posterior.

O fato é que, nessa época, eu imaginava que estudar em uma universidade era algo importante. De cumprir algum papel na sociedade. Reconstruir o saber pensado para um futuro aberto. Ou então, discutir idéias para manifestações sociais e fazer valer transformações. Quem sabe, rupturas, coalizões. Sei lá. Ser encarregado de uma missão sublime e enaltecedora.

Quando circulava de um bloco para o outro, atrás do professor para me explicar porque eu não poderia visitar um terreiro de macumba para minha pesquisa de Filosofia da Religião Brasileira, batia meu ombro com diversos ombros que carregavam seres pensantes, os quais estavam “possuídos por um dom” racional e menos óbvio. Eram carregados por uma indignação profunda sobre o papel da Educação, assim como eu. - Nós seremos mais - eu pensava.

Visão romântica, meu Deus! Pura ilusão. Nem eu e nem aqueles sujeitos éramos intelectuais.

Nos meus dias atuais, eu ainda encontro pseudo-intelectuais que adoram desbravar-se diante do óbvio, nas explicações sobre os movimentos populares, as dinâmicas político-partidárias e os tendenciosos meios de comunicação. Estes sujeitos nunca tentaram limpar a sua janela para descobrir que não é janela do outro que está suja pela poeira da história. São primários porque nunca buscaram entender conceitos como “Agenda Setting”, por exemplo.

É isso mesmo, meus amigos! Ainda estamos interpretando as coisas como no tempo de escola, em que o professor fala e as “ovelhas” repetem tudo o que esta sendo passado. E me parece que essa “supremacia-truista” os torna superiores diante da turma e faz estufar os peitos e dizer:

- Sou “intelectual”, mesmo que timidamente, mas sou. E tenho e quero meu lugar no "hall" da inoportuna instância militante!


Vi muitos colegas, ditos “intelectuais”, vibrarem com uma miséria de uma nota 7.1 na cadeira de Estatística. Meu Deus!.. esses caras eram chamados de intelectos porque possuíam seu próprio carro, usavam roupa de grife, fumavam e bebiam todas as noites com as moças mais bonitas, costumavam citar Chico Buarque (que está com Dilma), Cantarolar uma frase mais rebelde da Legião Urbana (que não apoiaria Dilma, jamais) ou simplesmente ovacionar a presença de um professor mais pop da turma, e mesmo assim se contentavam com a média do curso.

Bom, pelo menos eles conquistaram médias. Outros, sequer concluiram seu curso superior e arrotam conhecimento científico...


Bem, voltando a questão do Intelectual Orgânico e Intelectual Tradicional:

Os pesquisadores estão certos. Quando não são valorizados, devem imigrar. Mudar essa situação deve ser projeto de políticas públicas. Um intelectual precisa ser orgânico, não tem saída. Ele se põe a serviço de um projeto, que deve ser nacional, mesmo que tenha contribuição estrangeira. Mas ele pode, também, ser autônomo para saber dizer não a todo tipo de valor contrário a sua ética e sua moral.

Ultimamente se fala muito em aumento da massa crítica da produção de pensamento e resultados nos institutos brasileiros de pesquisa. Gostaria de saber o que há de vantagem para o Brasil nisso, porque, em contrapartida, há exemplos claros de intelectuais que estão a mercê da espiral do silêncio, proposta por Elisabeth Noelle-Neumann, que estudou vastamente o fenômeno da demoscopia, já citada numa matéria abaixo.

Nestes últimos dias tenho recebido diversos emails provocativos, sempre questionando o meu posicionamento em relação ao segundo turno. Me pergunto o que foi que eu fiz ou o que eu ando fazendo de errado pra receber tanta menção honrosa?! É a tal espiral do silêncio, ora! – disse minha consciência intelectual.

Se eu abro uma página de internet, vejo a miséria filosófica, especialmente entre jornalistas. Os leitores também produzem pensamentos dosconfortantes e têm agora condições de veicular seus pensamentos através de sites de relacionamentos buscando a cooptação hipócrita do próprio interesse ou do interesse próprio, não sei.



Então, se me perguntam onde estão os intelectuais que apóiam Serra, contemporizo. Afinal, cabe a nós destacar as conquistas principalmente de intelectuais não expressivos como eu e mais expressivos como Tony Bellotto e que não estejam envolvidos nos esquemas mesquinhos de ascensão social, como aconteceu debaixo das minhas vistas quando vi de perto professoras ganharam um mimo em troca do silêncio e abraçarem coronéis em seus velhos casacos buscando conquistar palácios republicanos de luxo, vestidos como príncipes.

Devemos ficar em oposição à cooptação reinante, por mais notória e poderosa que seja. A falta de presença maciça de intelectuais responsáveis na superfície das mídias e da indústria cultural faz com que todos regridam à idade da pedra.

Entrar nessa roda viva implica também o desmascaramento dos pseudo-intelectuais, os que se comparam a Goethe e posam de estátua. Devemos agir para erradicar a distorção que a palavra intelectual atingiu entre nós.

Como muitos intelectuais entraram na disputa pelo poder temporal, ou simplesmente se omitiram, deixando a nação à mercê da bandidagem, a palavra intelectual virou nome feio, xingamento entre nós, sendo ele de direita - se é que existe direita no Brasil -, seja ele de esquerda - essa daí, não existe mesmo.

Isso tem de mudar, com ou sem Serra!

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